Desde o início das operações de resgate a pessoas em áreas de risco de Bento Gonçalves, equipes do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) participaram do salvamento a 544 vítimas, sendo 219 por terra e 325 através de aeronaves. Do total, pelo menos 41 pessoas precisaram de internação hospitalar.
Ao todo, foram resgatadas 1.052 pessoas e 10 mortes foram registradas no município. Quatro pessoas seguem desaparecidas. O Corpo de Bombeiros continua com as buscas na região.
De acordo com a coordenadora do Samu de Bento Gonçalves, Melissa Bonatto, o serviço começou a atuar nos resgates ainda no dia 1º de maio, quando foram registrados os primeiros deslizamentos de terra.
— A gente acionou o método Start, que é um trabalho de simples triagem e decisão imediata para atendimento em catástrofe. Nesse caso, fomos junto ao Corpo de Bombeiros para tentar entender os pontos e acessar as vítimas. A maioria dos locais era inacessível. Em alguns foi possível chegar a pé. Foi um dos dias mais angustiantes, porque a gente sabia que tinham vítimas lá e estavam inacessíveis ainda — relembra.
Logo no primeiro dia de trabalho, as equipes resgataram 40 pessoas ilhadas, de acordo com Melissa. A primeira frente foi por terra, com auxílio de jipeiros, do Corpo de Bombeiros e da Guarda Municipal de Bento. Depois, as equipes realizaram resgates aéreos.
— Estávamos com sete equipes atuando. Duas ficaram na base para atender o município e as outras quatro estavam atendendo as vítimas da catástrofe. Teve gente que foi para Vale Aurora, Monte Belo, Tuiuty, Linha Buratti... O primeiro óbito, no dia 2 pela manhã, fui eu que peguei, infelizmente — diz.
Durante o trabalho, as equipes do Samu utilizaram viaturas com materiais de suporte básico, intermediário ou avançado, dependendo da complexidade do estado de saúde das vítimas.
— Dos momentos mais marcantes, destaco a glória de conseguir resgatar pessoas e seus animais. O Samu também resgatou, junto com as pessoas, seus animais de estimação. O conceito de ninguém fica para trás foi o que a gente adotou. Resgatamos cachorros, gatos, tartarugas... — orgulha-se Melissa.
Para a coordenadora do serviço, a dor e o choque das famílias atingidas pela tragédia é uma memória que segue viva:
— Dos momentos de mais dor, sem dúvida, é o choque dos que sobreviveram, mas que tiveram alguma pessoa próxima que morreu. Por um lado, é acolhedor ver que o número de vítimas não foi tão alto quanto se esperava. Por outro, é de dor, porque tivemos perdas. Ver as pessoas próximas que estavam ali, sendo resgatadas com a dor nos olhos de ter visto um ente querido não conseguir sair. Isso, com certeza, não vai se apagar da nossa memória — diz.
Em Bento Gonçalves, o trabalho do Corpo de Bombeiros e forças de segurança seguem para liberar o acesso às localidades ilhadas e encontrar as quatro pessoas desaparecidas. Cinco famílias seguem acolhidas em abrigos. Cerca de 140 grandes pontos de deslizamentos foram notificados entre 6h e 12h do dia 1º de maio, principalmente nas localidades de Faria Lemos, Eulália, Vale Aurora e Rio das Antas.