Entre as dezenas de voluntários que formaram a força-tarefa deste domingo (12) no Seminário Nossa Senhora Aparecida, em Caxias do Sul, para receber doações às pessoas atingidas pela enchente no Rio Grande do Sul, alguns escolheram a data para passar o Dia das Mães com ainda mais significado, levando suas mães ou seus filhos para agir em benefício de outras famílias.
Foi o caso de Eduardo Berti D’Agostini, 25, que ao longo da semana compareceu sozinho para prestar ajuda, mas neste domingo levou consigo a mãe, Ana Carla Berti, 51. O rapaz conta que ele havia ficado responsável por organizar o programa da família neste ano, mas a urgência após a enchente o fez esquecer. Passar o dia no ginásio, no entanto, foi ideia da mãe.
— A gente sabe que hoje muitas mães vão ter de passar o seu dia longe dos filhos, então acho que é muito gratificante poder se doar um pouquinho por cada uma delas — diz Ana Carla, que contribuiu com a separação de roupas doadas.
Eduardo, que estava na triagem de alimentos recebidos para montar cestas básicas, complementa que não sentia também que houvesse clima para qualquer comemoração devido à gravidade do momento:
— Claro que as pessoas têm o direito de continuar com as suas vidas, mas para mim não faria sentido sair para almoçar fora, gastar com um almoço mais caro no meio desse caos, sabendo que poderia ser a gente.
Também entre famílias que estão indo juntas ao local ao longo da semana, o Dia das Mães passou quase como se fosse apenas mais um desses dias de entrega em favor do próximo. Angela Maria Chaves, 51, e a filha Stella Valentina Zorzo, 15, chegam quase diariamente antes das 9h e só saem do ginásio por volta das 17h. Nesta data que deveria ser comemorativa, não foi diferente.
— A gente tem o costume de reunir três gerações da família para passar o Dia das Mães. Desta vez não foi possível estar junto com a minha mãe, que tem mais de 90 anos, mas que está aos cuidados da minha irmã enquanto a gente está aqui para mais um dia de trabalho. Não teria como ser diferente sabendo que a urgência só aumenta, ainda mais enquanto não para de chover — diz Angela.
Unidas não só pelo laço familiar, mas também pelo sentimento e pelos valores dos escoteiros, Suzana Souza Mello, 60, e a filha Martha Gabriella de Mello, 27, também aproveitaram o Dia das Mães para exercitar a solidariedade.
— A gente sabe que é só um grãozinho de areia diante de todo o trabalho necessário neste momento, mas ajudar ao próximo é um dever e poder servir à comunidade é muito gratificante.
Uma simples mensagem de texto nunca significou tanto
É claro, contudo, que muitas mães não contaram com a presença dos filhos e tiveram de fazer o trabalho com o coração um pouco mais apertado. Mãe de uma adolescente de 17 anos e de um menino de 10, Jerusa Fróis, que contribui na cozinha, disse que nunca uma mensagem de texto teve tanto significado:
— Meu marido e eu somos voluntários que ajudam outros voluntários, preparando o lanche na cozinha para eles comerem entre uma tarefa e outra. Quando saí de cada de casa hoje de manhã, meus filhos ainda estavam dormindo, então não os vi ainda. Mas só ter recebido mensagens deles perguntando “Mãe, tudo bem aí” já tem um valor enorme. Faz pensar em todas as famílias que não estão tendo um Dia das Mães tão bom, por algum motivo, por isso poder receber uma mensagem simples, diante de toda essa situação, é acalentado