Uma ponte feita de ferro e madeira construída por voluntários em 10 meses no final dos anos 1960 tem sido, após a chuva de maio, a principal alternativa de ligação entre a Região das Hortênsias e a maior cidade da Serra.
Desde que a estrutura sobre o Rio Caí na BR-116 foi danificada pela enchente de maio, a Ponte do Bananal, entre Vale Real e Feliz, se tornou fundamental para a logística de acesso entre Caxias do Sul, Nova Petrópolis, Gramado e Canela.
Dos quatro homens que a construíram em 1968, apenas um está vivo e se recorda com detalhes do período em que a ponte foi idealizada e construída para, na época, ser passagem apenas de automóveis e até carros de boi. Armanos João Graebin tinha 25 anos em 1968. Era soldador e proprietário de uma mecânica de maquinário agrícola e "dessas coisas que o colono precisa". Lembra de ter sido convocado para o trabalho sem a promessa de remuneração, que aliás, nunca veio:
— O Estado exigia um estudo para financiar e não deu R$ 1. Não existia um projeto, o desenho saiu da cabeça do pessoal que trabalhava com a agricultura e quem pagou o material foi a prefeitura de Feliz.
Com mais de 70 metros de distância entre uma margem e outra, a ponte foi idealizada, segundo Graebin, com 32 postes e em um período de estiagem que permitia os trabalhos dentro do rio. Os ferros trazidos de uma antiga ferrovia foram concretados na rocha em uma profundidade que faz o hoje aposentado confiar muito na ponte:
— Estão 75 centímetros para dentro da rocha. A prefeitura de Nova Petrópolis colocou as máquinas e desviou o curso da pouca água que passava e a cada três postes revíamos o plano e desviávamos o rio conforme precisava.
A baixa altura da ponte que leva o nome do bairro de Feliz e que teve as peças soldadas por Graebin faz com que ela facilmente seja submersa pelo rio. Mas ela se mantém em pé para o orgulho do aposentado que vê atualmente a estrutura ser utilizada por caminhões de grande porte.
— A cada vez que eu ia no bar depois de uma chuva forte me pediam se dessa vez ela iria junto com o rio, e eu dizia que não. Ela não vai embora, pode escrever — diz.
Madeiras já foram trocadas
Depois da cheia histórica do Rio Caí, em maio, a ponte do Bananal, idealizada por Wilibaudo Freiberger, chegou a ficar 20 dias submersa. Sobrinho neto do idealizador, Fabrício Freiberger mantém uma olaria no lado de Feliz e acompanhou as trocas das madeiras, que ainda estralam quando os veículos passam, ao longo do tempo.
— É uma ponte baixa, mas com estrutura reforçada — resume.
As reformas, no entanto, não tiraram a assinatura de quem há 56 anos deixou sua marca em uma ligação que se tornou imprescindível para as comunidades de duas regiões tão importantes do Estado.
— No terceiro poste de lá pra cá tem uma mão francesa com o meu nome escrito com solda — revela Graebin.