O ano de 2024 será o último para os moradores dos 63 apartamentos ocupados do Edifício Parque do Sol, na região central de Caxias do Sul, dizerem que habitam o prédio mais alto do Estado.
Previsto para ser inaugurado em 2025, o Edifício Chardonnay, em Passo Fundo, já superou em 15 metros o ícone caxiense, encerrou a construção estrutural com 140 metros e tem 31 dos 34 apartamentos já vendidos. Os valores partem de R$ 3,5 milhões.
No entanto, e durante os quase 50 anos em que manteve o status de ser o maior arranha-céu do RS, o Parque do Sol acumulou histórias que o diferenciam do seu antagonista do norte do Estado.
As curiosidades começam pela decisão dos proprietários em não permitir que um shopping fosse construído onde hoje está o sobretérreo, mas, sim, uma área comum. A escolha fez o edifício, exclusivamente residencial, ser até hoje muito bem servido, de acordo com o síndico José Paulo Soares, em termos de abastecimento de água e energia.
— Temos ainda o mesmo gerador daquela época. Seria um segundo prédio, de três andares, com entrada pela Rua Dr. Montaury com escada rolante e tudo, mas se optou por não construir e a infraestrutura ficou — diz Soares.
Idealizado para ter 60 apartamentos, dois por andar e com vista leste-oeste, o condomínio transformou ao longo do tempo outros três espaços comuns em unidades. No primeiro andar, o ainda chamado PG (playground), e, na metade do edifício o SC (salão comunitário que incluía uma capela), foram transformados em duas residências idênticas às demais.
— Andares a gente diz que são 30, mas na verdade são 40 pavimentos contando as duas garagens. Há ainda o pavimento da casa de máquinas, caixas d'água e, no topo, onde estava planejado um heliponto que não se concretizou, está então o pavimento número 40 — explica o síndico.
Lá no topo o panorama permite que a vista alcance cidades vizinhas. Ao Sul, a Região das Hortênsias, e a Oeste, Farroupilha. Do alto do edifício, um folclore pôde ser desmistificado por Soares, morador do 17º andar.
— Não balança — garante.
Segundo ele, um estudo feito por estudantes de Engenharia da Universidade de Caxias do Sul (UCS) instalou um pêndulo que ia do topo à base. Por um ano o equipamento registrou oscilação máxima de cinco centímetros, o que, para ele, é insignificante:
— O morador diz que balança porque entra vento pelas janelas antigas e balança o lustre dele. Três fileiras com 11 colunas sustentam o prédio, é um exagero. Outro mito é de que os apartamentos de baixo são maiores, mas é uma ilusão de ótica criada pelas cortinas de concreto das laterais, que começam mais largas e afinam no topo.
Apaixonados pelo prédio
Até que o Edifício Chardonnay não fique pronto, o Parque do Sol seguirá sendo o prédio habitado mais alto do Estado. O raciocínio é de quem pretende aproveitar até o fim o título daquele que virou cartão postal da cidade.
— São todos apaixonados pelo prédio — disse o porteiro Rui Marques, que há 22 anos trabalha nele.
E de fato são. A primeira moradora, Julieta Maria Stumpf De Zorzi, 75, esperou sete anos para se casar até que o apartamento, comprado na planta e onde mora até hoje, pudesse receber a mudança:
— Esperei até ficar em condições de vir morar, não tinha elevadores prontos, meus móveis subiram todos de escada. O elevador mais antigo subia e descia por corda, para descer gritava lá de cima para que o porteiro puxasse o elevador de carga e me buscasse no oitavo andar. As garagens eram todas nossas, botava o carro cada dia em uma. Eu amo morar aqui, criei meus três filhos aqui. A gente sabe que tudo muda, as construções vão avançando e o pessoal quer mostrar que consegue.
Lá do alto, no penúltimo andar e em cerca de 240 metros quadrados, mora o advogado e empresário Reny Guerra, 81, considerado pelos vizinhos como o morador mais elegante do Parque do Sol. De chapéu, gravata e bengala, diz ter sentido carinho pelo local onde viria a morar ainda na primeira visita ao imóvel, no início da década de 1980:
— Cheguei lá em cima e pensei: “vou vir pra cá”. Meus filhos e netos todos moram fora do país e, mesmo conhecendo o mundo todo, quando vêm, adoram. Convivo muito bem com as pessoas aqui.
Quem intitulou Reny como o mais elegante do prédio foi a psicóloga Angela Casanova, mãe do judoca e medalhista paralímpico Marcelo Casanova. No entardecer, Ângela diz não saber para onde olhar, se para o sol se pondo ou para o reflexo nos prédios da Rua Alfredo Chaves. A mudança para o 22º andar ocorreu em 2000 e por desejo do marido:
— Ele disse que só sairia de onde morávamos para se mudar para o Parque do Sol. Um dia passei aqui e pedi se tinha apartamento à venda. Vejo as luzes de Gramado à noite, Farroupilha se vê toda e Bento Gonçalves lá no fundo, o pôr do sol é uma loucura. Sentimos algo de épico aqui, de há 50 anos, fazer em Caxias do Sul um prédio desse tamanho — diz.