Nos primeiros dias do mês de julho, a temperatura na Serra gaúcha praticamente não atingiu os dois dígitos nos termômetros. E a sensação de mais frio foi percebida pelos moradores da região e se tornou assunto quase onipresente nas rodas de conversa dos moradores da região.
O meteorologista da Climatempo Guilherme Borges percebe que essa tendência de sensação mais gelada ao longo dos dias é bem verdadeira. Ele explica que o mês de julho tem apresentado dias de muita nebulosidade e umidade, além de uma massa de ar polar estar sobre o Rio Grande do Sul.
— A temperatura, entre a mínima e a máxima, não se eleva muito e continua bem reduzida ao longo do dia. A gente passa o dia com essa sensação de frio. E além disso, tem vento, que a região serrana tem intensificado. Embora fraco, ele favorece pra amplificar essa sensação de frio — explica Borges.
Outro ponto importante, de acordo com o meteorologista, é que as temperaturas do mês estão abaixo da média, que é de cerca de 7,8ºC. Para se ter uma ideia, em Caxias do Sul, na segunda (8), terça (9) e quarta-feira (10), por exemplo, a temperatura máxima não passou dos 7ºC. A mínima na segunda e na terça-feira ficou na casa dos 2ºC. Já na quarta, subiu, discretamente, para 5ºC. Na quinta-feira (11), a mínima foi de 7ºC e a máxima de 9ºC. Uma temperatura média de 5,8ºC na semana. Além disso, são nove dias sem sol até esta sexta-feira (12). O último dia de céu claro foi em 4 de julho.
Apesar da sensação de frio intenso, o meteorologista explica que a sensação térmica registrada na Serra não teve queda significativa. O cálculo é feito com a temperatura do momento e a intensidade do vento. Outro índice que também que é utilizado é a umidade.
— Se a gente tem temperaturas muito reduzidas e o vento mais intensificado, ele amplifica essa sensação de frio. Inclusive, a gente teve, nos últimos dias, temperaturas negativas. Então, temos essa sensação de frio e as temperaturas estão muito baixas — destaca.
Efeitos do frio na saúde
Do ponto de vista da saúde, a médica infectologista e professora do curso de Medicina da Universidade de Caxias do Sul Fernanda Marçolla Weber explica que o envelhecimento e doenças como o hipotireoidismo podem ocasionar uma sensação aumentada de frio, mas o motivo depende de cada caso.
Ela destaca que as pessoas possuem diferentes percepções do frio devido a diferenças dos sensores corporais, genética, sexo, taxa de gordura corporal, que funciona como isolante térmico, e também o contexto de vida, como é o caso de pessoas que moraram muito tempo em locais quentes e se mudam para regiões de temperatura mais baixa, como a Serra.
Com a diminuição das temperaturas, é preciso estar atento aos sinais do corpo. De acordo com a médica, o corpo humano possui a capacidade de fazer o controle da temperatura, apesar das mudanças climáticas.
— A manutenção da temperatura corporal é essencial para o bom funcionamento do nosso corpo. O frio aumenta o gasto energético e altera nossa resposta imunológica. Por isso, o corpo tende a buscar meios de estabilizar a temperatura, como através de tremores que geram calor, elevação dos pelos da pele, para formar uma camada de ar quente ao redor do corpo e diminuição do calibre da circulação nas extremidades, como nas mãos e pés, para manter os órgãos vitais aquecidos — afirma.
Por isso, é importante se agasalhar e não passar frio durante o inverno. Caso contrário, o corpo pode esgotar a capacidade de regulação da temperatura e pode evoluir para uma hipotermia.
— Nessas situações, o corpo vai apresentando sintomas como cansaço, alteração da frequência cardíaca, dificuldade de respirar e lentificação das reações. As consequências disso podem ser graves, podendo inclusive ocasionar morte, se por período prolongado — alerta Fernanda.
A médica ainda explica que o frio não causa nenhuma doença específica, apesar de, na estação, ser mais comum ver pessoas gripadas ou com problemas respiratórios.
— Tem a ver com a estação, mas não pelo frio em si. Seria porque as pessoas tendem a ficar em ambientes sem ventilação adequada e aglomeradas nesse período — afirma.
É importante estar atento aos sintomas gripais durante o frio. Fernanda destaca que, muitas vezes, as pessoas têm dificuldade de diferenciar o que é rinite, o que é resfriado e o que é um quadro gripal e subestimam os sintomas, expondo mais outras pessoas sob risco de contaminação.
— Por exemplo, eu posso ir num evento achando que eu estou com um quadro de rinite pela troca de temperatura, ou rinite alérgica. Quando, na realidade, eu já estou com um quadro de infecção viral. Pelo ambiente estar mais fechado, com mais aglomeração, eu acabo transmitindo com mais facilidade para as outras pessoas — finaliza a médica infectologista.