O que uma cidade que foi destruída duas vezes por enchentes precisa para se tornar resiliente? Foi essa pergunta que o trio de alunos do Centro Tecnológico da Universidade de Caxias do Sul (Cetec) Felipe Tomasi Caliendo, Helena Wartha Bolzon e Manoela Cobalchini da Costa buscou responder com um estudo desenvolvido na escola e que está em análise na Assembleia Legislativa do RS.
Tendo Muçum, no Vale do Taquari, como foco, os estudantes se debruçaram por um ano sobre as limitações e necessidades do município. A análise do trio contemplou diversos aspectos da cidade, como o sistema de prevenção, controle dos episódios de cheia do Rio Taquari e ações de mitigação.
— Pensamos em estudar Muçum depois da enchente de setembro do ano passado. A gente queria entender o que eles já tinham feito a respeito e o que precisavam melhorar. Depois que as tragédias aconteceram, a gente queria saber o a cidade estava se propondo a fazer desde 2023 — explica Helena.
A análise do trio indicou as vulnerabilidades no sistema de prevenção da cidade, que podem ser solucionadas com ações sugeridas pelos alunos. Inspirados no Plano Diretor de Porto Alegre, Felipe, Helena e Manoela propuseram a criação de uma secretaria municipal para o manejo de recursos hídricos e adoção de um sistema sonoro de alerta.
— O estudo foi dividido entre diagnóstico, prognóstico e medidas de contenção. De forma simples, avaliamos o problema, suas causas e efeitos, e apresentamos as medidas de contenção. Em relação à criação de uma secretaria, ela é necessária para a manutenção, pesquisa e o direcionamento de profissionais capacitados — detalha Felipe.
Procurado, o prefeito de Muçum, Mateus Trojan, informou que tomou conhecimento do projeto desenvolvido pelos estudantes caxienses e aguarda o encaminhamento do mesmo para a prefeitura de Muçum.
Impacto em até 91 cidades gaúchas
No mês passado que Felipe, Helena e Manoela foram convidados para apresentar o projeto para a Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul.
Na oportunidade, os estudantes levaram aos deputados uma minuta criada por eles, com base no estudo desenvolvido no Cetec. A ação é considerada inédita na escola por ser o primeiro estudo que os alunos buscam uma aplicação prática.
O texto prevê que todas as cidades com menos de 20 mil habitantes, pertencentes à região da bacia hidrográfica Taquari-Antas, adotem o plano de drenagem. Cerca de 91 cidades gaúchas mapeadas pelos alunos se enquadram nesse perfil.
Entre as ações previstas no projeto estão:
- criação de um setor específico dentro das prefeituras para tratar da prevenção de enchentes;
- ações de diagnóstico da drenagem urbana;
- identificação de pontos críticos;
- propostas de intervenções nas cidades, tais como galerias pluviais;
- monitoramento constante da infraestrutura de drenagem;
- criação de planos de contingências para eventos climáticos;
- e relatórios anuais sobre a eficácia das medidas implementadas.
À reportagem, a assessoria do deputado estadual Pepe Vargas, integrante da comissão, informou que o estudo dos alunos versa sobre ações desenvolvidas pelo governo federal, governo estadual e por prefeituras municipais.
Dessa forma, o projeto foi encaminhado para o governo federal, para as secretarias Estaduais de Planejamento e do Meio Ambiente, bem como a prefeitura de Muçum e para a Universidade do Vale do Taquari (Univates), responsável por elaborar os estudos sobre as enchentes nas cidades do Vale do Taquari.
Enquanto isso, os estudantes anseiam que o projeto possa ser implementado, ao menos, em Muçum.
— Durante o estudo, pensamos que até os Planos Diretores das cidades possam incorporar essas medidas. Esperamos que a prefeitura veja o projeto e analise ele. Também tem a análise da Univates, que está direcionando pesquisas sobre as enchentes. Estamos na expectativa — comenta Helena.