Na véspera da definição da campanha salarial, a presidente do Sindicato dos Servidores Municipais (Sindiserv) de Caxias do Sul, Silvana Piroli, prefere evitar críticas à administração do prefeito Daniel Guerra (PRB). Silvana comenta sobre os desafios do sindicato no atual momento da política, avalia o governo Guerra e projeta as eleições gerais.
Confira a entrevista.
Pioneiro: Quais os desafios do Sindiserv no momento atual?
Silvana Piroli: Nossos desafios são os mesmos de todas as entidades sindicais, se manter e manter a luta e a resistência contra retirada de direitos. Depois do golpe e com a PEC da morte que congelou os recursos da saúde, da educação, combinado com a Reforma Trabalhista e com a tentativa de Reforma da Previdência nos coloca numa situação de resistência aos ataques aos direitos dos trabalhadores, e os servidores públicos não estão fora desse contexto. A resistência também se dá no sentido da manutenção das entidades sindicais. É uma tentativa de enfraquecimento das entidades e o Sindiserv como outras entidades está na luta permanente para resistir e garantir os direitos dos trabalhadores e também garantir os serviços públicos.
De que forma o Sindiserv está agindo após o fim do imposto sindical?
Realizamos uma assembleia e definimos coletivamente que era importante a contribuição sindical, mas tem uma discussão jurídica e acabou não sendo cobrada. Consideramos importante manter os sindicatos organizados como uma ferramenta de luta. Estamos trabalhando para garantir que tenhamos recursos para a luta. Estamos fazendo campanha de sócios e discutindo outras alternativas. Para fazer frente à defesa dos interesses dos trabalhadores é necessário organizações fortes. Os sindicatos hoje são as organizações que melhor podem ter condições de defender os direitos dos trabalhadores. Enfraquecer os sindicatos faz parte da estratégia daqueles que querem atacar os direitos dos trabalhadores. Alguns dizem que os sindicatos não são mais importantes nas negociações coletivas, mas é inimaginável que individualmente cada trabalhador procure o seu patrão para negociar o salário ou melhores condições de trabalho. O trabalhador está em uma condição subalterna ao empregador.
Quais são as principais demandas dos servidores municipais?
O servidor público não tem dissídio coletivo. É uma reivindicação antiga e para isso é necessário que o governo aprove a convenção que fala do acordo coletivo de trabalho. Estamos em campanha salarial e temos um conjunto de itens na pauta (de negociações), entre elas a manutenção da trimestralidade que garante o repasse da média da inflação. No dia 11 (de julho) vamos ter assembleia para analisar a resposta que administração vai nos encaminhar, mas estamos pedindo reajuste de 1,5% acima da inflação. A administração tem dito que não tem condições, embora tenha um comprometimento da folha de pagamento de pessoal até 2017 de 45.87%. No primeiro trimestre a relação entre a receita e a despesa ficou em 44%, então consideramos que é possível. Temos outras questões como as condições de trabalho, a Lei 409 (que trata da isonomia salarial), que devemos continuar (a negociação) a partir de agosto. A categoria vai analisar (a proposta), fazer uma contraproposta e tirar as formas de mobilização.
A senhora dirigiu o sindicato em duas oportunidades. Qual a diferença em negociar com o ex-prefeito Mansueto Serafini e com o atual Daniel Guerra?
Fui presidente no período em que foi fundado o sindicato. Estávamos num período de ascensão de direitos e ao mesmo tempo num período de inflação alta, de descontrole econômico. Passamos por um período de democracia e de construção de um conjunto de políticas públicas. Agora estamos vendo um processo de golpe, de cerceamento das liberdades e de destruição de direitos. O momento histórico é mais de resistência, de lutar por um país decente, por um país soberano. Não dá para comparar são momentos históricos diferentes, são perfis e visões diferentes. Os servidores têm que estarem permanentemente mobilizados para buscarem seus interesses, independente desse ou daquele prefeito. Os prefeitos são escolhidos pela população para desempenhar um programa, em alguns momentos suas posições são mais conflituosas com a visão dos servidores, em outros momentos são menos.
Como vê as tentativas de gestão compartilhada dos serviços de pronto-atendimento?
Somos contra a parceria-público privada de gestão da saúde. Consideramos que essa é uma forma de terceirização. O sindicato e o Executivo têm opiniões diferentes. Somos contrários porque consideramos que a gestão compartilhada é uma forma de passar a terceiros a responsabilidade que é do serviço público. Por mais que a administração diga que a terceirização tem participação na gestão, a maior participação é com os recursos e não discute a política pública, que deve ser permanente e gerida por servidores concursados por que respeita a impessoalidade, tem uma continuidade no serviço público, tem uma memória do trabalho com erros e acertos e tem o atendimento permanente para população.
Como avalia o governo Daniel Guerra?
O sindicato sempre se dispôs a dialogar e continua buscando o diálogo. O sindicato não é nem a favor e nem contra a este ou aquele governo, ele (sindicato) é a favor a defesa do serviço público de qualidade, dos servidores e deve atuar nesta defesa. Não devemos ter receio de reivindicar, de se organizar, de protestar e dialogar para garantir esses direitos no sentido de avançar nas nossas reivindicações. No momento difícil que o país passa precisamos de muito diálogo porque Caxias merece muito mais do que está acontecendo. Precisamos de uma articulação da prefeitura com a sociedade. O servidor é o primeiro a sentir a reclamação quando alguma coisa não anda.
Como projeta as eleições desse ano?
Espero que a gente tenha eleições livres. Que a gente possa discutir projetos e que a população possa ter a liberdade de definir os rumos do país. A gente vive um momento muito crítico onde o cerceamento de qualquer liberdade na apresentação de candidatos e projetos políticos não será bom para o país. É preciso que coloquem as diferentes propostas e que se possa fazer um processo democrático de eleições. A nossa luta agora é em defesa da democracia.
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