Nas aulas do Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd), desenvolvido pela Brigada Militar (BM) em escolas de Caxias do Sul, o Wyslley e o João Mateus, aprenderam a dizer não ao cigarro e às drogas, que praticar bullying com os colegas não é legal e que o bacana mesmo é ser um bom cidadão. Mais do que isso, descobriram que existe um mundo cheio de possibilidades que vai muito além da realidade das comunidades em que vivem. Assim como eles, outras nove crianças da turma do 4º ano da Escola Estadual de Ensino Fundamental João Magalhães, na área central, fizeram, ontem, os últimos preparativos para a formatura do Proerd que ocorre hoje à noite. Entusiasmados, os alunos ensaiaram a música tema do programa que irão cantar na solenidade.
– É bom para ensinar a não usar drogas, não fumar, não brigar com os colegas, nem chamar os outros de nome feio – disse João Mateus dos Santos, 11 anos.
O colega de turma de João, Wyslley Samuel Santos Silva, 13 anos, tem os ensinamentos que recebeu na ponta da língua:
– Eu aprendi sobre droga, a não fumar, bom cidadão, bullying, conflitos.
A esperança da diretora da escola, Carla Varta Perguer, e da instrutora, a policial militar Silvia Costa Fernandes, é que, as lições aprendidas nas aulas da "pro Silvia", as crianças levem para a vida inteira.
– Eu tive um aluno, em outra escola, que disse que o pai dele adorava o que a gente fazia, porque ele era traficante e não queria que o filho seguisse o mesmo caminho. É muito gratificante quando vemos todo o processo de mudança deles – contou a PM.
A escola tem, atualmente, 86 alunos, de 1º ao 4º ano. A maior parte deles é de famílias que vivem em situação de vulnerabilidade social no complexo Jardelino Ramos, que inclui os bairros Primeiro de Maio e comunidades conhecidas como Antena, Burgo e Buraco Quente. São locais considerados pelos órgãos de segurança como áreas conflagradas onde predomina o tráfico de drogas ilícitas. Lugares onde sobram problemas sociais e falta a presença do Estado. E onde, de forma geral, a BM não é bem-vinda.
Por meio do Proerd, a BM encontrou uma forma de entrar nessas comunidades e plantar sementes para formar uma nova geração que cresça autoconfiante, entendendo que tem uma escolha e pode ter um futuro melhor distante da criminalidade e de violências com as quais as crianças acabam convivendo ou dentro das próprias casas ou nas de parentes e vizinhos. Foi no Primeiro de Maio que um confronto com policiais militares deixou quatro mortos no dia ... e de lá, que a polícia acredita que tenha partido uma ação de represália que incendiou um ônibus e deixou três caxienses feridos.
– Eles (alunos) tinham uma visão que a Brigada era punitiva. No mundo deles, a Brigada destrói o que eles têm, que são coisas conseguidas em função de ações que não são corretas. O Proerd mostra que a Brigada não vem para fazer mal para a comunidade ou só para prender. Que vem para se unir, para fazer esse trabalho de base. Hoje, eles (alunos) têm carinho pela Silvia e pela Brigada – relatou a diretora.
Para instrutora Silva, o projeto deu tão certo que até mesmo os pais que têm envolvimento com o tráfico passaram a apoiar a iniciativa porque desejam que os filhos tenham uma vida diferente da que eles levam.
– Geralmente, nos vêem como repressores. A intenção é tentar mostrar que somos amigos deles. Que não precisam ter medo. Quem dera pudéssemos fazer isso com mais crianças – pondera Silvia.
No segundo semestre deste ano, sete intrutores deram aulas para 26 turmas do Proerd que se formam hoje. A cerimônia será no Colégio São José, na Rua Os Dezoito do Forte, 1870, no Centro, às 19h30min. Serão diplomados 642 crianças entre 5 e 15 anos que participaram das atividades do programa nas escolas onde estudam nas comunidades de Nossa Senhora das Graças, São Pelegrino, Madureira, Universitário, Nossa Senhora de Lourdes, Cinquentenário e Kaiser.