O Dia Nacional de Combate ao Fumo é celebrado nesta quinta-feira (29). A data remete para um alerta sobre os malefícios do consumo de cigarros, cachimbos, charutos ou dispositivos eletrônicos para fumar. O pneumologista Marcelo Zanchetin faz um alerta sobre o aumento do consumo de dispositivos eletrônicos e cigarros convencionais pelos adolescentes em idade escolar e jovens adultos. Ele chama a atenção também sobre o equívoco de que o vape, como também chamado o cigarro eletrônico, auxilia a parar de fumar o cigarro convencional.
A data foi implantada por meio de lei em 1986, para promover o controle do tabagismo como um problema de saúde coletiva no país. Três anos depois, em 1989, foi criado o Programa Nacional de Controle do Tabagismo. À época, 34,8% da população acima de 18 anos se declarava fumante, conforme a Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição. Conforme as campanhas de conscientização foram sendo divulgadas, houve quedas. Segundo pesquisa do Instituto Nacional de Câncer (Inca), em 2023, 9,3% dos brasileiros se declararam fumantes. Apesar da redução, o Brasil ainda registra aproximadamente 160 mil mortes anuais que são atribuídas ao uso de tabaco.
O consumo de tabaco é relacionado a uma válvula de escape para estresse e sensações de prazer. Mas, segundo o Zanchetin, quanto mais rápida a sensação de bem-estar que o cigarro proporciona, é sinal que há maior a concentração de nicotina. O que gera maior facilidade de dependência. O profissional explica que os pacientes que têm 40 anos ou mais têm o hábito de fumar devido a uma época em que os efeitos nocivos do cigarro não eram amplamente divulgados. Já os jovens, apesar da divulgação, têm mais acesso ao produto. É comum nas idades entre 17 e 24 anos, segundo o médico, iniciar o consumo por imitação do comportamento do grupo social com o qual convive, como festas e momentos de lazer.
A última Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), divulgada pelo Ministério da Saúde, revelou que, em 2019, 16,8% dos escolares de 13 a 17 anos já haviam experimentado o cigarro eletrônico, sendo 13,6% na faixa etária de 13 a 15 anos e 22,7%, entre 16 e 17 anos. Quanto ao sexo, a experimentação é maior entre os homens (18,1%) do que entre as mulheres (14,6%).
O médico diz que há relatos de pessoas que acreditam e divulgam que o uso de vape ajuda na diminuição do consumo do cigarro. Porém, alerta que o dispositivo eletrônico e o cigarro convencional têm nicotina, substância que causa dependência, por isso, é equivocado acreditar que o dispositivo eletrônico ajuda a diminuir a dependência ao cigarro convencional. Além disso, a percepção clínica dos profissionais da área é de que, geralmente, o usuário não consome um ou outro, mas, sim, os dois tipos juntos.
— No Brasil, não existe regulamentação sobre o tipo de substância que está sendo consumido dentro do vape. Então, como pode conter produtos nocivos, no entendimento dos médicos, não justifica liberar algo que é nocivo (vapes) para tratar algo que é sabidamente nocivo (cigarros convencionais) — comenta o profissional.
O pneumologista destaca que a quantidade de líquido que é colocada num dispositivo eletrônico se equivale a uma carteira de cigarro — a comparação pela quantidade de carteiras vai variar conforme a quantidade de ml do líquido posto no vape, mas a concentração de nicotina é suficiente para tornar o usuário dependente, não importa a quantidade. Além disso, o vape pode ser recarregado, o que facilita o uso em diversos momentos do dia. Na análise do médico, o vape tem maior aceitação ao convívio social, pelo odor das essências colocadas dentro. Já o cigarro convencional costuma ter um odor forte e incomodar os que não consomem, gerando uma limitação no ambiente em que será consumido.
Desde 2009, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou resolução proibindo a comercialização, fabricação e publicidade desses aparelhos no Brasil. Em abril deste ano, a Anvisa endureceu ainda mais a regra, além de proibir a fabricação, a importação, a comercialização, a distribuição, o armazenamento, o transporte e a propaganda de dispositivos eletrônicos para fumar, reforça a proibição de seu uso em recintos coletivos fechados, públicos ou privados.
