No final da tarde desta quarta-feira (31), o Pioneiro conseguiu falar com a família que ocupou um apartamento no último domingo (28), em Flores da Cunha. Depois da reintegração de posse na tarde desta quarta, eles permaneciam no Residencial Flores da Cunha, no bairro União, incertos quanto ao futuro. Tanto Simone Leiria Carvalho, 24, quanto o marido, o montador Marcos dos Santos Ribeiro, 21, têm parentes em blocos do condomínio.
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De acordo com Simone, o casal não conseguiu um apartamento próprio na época em que os outros moradores do local foram transferidos de uma área invadida pelo programa Minha Casa Minha Vida porque não eram casados e moravam com os pais. No entanto, consolidada a união e com três filhos pequenos — Luiz, oito anos, Arthur, dois, e Kiara, um mês — eles passaram a solicitar uma moradia à prefeitura.
— Nós entramos (no apartamento) porque tínhamos certeza de que seria nosso. Falávamos na prefeitura, com o Ricardo (Espindola Silva, Secretário da Habitação do município) e ele nos dizia que o apartamento era 99% nosso — defende.
A família sustenta a versão de que o apartamento estaria abandonado desde 2016, tendo como prova o corte do abastecimento de energia elétrica realizado em novembro daquele ano e confirmado pela prefeitura de Flores da Cunha. Questionado, o proprietário do imóvel, Juares Gomes, disse que solicitou o corte apenas na última segunda-feira (29), em decorrência da invasão.
Simone diz que tomou a decisão de ocupar o imóvel vazio pelo desespero após lutar mais de um ano por moradia, sem resposta.
— Nós estávamos morando em oito, na casa do meu sogro. Cinco em um quartinho. Nós falamos com o secretário (da Habitação) na sexta (26), de que se não tivéssemos uma resposta íamos entrar. Ele disse, "vocês é que sabem" — lembra.
O secretário Ricardo Espindola confirmou que foi procurado diversas vezes pela família, mas garante que nunca soube que Simone pretendia invadir o apartamento.
— Foi mencionado que havia apartamentos da Caixa (Econômica Federal) que estavam em processo de ser retomados, e eles tinham interesse em ocupar isso. Mas nunca foi prometido um apartamento em específico. Há uma fila para pessoas interessadas nos programas de habitação — defende.
Os beneficiários do Minha Casa Minha Vida são impedidos de vender ou alugar os apartamentos e devem habitar o imóvel pelo período de 10 anos. Os proprietários receberam os imóveis quitados e têm de pagar o valor do condomínio e IPTU. Em novembro de 2017 e em janeiro deste ano, a equipe da Assistência Social da prefeitura de Flores da Cunha esteve no imóvel à procura dos proprietários do apartamento ocupado, mas não os localizou.
Juares Gomes afirma que nos últimos meses esteve trabalhando em Vacaria e retornava ao local apenas fins de semana, mas garante que a esposa e o filho vivem no apartamento. Desde novembro de 2017, porém, o filho do casal estava matriculado em uma escola em Vacaria.
Pelo menos quatro moradores, no entanto, defendem a versão da família que ocupou o imóvel e dizem que ninguém vivia no apartamento.
— O Marcos (dos Santos Ribeiro, que ocupou o apartamento com a esposa e os filhos) é trabalhador. A esposa dele ia toda a semana na prefeitura e o secretário (da Habitação) disse que ia dar uma resposta na sexta, mas saiu de férias. Ninguém é bandido como está sendo colocado — declara a vizinha Carmencita Gomez, 60, aposentada.
Simone Carvalho também diz estar indignada com o tratamento dado à família durante a exposição do caso:
— Ela (a proprietária) falou que tínhamos ameaçado eles, mas ela nem veio aqui. Nenhum deles apareceu aqui, há mais de um ano. As câmeras de monitoramento comprovam. Um ano morando fora é sinal de que não precisam (do apartamento) — destaca.
Agora, a família está acampada na vaga de garagem do apartamento da mãe de Simone e espera uma solução por parte do poder público. Na tarde desta quarta, eles foram notificados do processo aberto pelos proprietários do apartamento pela invasão e têm 15 dias para encaminhar uma defesa.