Dois dias após a tempestade que devastou bairros inteiros em São Francisco de Paula, Pedro da Silva Diogo, 61 anos, se recupera dos ferimentos provocados pelos escombros que caíram sobre o seu corpo e o deixaram soterrado por cerca de duas horas. Ainda internado no hospital da cidade, o serrador recorda de quase tudo da fatídica manhã de domingo. Com a voz ainda fraca e a fala pausada, conta que escapou da morte iminente por fé e solidariedade daqueles que não desistiram de encontrá-lo.
Morador do loteamento Santa Isabel, localidade arrasada pelos ventos de mais de 100 quilômetros por hora, Diogo estava sozinho na casa em que mora na Rua Afonso Pena no momento da tragédia. Diante do barulho da ventania que anunciava o temporal, ajoelhou-se ao lado da cama para rezar. Foi nesta posição que o serrador foi arrancado do chão junto com o piso do quarto, indo parar em um terreno a cerca de 50 metros da própria casa, com uma tábua de madeira a pressionar suas costelas e dificultando a respiração.
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– Como sou evangélico, na hora da ventania dobrei os joelhos e comecei a rezar. Foi tudo muito rápido, ao mesmo tempo que caia tudo por cima de mim, eu sentia que estava deslizando. Era o chão do quarto deslizando morro abaixo e indo parar dois terrenos adiantes. Fiquei consciente, mas mal conseguia respirar. Pedia socorro, mas ninguém me ouvia, porque era muita gente passando. Foi um irmão da igreja que me viu e chamou os bombeiros – conta Pedro, que é pai de três filhas e um filho já falecido.
Uma das filhas, Maricler Diogo, 30, conta que ninguém conseguia encontrar seu pai no meio do amontoado de madeiras e tijolos que havia se transformado a sua moradia. Ao olhar mais longe, um amigo da família reparou que um sofá recém adquirido para a casa estava no terreno vizinho. Correu até o móvel, onde encontraram toda a mobília do quarto e também o morador, já quase sem forças para pedir socorro.
– Ele estava todo molhado e com hipotermia. Não ia aguentar muito tempo – recorda Maricler.
Pedro foi encaminhado ao HPS de Canoas, de onde teve alta com uma luxação no ombro direito. Por estar com muitas dores no corpo e alguns cortes na cabeça, a equipe do hospital de São Francisco de Paula optou por mantê-lo internado, com previsão de alta até o fim da semana.
Agradecido a Deus por estar vivo, o serrador lamenta a perda do amigo e colega de trabalho Claudemir Freitas, 23, única vítima fatal da tempestade. Quer agora reencontrar o amigo que o avistou e os bombeiros que o resgataram:
– Eu achei que seria o meu fim. Se não fosse o chão do meu quarto ter sido arrancado, a parede de material ia ter caído em cima de mim e me matado. Primeiro foi Deus, depois aqueles que me socorreram.
Além de Pedro Diogo, permanecem internados no hospital em São Chico outros dois feridos de domingo: Willian Faistauer, 13, e Terezinha Gonçalves, 43. Ambos tiveram cortes profundos na cabeça, mas se recuperam bem.