"Persistência é a palavra-chave"
O médico Marcelo Zanchetin afirma que o consumidor de tabaco, independentemente do tipo, tem consequências desde os primeiros dias. A primeira delas é a dependência da nicotina. Depois, segundo o especialista, tanto a fumaça do cigarro quanto o dispositivo eletrônico atacam inicialmente as vias respiratórias, pré-dispondo para doenças como bronquite, asma e infecções. Conforme o período de consumo da nicotina, há riscos de doenças cardiovasculares, aumento de pressão arterial e frequência cardíaca. Já a longo prazo, o fumante tem aumento na possibilidade de Acidente Vascular Cerebral (AVC), diversos tipos cânceres em locais como boca e esôfago, além de enfisema pulmonar e outras situações que pode resultar em morte súbita.
Para evitar esses agravos à saúde, a pessoa precisa parar de fumar. A decisão do usuário é o primeiro passo segundo o pneumologista. Por se tratar de uma dependência química, o tratamento só fará efeito se a pessoa decidir segui-lo.
— Pessoas com o hábito do tabagismo fazem mais de uma tentativa de tratamento, para ter êxito. Não é raro observar que a pessoa teve que passar por três, quatro a cinco tentativas de tratamento. Por isso, a chave do sucesso é a persistência, além de ter auxílio profissional e a ancoragem da família para entender que é uma doença, uma dependência — afirma Zanchetin.
O médico esclarece que na rede privada e na pública há tratamentos disponíveis para auxiliar no combate ao consumo. Os tratamentos envolvem formação de grupos de apoio, terapia de reposição de nicotina, onde é dada uma quantidade controlada para a pessoa em gomas de nicotina ou adesivos, com o objetivo da retirada gradual do cigarro e da nicotina. Existem algumas medicações orais controladas para conter a ansiedade. Ainda é indicado o acompanhamento de um psicólogo, terapeuta ocupacional ou outro profissional que o auxilie no tratamento psicológico.
Grupo antitabagismo no SUS
Em Caxias do Sul, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), as pessoas que desejam parar com a dependência devem procurar a unidade básica de saúde (UBSs) mais próxima. Na unidade haverá uma avaliação individual. Através da indicação médica e conforme a demanda são montados grupos de apoio. Em média, os grupos têm de oito a 15 integrantes. Em agosto, segundo dados divulgados pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), há 12 grupos atuantes. Entre janeiro e abril deste ano, 77 pessoas foram atendidas.
Por meio de nota, a enfermeira Fabíola Balardin, chefe da Equipe de Atenção à Saúde de Portadores de Doenças Crônicas e Populações Vulneráveis, explica que toda a atividade empregada ao usuário é com orientação do Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT).
"O tratamento faz parte de uma política nacional de combate ao tabagismo e oferece, por meio de grupos terapêuticos, a abordagem cognitivo-comportamental e, se necessário, também a depender das condições clínicas e grau de dependência, pode ser ofertado o tratamento medicamentoso", dizia parte do texto.
Durante os encontros, o integrante comenta sobre as estratégias que utiliza no dia a dia para tentar parar de fumar e experiências durante o uso. Segundo Fabíola, o usuário recebe materiais informativos e orientações que detalham quanto ao uso do tabaco e os malefícios, além de maneiras para controlar a vontade de fumar, como técnicas de respiração ou dicas de alimentação que podem suprir a vontade.
O material divulgado pela SMS informa alguns dos benefícios após parar de fumar:
- Após 20 minutos: a pressão sanguínea e a pulsação voltam ao normal.
- Após duas horas: não há mais nicotina circulando no sangue.
- Após oito horas: o nível de oxigênio no sangue é normalizado.
- Após 12 a 24 horas: os pulmões já funcionam melhor.
- Após 1 ano: o risco de infarto agudo do miocárdio é reduzido pela metade.
- Após 10 anos: o risco de infarto agudo do miocárdio é igual ao das pessoas que nunca fumaram.