O inverno começou oficialmente no Hemisfério Sul no dia 20 de junho, no entanto, as temperaturas despescaram mesmo no início de julho, em especial na Serra gaúcha. Com essa mudança brusca nas temperaturas, inclusive com marcas abaixo de zero, é comum que as pessoas mudem os hábitos e a rotina, e até deixem de lado os comportamento mais saudáveis.
O professor do curso de Educação Física da Universidade de Caxias do Sul, Guilherme Auler Brodt, doutor em Ciências do Movimento Humano, explica que é comum essa mudança de postura durante o inverno. Ele explica que, durante a prática de atividades físicas, uma série de reações químicas e processos metabólicos ocorrem no organismo, além de ações mecânicas que impulsionam essas atividades. Assim, quando o corpo e o ambiente externo estão frios, todas essas reações acabam piorando. O seja, não se trata de mera preguiça.
— Pensa que tu tens um exercício que costuma fazer, caminhar ou correr (por exemplo), isso vai ser muito mais difícil (com o frio), tu vais ter uma resistência maior para superar, porque vai ser muito mais difícil para tu fazeres o mesmo exercício que estava acostumado a fazer, fica mais complicado — explica o professor da UCS.
O professor também comenta que o aquecimento prévio é fundamental no inverno, uma vez que auxiliará a normalizar a temperatura corporal, prevenindo lesões musculares, por exemplo.
Já a nutricionista e especialista em comportamento alimentar Jordana Ribeiro destaca que no inverno as pessoas acabam buscando um conforto com comidas mais quentes e que, muitas vezes, esquecem que esse processo também pode ser saudável. Ela destaca que o contexto da Serra gaúcha, por exemplo, pode ser decisivo na mudança de rotina.
— Como temos um inverno muito rigoroso, acaba diminuindo até a vontade, na parte de comportamento, das pessoas continuarem fazendo refeições mais saudáveis, mais refrescantes, que são do verão. E no inverno é o caminho contrário, por ser rígido na nossa região e por realmente comidas mais palatáveis terem um conforto térmico, que encontramos muito na massa, nos cafés, em tudo isso conseguimos ter esse aconchego que o inverno as vezes pede — contextualiza Jordana.
A rotina de treinos no frio
Para o economista e nutricionista Fellipe Rech, 33 anos, os exercícios sempre fizeram parte da rotina. Há quatro anos é sócio de uma academia, e, há sete, de uma loja de suplementos.
Há mais de uma década faz musculação e, recentemente, voltou para as artes marciais com o jiu-jítsu. Rech considera o inverno como o melhor período do ano para praticar exercícios e também organizar as dietas, e a disciplina e constância lhe movem a continuar.
— No início eu até fazia o meu cutting (diminuição do peso perdendo o máximo possível de gordura corporal e o mínimo de massa muscular) no verão, aí eu tinha essa vontade de ficar mais condicionado no verão, que é o que mais a gente vê. Só que passou tanto tempo que venho fazendo que chega em um patamar que já não é mais pela parte estética — conta Rech.
A técnica em eletrônica Thais Paula Alves, 31, viu a sua vida mudar após alterar a rotina. Em 2019, após crises de ansiedade, ingressou na musculação e começou a fazer acompanhamento alimentar. O início das atividades foi justamente no inverno, época do ano em que ela não encontra problemas para se exercitar.
— Acordo, coloco minha roupa e vou (mesmo) com o frio, chego lá, faço meu aquecimento e alongamento e já me sinto bem melhor. A sensação depois de ter feito (exercícios) é ótima. E quanto à dieta, eu penso da mesma forma, a minha tem bastante variedade, posso trocar alimentos, não como sempre a mesma coisa — detalha Thais.
Dicas dos especialistas para o frio
O professor Guilherme Brodt explica que uma alternativa para evitar a desmotivação no inverno é iniciar a rotina de exercícios antes deste período. Além disso, acredita que esse deve ser um hábito que atravesse as quatro estações — inverno, primavera, verão e outono.
— O exercício tem que virar mais uma rotina, em que tu colocou aquilo na tua agenda como um dos teus compromissos, do que algo a mais no teu dia a dia. Tu tens que evitar marcar compromissos durante o horário do exercício, quanto mais rotina for no teu cotidiano, mais fácil vai ser de manter — pontua Brodt.
Já no ponto de vista alimentar, a nutricionista Jordana Ribeiro diz que no inverno as pessoas podem buscar compor uma refeição completa e que ao mesmo tempo traga o conforto térmico.
— Temos que pensar sempre em uma fonte de carboidrato, como as batatas, que são uma boa base de sopa (por exemplo), enriquece com verduras como o brócolis ou cenoura, e acrescenta proteína, como frango desfiado ou carne de panela, ou até mesmo ovos. Até mesmo o agnoline, que é algo muito regional, não é um problema, podemos complementar ele com um frango (por exemplo).
Para a especialista em comportamento alimentar, é fundamental encontrar o prazer na alimentação.