Em Caxias do Sul, 18 profissionais atendem atualmente pelo programa Mais Médicos, segundo o Ministério da Saúde. A iniciativa federal destina especialistas brasileiros e estrangeiros para municípios do interior e da periferia das cidades, onde há dificuldade de encontrar pessoas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2013, quando foi implantado, sete especialistas em Estratégia de Saúde da Família (ESG) atendiam na atenção primária no maior município da Serra. Se comparado com atualmente, 11 anos após a criação, houve um aumento de 157%. Mas o pico de contratados ocorreu em 2020, quando havia 24.
O Mais Médicos foi instituído pela ex-presidente Dilma Rousseff, por meio de um contrato assinado com Cuba, permitindo que profissionais estrangeiros recebessem uma certificação do Ministério de Saúde e atuassem no Brasil. Em 2018, o contrato entre os países acabou. Quando o ex-presidente Jair Bolsonaro assumiu, em 2019, ele criou o programa Médicos pelo Brasil, que tinha o mesmo objetivo, porém, com um edital e critérios diferentes. Somando os dois programas, os números aumentaram entre 2019 e 2022. No retorno do governo Lula, em 2023, voltou a priorizar-se o programa Mais Médicos.
Um dos profissionais que trabalha em Caxias do Sul é o cubano Leimainie Viel Busto, 40 anos. Ele atua na unidade básica de saúde (UBS) do bairro Mariani, entre idas e vindas, desde 2020, mas começou no programa em 2014. Viel morou em Boa Vista, em Roraima, e na pandemia mudou-se para a Serra gaúcha, onde gostou de ficar e decidiu permanecer juntamente com a esposa brasileira.
— Lá no Norte é diferente. Gostei muito daqui e da forma como se trabalha em Caxias. Tem bastante organização — explica.
Viel nasceu em Santiago de Cuba e é filho único. Os pais seguem no país de origem e têm o sonho de conhecer o Brasil. Aos 23 anos, começou o curso de Medicina. Trabalhou em Cuba em um projeto similar ao Mais Médicos e também na Venezuela. Após conhecer o programa brasileiro, se inscreveu. Ele conta que é necessário fazer um cadastro com dados pessoais, diploma e outras informações sobre a carreira. No cadastramento há opção de escolher o município onde deseja atuar. Na atividade há um período destinado ao estudo:
— Antigamente, o programa tinha 32 horas de trabalho e oito horas de estudo. Agora são 36 horas de trabalho e oito de estudo. Esse estudo é uma especialização que a gente faz em saúde da família, para prestar o melhor atendimento à população, para acompanhamento e prevenção das doenças das pessoas da comunidade.
Depois de 10 anos atuando no Brasil, Viel pretende fazer o Revalida (Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituições de Educação Superior Estrangeira) para poder continuar atuando no país, quando o contrato com o Mais Médicos acabar.
Municípios da região também são contemplados
Em Flores da Cunha, nos postos de saúde de Otávio Rocha e Mato Perso, a população é atendida por outra médica estrangeira, a venezuelana Nelliffer Andreina Lara Perez Simioni, 44. Nascida em Caracas, na Capital do país, mudou-se na infância para La Guaira. A mãe de Nellifer morreu quando ela tinha 10 anos, devido à insuficiência renal crônica, e, por isso, conta ter decidido estudar Medicina:
— A doença da minha mãe despertou a semente de ajudar a aliviar a dor dos outros. Ela acabou falecendo em uma hemodiálise, por uma parada cardiorrespiratória.
Na adolescência, mudou-se para Cuba, onde concluiu o tão sonhado curso em 2008. Ainda fora do Brasil, soube do programa Mais Médicos e achou a iniciativa interessante. Assim, em 2014, veio morar em Minas Gerais, onde ficou por seis anos. Na pandemia, em 2020, veio para o Sul. No ano seguinte, se uniu a um gaúcho natural de Antônio Prado e ambos procuraram um lugar tranquilo para trabalhar e viver: Flores da Cunha.
— Na minha maneira de ver, é uma iniciativa muito boa (o programa governamental), a medicina está chegando em lugares que talvez era difícil. E veio para reforçar a Estratégia de Saúde da Família. A longo prazo, se melhorar a atenção primária, a gente vai a ter menos problemas de saúde crônicos e menos complicações — comenta.
Mesmo com a família de Nellifer espalhada por vários lugares, ela pretende ficar enquanto o programa continuar existindo — o pai mora na Venezuela, o irmão mais novo está no Chile, mas o irmão do meio também veio para Flores.
Contratação dos profissionais
Já em Caxias do Sul, o médico diretor técnico da Comissão Primária de Saúde, Maicol Muneroli, é quem faz a solicitação pela plataforma do programa governamental. Já a gerência, contratação e definição de quantidade de vagas é feita pelo Ministério da Saúde, mas cabe à Secretaria Municipal de Saúde (SMS) sinalizar que precisa dos profissionais para complementar os atendimentos. Atualmente, cinco das 21 vagas disponíveis estão abertas e a expectativa é que sejam preenchidas ainda neste ano.
Na visão de Muneroli, são profissionais fundamentais na composição das equipes nas UBSs. A principal contribuição é no atendimento desse segmento, ESF, já que muitos médicos depois da formação se voltam para outras áreas e essa fica em déficit.
Confira a seguir a quantidade de médicos em cada ano conforme dados divulgados pelo Ministério da Saúde em relação ao Mais Médicos desde 2013 a junho de 2024 em algumas cidades da Serra:
CAXIAS DO SUL
- 2013 - 7
- 2014 - 12
- 2015 - 10
- 2016 - 12
- 2017 - 21
- 2018 - 15
- 2019 - 9
- 2020 - 24
- 2021 - 23
- 2022 - 11
- 2023 - 18
- Até junho de 2024 - 18
FLORES DA CUNHA
- 2013 - 2
- 2014 - 2
- 2015 - 2
- 2016 - 1
- 2017 - 3
- 2018 - 2
- 2019 - 2
- 2020 - 3
- 2021- 3
- 2022 - 0
- 2023 - 4
- Jun/24 - 3
BENTO GONÇALVES
- 2013 - 2
- 2014 - 2
- 2015 - 2
- 2016 - 2
- 2017 - 2
- 2018 - 2
- 2019 - 1
- 2020 - 2
- 2021 - 2
- 2022 - 0
- 2023 - 3
- Jun/24 - 3
FARROUPILHA
- 2013 - 0
- 2014 - 2
- 2015 - 2
- 2016 - 2
- 2017 - 2
- 2018 - 0
- 2019 - 0
- 2020 - 2
- 2021 - 2
- 2022 - 1
- 2023 - 1
- Jun/24 - 1
GRAMADO
- 2013 - 0
- 2014 - 0
- 2015 - 1
- 2016 - 1
- 2017 - 1
- 2018 - 1
- 2019 - 1
- 2020 - 1
- 2021 - 0
- 2022 - 1
- 2023 - 1
- Jun/24 - 1