O trabalhador da construção civil Fernando Branchini, 28 anos, sobreviveu ao deslizamento de terras na Linha Pedras Brancas, na zona rural de Gramado. O incidente vitimou seu pai, Rudimar Branchini, 62, sua mãe, Matilde Verônica Zimmermann, 47, e seu irmão mais novo, Jocemar Zimmermann Branchini, 17. Com as fortes chuvas da madrugada de 2 de maio, a encosta cedeu e o barranco soterrou a casa da família no interior do município. Fernando estava acordado e escutou o barulho das pedras rolando.
— Olhei no celular eram 2h39min. Eu estava na cama. Começou a tremer muito a casa, mas continuei deitado. Pensei que poderia ser um vento forte. Quando vi, deu um estouro na parede. Caiu uma janela nas minhas costas. Só sei que a casa desceu um pouco e parou. Depois, desceu mais um tanto. Eu levantei, mas sofri muito para conseguir. Tinha caído algo nas minhas pernas — recorda.
O jovem destaca que escutou os pedidos de socorro do irmão, mas que nada conseguiu fazer em função do peso da lama que não parava de descer ladeira abaixo:
— Meu irmão mais novo estava pedindo socorro. Falei: "Espera um pouco que já te ajudo. Só deixa eu sair daqui". Eu calculo que tenha ficado uma meia hora tentando salvar meu irmão. Tentei fazer de tudo, mas não consegui — diz.
Fernando conta que gritou aos vizinhos por socorro. No entanto, o grande volume de terras impedia a chegada de ajuda. O rapaz decidiu sair da casa para tentar buscar lanterna e pá para remover a lama.
— Como não conseguia fazer nada, segui para o lado da casa do vizinho. Fui indo por cima da lama. Depois de pegar umas ferramentas, tentei voltar e não consegui porque tinha descido mais terra. Tinha muito peso por cima dele. Por fim, não pude fazer nada — descreve.
Quando amanheceu, os relatos de vizinhos eram de que toda a família havia morrido soterrada no deslizamento. O lodo que desceu da encosta passou por cima da rua antes de chegar na casa dos Branchini e interditou completamente o acesso., deixando mais de 40 pessoas isoladas. Ao longo do dia, elas foram socorridas com auxílio dos bombeiros. Fernando era um deles. Atravessou a barreira para receber os primeiros atendimentos médicos por volta do meio-dia para a vibração da comunidade de Pedras Brancas.
— Eu fiquei na casa da vizinha, incomunicável — diz.
Entre tantos traumas, Fernando revela que temia que os corpos dos familiares não fossem localizados em meio aos escombros.
— Fico um pouco aliviado por ter conseguido dar um velório digno a eles. Meus pais nem viram do que morreram, estavam dormindo quando deu aquela pancada — diz.
O jovem conta que não pretende voltar tão cedo para a localidade onde vivia. Atualmente, está morando na casa da avó, no Bairro Dutra. A residência da família foi completamente destruída no deslizamento. Fernando é mais um entre 1.172 moradores desalojados em Gramado.
— Não quero voltar por enquanto. O negócio é baixar a cabeça e ter força. Espero poder trabalhar para ter meu cantinho. É uma tristeza muito grande, uma dor profunda que sinto bastante, mas vamos à luta — conclui.