Só pensar em coisas boas e não fazer uma inimizade sequer. São esses os dois principais ingredientes da receita da caxiense Doceliria Lorandi para chegar hoje aos 100 anos com saúde e bom humor de dar inveja. A filha Suzana Lorandi, 58, que vive junto com a Vó Doce, como a idosa é carinhosamente chamada, acrescenta outro item indispensável. Confidencia que a mãe só acorda ao meio dia e não dorme antes da meia noite, enquanto os olhos aguentarem estar fixados na televisão, normalmente em uma partida de futebol. Recentemente, quando a Seleção Brasileira enfrentou o Peru em jogo que começou a 00h15min, ela assistiu até o final. É fã de carteirinha de Tite e Neymar.
Nascida no distrito de Criúva, onde viveu até os 40 anos, Vó Doce morou por uma década em São Marcos, até que a família fixasse residência em Caxias. Hoje ela mora no bairro Colina Sorriso com Suzana, a caçula de seus seis filhos e herdeira da máquina de costurar que foi instrumento de trabalho da Vó Doce por sessenta anos.
– Depois que aposentei a máquina, passei a fazer só trabalhos manuais, que são minhas distrações até hoje. Faço crochê, caça-palavras e todos os dias fico umas três horas em cima dos livros de colorir. Quando estão prontos, dou de presente para os meus netos – conta.
Outra paixão cotidiana é o baralho. Com direito a uma corneta para cima de Suzana, companheira de jogo.
– Gosto mais de jogar pife. Porque a canastra demora muito e eu gosto de ganhar ligeiro. Sempre deixo ela pra trás – brinca.
Mais do que a disposição e o prazer que sente em viver, o que mais impressiona a quem conhece Vó Doce é a saúde impecável. Sem restrições alimentares, toma um único remédio contínuo, para controlar a pressão. Tem uma bengala, mas pouco usa. Prefere a "bengala humana", como brinca com a filha caçula, que a acompanhada nas caminhadas diárias ao redor da casa. Com frequência, faz doações a entidades de auxílio a pessoas carentes e visita asilos para oferecer companhias a idosos que são até duas décadas mais jovens que ela.
– Eu sou velha, mas não me sinto velha. Não sinto muita diferença de quando tinha 14 anos, talvez a única seja que hoje tenho mais saudades.
Para comemorar os 100 anos, a família e amigos estarão reunidos no sábado no restaurante Don Claudino. Vó Doce quer que cada um dos mais de cem convidados saia da festa com um pouco da felicidade que ela tem para oferecer. Só tem um pedido, que pede para reforçar de antemão: não a tirem para dançar, porque ela não gosta.