Reaprender a viver sem a perna esquerda e o pé direito tem sido um dos grandes desafios de Mateus Lando Piovesana, 35 anos, desde que recebeu alta do Hospital Tacchini, em Bento Gonçalves, na última segunda-feira (15). O caminhoneiro de Garibaldi sobreviveu a um deslizamento de terra que atingiu a cabeceira da Ponte Ernesto Dornelles, na BR-470, no dia 1º de maio, por causa da forte chuva que caiu em todo o Rio Grande do Sul.
Ele foi resgatado no dia 3 de maio, dois dias depois do deslizamento, quando equipes do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro conseguiram chegar ao local de helicóptero. Naquela semana, por causa da chuva, não havia teto para as aeronaves pousarem e a trilha por entre os desmoronamentos durava cerca de quatro horas. Por causa do tempo em que ficou ferido aguardando resgate, o caminhoneiro desenvolveu um quadro grave de infecção.
Ao longo dos 73 dias de internação, sendo 52 na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), Piovesana passou por 16 cirurgias.
— Ele foi resgatado com a perna esquerda fraturada do joelho para baixo e necrosada. Já no dia do resgate ele passou pela amputação da perna esquerda. Dois dias depois, no domingo, o hospital ligou dizendo que precisava tirar o pé direito também. O quadro de infecção era bem grave e no início ninguém acreditava que ele ia sobreviver — conta a esposa do caminhoneiro, Estela, explicando ainda que o marido, ainda bem debilitado, não pode falar muito em função de uma traqueostomia.
Atingido pelo deslizamento
Piovesana foi uma das pessoas, das que estavam na rodovia, que se abrigaram no Restaurante do Colau, na cabeceira da Ponte Ernesto Dornelles, do lado de Veranópolis, naquela quarta-feira de chuva.
— Ele e outros motoristas ficaram no restaurante porque não tinham para onde sair. Ele lembra que estava na varandinha que tinha atrás da tenda do Colau, olhou o celular, viu que estava com pouca bateria e decidiu ir no caminhão carregá-lo. Outros dois foram com ele e, antes de sair, conversaram com o Rodrigo. O Rodrigo e o bispo que morreram estavam perto da porta, rezando. Eles escutaram um barulho, aí veio o vento, mais barulho e tudo desmoronou — relata a mulher.
Quando o deslizamento ocorreu, Piovesana, assim como as outras pessoas abrigadas no restaurante, tentaram correr para longe, mas foram atingidos.
— Quando a terra alcançou eles, o Piovesana disse que apagou e, quando acordou, estava com as pernas soterradas. Ele ficou soterrado da cintura para baixo, perdeu o celular, a carteira com os documentos, tudo — conta Estela.
"Escolher o seu difícil"
Determinado a se recuperar, o caminhoneiro se dedicou dia após dia durante os 73 de internação para voltar para o conforto da família e estar novamente junto dos três filhos, José Felipe, um, Milena, três, e Lana Maele, 18.
— O Mateus é uma pessoa que para ele o que não tem remédio, remediado está. Esses dias conversamos sobre escolher o seu difícil. Tudo é difícil na vida: fazer as coisas, se acomodar e não fazer nada, são coisas difíceis. Então, para ele, ou você se joga na cama e chora, ou levanta e faz alguma coisa — afirma a esposa.
Desde que voltou para casa na última segunda-feira, em Garibaldi, o caminhoneiro teve que começar uma nova rotina em uma cadeira de rodas.
A recuperação do caminhoneiro foi acompanhada por uma equipe multidisciplinar, que se uniu aos familiares para celebrar a alta na última segunda. Na saída do hospital foi formado um corredor humano por onde Piovesana saiu aplaudido.