Gramado foi uma das cidades mais afetadas pelas tragédias climáticas que atingiram o Rio Grande do Sul entre 2023 e 2024. Em novembro do ano passado, duas mortes foram registradas na cidade. Neste sábado (23), completa um ano que o condomínio Condado Ana Carolina, localizado em uma encosta na Rua Ladeira das Azaléias, no bairro Planalto, desabou. O local havia sido evacuado dias antes por instabilidade do solo, e ninguém se feriu no fato. Agora, a prefeitura busca recursos para recuperar a região.
Segundo a administração municipal, o condomínio estava interditado pela Defesa Civil por problemas estruturais anteriores à tragédia de novembro. Ainda no ano passado foi iniciado um estudo geológico, finalizado no primeiro semestre de 2024.
Em nota encaminhada à reportagem, o Executivo informa que há um projeto elaborado para recuperação da Ladeira das Azaléias, que deverá ter um novo traçado, no valor de cerca de R$ 14 milhões. Para isso, recursos estão sendo pleiteados junto ao governo federal que, no fim de outubro, anunciou o repasse de R$ 19 milhões. Por outro lado, a prefeitura frisa que, para a construção de novas edificações, “os empreendedores deverão realizar novos estudos geotécnicos para avaliação da área”.
Segundo informado pela prefeitura ainda no ano passado, o condomínio foi construído pela Prática Construções e Incorporações. O poder público diz que não foram realizadas reuniões com responsáveis técnicos, incorporadores ou construtores do prédio. A reportagem tentou contato com a empresa, no entanto, não recebeu retorno até a publicação desta reportagem.
A reportagem do Pioneiro entrou em contato com o Ministério Público de Gramado que, por meio do promotor de justiça Max Guazelli, informou que não há ação judicial referente ao prédio. Conforme ele, eventuais ilegalidades estariam prescritas.
— Tenho uma ação civil pública de 2017 referente a diferentes áreas de risco de deslizamento em Gramado. O município de Gramado, junto com o Serviço Geológico do Brasil (SGB), fez na época o mapeamento de cerca de 10 áreas de risco de deslizamento na cidade. Aquela área onde caiu o prédio não estava mapeada pelo SGB — informa o promotor.
Conforme o executivo, foram realizadas reuniões tanto com moradores do prédio como proprietários de outros imóveis localizados próximos a área.
Sobre o residencial
O Residencial Condado Ana Carolina foi construído em uma encosta na Rua Ladeira das Azaléias, numa área total de 3,4 mil metros quadrados em cinco pavimentos e 19 unidades. O condomínio fica no bairro Planalto e acima do bairro Três Pinheiros.
Em apresentações disponibilizadas em sites de imobiliárias, a vista do residencial era um dos pontos mais elogiados, sendo caracterizada como "linda" e "deslumbrante". Outros pontos mencionados para atrair compradores eram a distância de cerca de cinco minutos do centro de Gramado e o "charme e conforto" do condomínio com "estilo europeu".
Ainda conforme uma das apresentações, direcionadas a corretores e datada como de 2009, havia opções de apartamentos com um, dois e três dormitórios. O material acrescenta que os moradores teriam à disposição duas ou três vagas de garagem coberta, lareira e opção de vidros com isolamento. Os imóveis variavam de 91 metros quadrados a 160 metros quadrados.
Nova tragédia em maio
Em maio de 2024 a cidade de Gramado voltou a ser afetada por uma tragédia climática. Dados da prefeitura indicam que cerca de duas mil pessoas precisaram sair de casa durante o mês. Ao todo, sete pessoas morreram, vítimas de deslizamentos de terra.
O bairro Piratini concentrou os maiores danos causados pela chuva. A Rua Henrique Bertolucci se tornou um símbolo dos estragos em Gramado. O grande volume de água acabou infiltrado no solo, causando movimentações de terra, queda de postes, fissuras no asfalto e danos em casas. As famílias que residiam no local foram retiradas pela prefeitura.
Em julho, a administração anunciou que 33 casas seriam demolidas. No final de agosto, os trabalhos de demolição começaram. As residências foram desapropriadas e as famílias ressarcidas. Ainda, a administração contratou um estudo para indicar as obras de contenção necessárias no bairro Piratini.
Atualmente, o bairro foi limpo e a Rua Henrique Bertolucci está parcialmente interditada. A análise das áreas comprometidas continua em andamento. Ainda, a administração está realizando obras de drenagem do Loteamento Orlandi, no bairro Várzea Grande, outra área em que fissuras surgiram no solo. Os trabalhos devem ser finalizados até dezembro.