O apelo de comunidades do interior de Caxias do Sul, que têm convivido com frequentes assaltos a residência e furtos de gado, provocou uma alteração na estratégia de policiamento do 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM). Desde a semana passada, um grupo de PMs se dedica exclusivamente aos distritos e às localidades mais afastadas. É uma tentativa de barrar novos ataques e abranger áreas que estavam desassistidas.
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A Brigada Militar (BM) não divulgou quantos crimes com reféns ou contra o patrimônio ocorreram em propriedades rurais nos últimos tempos, mas o tamanho dessa insegurança foi revelado pelas próprias vítimas numa reunião entre o comando do 12º BPM e o Sindicato dos Trabalhadores e Agricultores Familiares de Caxias do Sul, semana passada.
Homens e mulheres tiveram a oportunidade de relatar o pavor vivenciado dentro de casa em poder de bandidos e os prejuízos causados por arrombamentos e furtos de animais. São delitos que vêm sendo registrados há meses, caso de uma sequência de assaltos a residência com 18 reféns na localidade de Carapiaí, em Fazenda Souza, em abril do ano passado. Exemplo recente foi a invasão de mascarados no Seminário da Ordem dos Cônegos Regulares Lateranenses, em Santa Lúcia do Piaí, no último sábado: padres e noviços ficaram sob a mira de armas, enquanto os assaltantes reviraram o local em busca de um cofre que nunca existiu no seminário.
As vítimas reunidas no sindicato pediram providências, como a volta da Patrulha Rural, e um posto policial em Fazenda Souza. Uma unidade fixa da BM já está descartada pela corporação, que prefere ver os PMs em circulação do que parados numa sala. Como o 12º BPM está com efetivo reduzido, a saída foi fazer com que os servidores do policiamento comunitário deixassem de apoiar ações na área urbana de Caxias do Sul.
Com isso, eles não saem mais dos distritos e podem percorrer com frequência as estradas do interior e ouvir os moradores. Os policiais também receberam orientação para traçar ações conjuntas entre equipes de diferentes localidades pelo menos uma vez por semana, o que consiste em montar barreiras para abordagem motoristas e motociclistas, por exemplo.
– Vamos ter um foco também no turno da noite. O que mais está pegando é o roubo a residência, mas tem também o abigeato. Repassamos orientações aos moradores para se prevenir, como acionar a polícia – ressalta o comandante do 12º BPM, major Jorge Emerson Ribas.
SAIBA MAIS
– Não haverá reforço de equipes que atuam na área urbana de Caxias do Sul. Segundo o major Ribas, quem vai monitorar as dezenas de quilômetros de estradas e as longas extensões de propriedades e as sedes de distritos são brigadianos que já atuam no Policiamento Comunitário das localidades, mas que antes precisavam trocar a jornada no meio rural pelas ruas da cidade.
– Fazenda Souza: conta com dois policiais militares. Um deles reside na comunidade e outro mora na área urbana de Caxias do Sul. Além de Fazenda Souza, eles atenderão Vila Oliva e Santa Lúcia do Piaí.
– Vila Seca: conta com dois PMs residentes, que vão estender o trabalho também para Criúva e Parada Cristal.
– Vila Cristina: tem três PMs residentes, que também ficarão responsáveis por Galópolis e comunidades próximas.
– Forqueta: com quatro PMs, terá dedicação exclusiva da equipe em breve. Ainda não está definida a data, mas eles poderão atuar nas localidades próximas como Loreto e Conceição da Linha Feijó.
Fazenda Souza fará coberturas
Um dos líderes comunitários de Fazenda Souza, Sandro Fantinel, sugeriu a construção de pequenas coberturas com telha de barro para abrigar PMs e viaturas na área central da comunidade, o que é visto com bons olhos pelo 12º BPM.
– Queríamos um posto policial, o que não dá. Mas a presença dos policiais vez em quando num local específico, mesmo que por algum tempo, já serve para mostrar aos criminosos que nossa região está mais policiada – ressalta Fantinel.
A ideia das coberturas será levada para lideranças de Vila Oliva e Santa Lúcia do Piaí.Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Agricultores Familiares de Caxias do Sul, Rudimar Menegotto, os últimos assaltos serviram de alerta.
– É nítido que o interior está ficando muito perigoso. Temos vários registros de roubos com reféns, moradores agredidos pelos criminosos. Precisamos de um policiamento que gire por todas as regiões – pede.
Para Menegotto, mais policiais vão inibir criminosos:
– Sabemos da falta de efetivo e outros problemas que a BM enfrenta, mas precisamos do apoio para que as famílias não sofram com esses bandidos.