
Os primeiros dias após o desaparecimento da menina Naiara Gomes, de sete anos, foram marcados pelo choque, pela revolta e pela inquietação da comunidade que acompanhava o caso de perto. Mais de uma semana após o sumiço da criança, porém, o sentimento inicial aos poucos dá lugar a uma reflexão triste: "como puderam deixar isso acontecer?", cobra uma pergunta central.
O questionamento se repete em pensamentos, conversas privadas e no inconsciente coletivo exposto nas redes sociais. "Naiara desapareceu, ninguém a viu", escreveu a operadora de cobrança Angelita Conte no Facebook. "Todos a conheciam de vista, mas ninguém a via de fato", lamentou a designer Lu Vicenzi.
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Neste momento, realmente, é difícil resistir a tentação de apontar dedos e tentar encontrar um culpado. A responsabilização de alguém deixaria tudo mais fácil de digerir. No entanto, é preciso reconhecer: ninguém é exclusivamente culpado do sumiço da menina _ exceto um possível sequestrador, se a investigação revelar que ela foi raptada _ mas toda a sociedade tem uma parcela de culpa.
— Todos foram responsáveis pelo que aconteceu. Desde a família, o município, até a comunidade, que sempre viu essa menina sozinha e nunca informou nada — lamenta Marjorie Sasset, coordenadora do Conselho Tutelar da Macrorregião Sul de Caxias, serviço com atuação na comunidade de Naiara.
Numa sociedade reconhecidamente violenta, marcada por demonstrações frequentes de barbárie, a rede de proteção à criança demonstrou ter furos inaceitáveis. Falhamos com Naiara, e só percebemos isso por causa do extremo da situação.
— Esse é um questionamento que também fizemos, porque ninguém informou, não denunciou? Tinha um homem em em um mercado que disse que via ela várias vezes andando na rua... Um pai, que estava perto da escola com outras crianças, viu ela sozinha também. Então, várias pessoas foram omissas para que isso acontecesse — pondera a conselheira tutelar.
É difícil explicar por qual razão as pessoas adotam esse comportamento. Talvez a falta de confiança no falido estado de direito brasileiro desmotive denúncias. Provavelmente, também, as prioridades individualistas próprias da sociedade contemporânea favoreçam o olhar para si antes dos outros. O "não é problema meu", a liberdade individual prevalece em detrimento do bem estar coletivo, do âmbito pessoal à esfera pública.
De qualquer forma, enquanto seguem as buscas por Naiara, tantas outras crianças seguem desacompanhadas, passando fome e violentadas perante a nossa indiferença. Que o desaparecimento da menina deixe, pelo menos, mais difícil que situações semelhantes se repitam.
Como Ajudar
Ao sair de casa, na última sexta-feira, Naiara vestia camiseta rosa com desenho de uma boneca, blusão rosa com branco e calça rosa. Ela carregava uma mochila nas cores rosa e roxo. A menina é magra e tem cerca de 1m20cm de altura. O cabelo é escuro e está cortado na altura dos ombros.
Quem tiver informações consistentes que possam ajudar a polícia, deve ligar para o 190, da Brigada Militar, para o 197, da Polícia Civil, para o (54) 3238-7700, da Central de Polícia (24 horas) ou (54) 3214 2014, da DPCA, em horário comercial.