O cenário de comoção tomou conta, na manhã desta sexta-feira (3), da pacata comunidade de Linha Furna, distante aproximadamente 10 quilômetros do centro de Gramado. Os moradores das localidades vizinhas de Pedras Brancas e Morro Redondo estão buscando abrigo na Sociedade União da Furna. O velório dos moradores soterrados pela queda de encosta na Linha Pedras Brancas também ocorreu na capela da comunidade de Furna.
Com as quedas de encostas, os acessos às duas linhas – Pedras Brancas e Morro Redondo - estão interditados e as famílias que ficaram isoladas foram resgatadas aos poucos. Nesta manhã, jipeiros e voluntários com camionetes ajudavam moradores a recolher pertences para deixar suas residências.
— Como a gente está perto de morros, tudo é considerado área de risco. Vamos ir para a casa da minha avó, no bairro Moura. Acreditamos que lá seja melhor. É o que dá para fazer numa situação dessas, totalmente atípica — conta a bióloga Giovanna Marschner, 26 anos, que mora numa propriedade na Linha Morro Redondo com os pais e o namorado.
Giovanna conta que estava dormindo na madrugada de quinta-feira (2), quando foi acordada pelo companheiro:
— Ele acordou muito assustado, dizendo: “Pedra, barulho!”. Me puxou e saímos correndo da cama. Chegamos na sala e só deu tempo de botar a chave na porta, destrancar, abrir e sair do jeito que a gente estava, sem calçado, sem nada — lembra a bióloga.
Conforme a jovem, a encosta cedeu e o barro atingiu a residência. O casal procurou abrigo na casa dos pais, que fica na mesma propriedade. No local, a família Marschner trabalha com uma proposta de ecoturismo.
— Sentíamos o barro nos pés. Descemos na casa dos meus pais, que fica longinho, e ficamos de olho para ver se podia descer mais alguma coisa — diz.
Giovanna conta que a família tentou sair da cidade ainda quinta, mas os acessos estão todos bloqueados:
— Não tinha como sair de carro e ficamos com medo de passar a pé por cima da barreira. Começou a chover forte, voltamos e ficamos no porão da casa dos meus pais, que é bem antigo, bem reforçado. Foi o lugar que nos sentimos mais seguros. Colocamos barricadas na parte de cima e fizemos rodízio para dormir. Enquanto dois dormiam, dois ficavam acordados. Fizemos vigília caso qualquer coisa acontecesse — resume.