Com as obras parcialmente concluídas, o Recanto da Compaixão Frei Salvador Pinzetta, em Caxias do Sul, recebeu os primeiros moradores na tarde desta segunda-feira (1º). Cinco idosos com idades entre 74 e 114 anos foram recepcionados pelo frei Jaime Bettega, idealizador do projeto, e pela equipe de funcionários que trabalha na casa, em uma abertura parcial.
Com as obras iniciadas em novembro de 2021, o Recanto foi instalado no antigo prédio do INSS, localizado na Rua Pinheiro Machado, no bairro Marechal Floriano. Com orçamento inicial de cerca de R$ 8 milhões, o valor da obra está em R$ 12 milhões. Até agora já foram arrecadados R$ 10 milhões, sendo R$ 4 milhões do governo do Rio Grande do Sul por meio do Programa Pró-Social e o restante de campanhas comunitárias, que seguem até chegar ao total do montante.
Neste primeiro momento, os idosos ficarão no primeiro andar da casa, que tem mais de 1,4 mil metros quadrados de área construída, e conta com quartos, espaços de cozinha, lavanderia e refeitório. As obras seguem no primeiro e no segundo subsolos. Conforme o frei Jaime, a abertura parcial ocorreu em virtude da alta demanda de idosos inscritos, com mais de 130 cadastros.
— Nós pensamos que, ao invés de ter toda a casa pronta, vamos proporcionalmente ocupando os espaços. Aí foi possível findar este andar para que a gente possa de fato receber os primeiros idosos. Mas o que nos moveu sempre e nos permitiu um avançar foi pensar as condições de alguns idosos, que se ficassem onde estavam, poderiam correr risco — descreve o frei, explicando que alguns acabamentos são necessários no primeiro andar.
O número de moradores aumentará de forma gradativa, devendo chegar a 47 ainda neste mês de abril. Segundo o frei Jaime, as obras devem ser totalmente concluídas até maio deste ano, quando a casa estará apta a receber 125 idosos, a capacidade máxima.
A chegada dos primeiros moradores estava prevista para as 14h. No entanto, Gentile Vezzaro Sucharski, 85 anos, se antecipou, e antes desse horário já estava no Recanto da Compaixão, tornando-se a primeira moradora. Natural de Nova Pádua, a professora aposentada viveu boa parte de sua vida na cidade de Itajaí, em Santa Catarina. Devota de Nossa Senhora Aparecida e viúva desde 2009, ela não pôde ter filhos e teve a possibilidade de adotar uma criança negada por um juiz no passado. Gentile conta que, desde que iniciou a divulgação do Recanto da Compaixão, surgiu a vontade de morar no local, principalmente para se sentir mais segura.
— Desde que eu vim de Santa Catarina para morar no Rio Grande do Sul, eu sempre disse que iria morar numa casa de repouso. E essa casa (Recanto da Compaixão) foi um sonho, foi um privilégio. Eu fui ter uma conversa com o frei Jaime, e ele permitiu que eu viesse (morar) aqui — lembra a idosa.
A moradora mais velha de Caxias
O relógio marcava 14h25min quando Albertina Alves de Albuquerque, 114 anos, chegou ao Recanto da Compaixão para ser a quarta pessoa a ser recebida na casa. Acompanhada de familiares, a moradora mais velha de Caxias do Sul precisou da ajuda do frei Jaime e do auxílio de uma bengala para sair do carro e se dirigir até a casa. Natural de Bom Jesus e com data de nascimento registrada em 1909, ela foi para o Recanto em virtude de dificuldade da família para cuidá-la.
Em uma conversa com a psicóloga Angelista Granja, que trabalhará na casa, dona Albertina recordou da sua paixão, a costura. Ao dizer que uma das filhas levaria uma sacola cheia de retalhos, ganhou um presente da psicóloga: a profissional da saúde cantou a música Colcha de Retalhos, clássica do sertanejo, que fez a idosa levantar as mãos aos céus.
— Tô bem, graças a Deus — comemorou dona Albertina.
Seleção dos moradores e manutenção
Em setembro de 2023 foi aberto o cadastramento de interesse em vaga pelo site do Recanto e também foram feitos mutirões de atendimento presencial para definir os primeiros moradores. Nesta etapa, foram analisados mais de 130 cadastros, submetidos a critérios de assistência social. Segundo o coordenador da casa, Gilson Menegol, as pessoas podem continuar se inscrevendo, pois haverá outras seleções.
— São pessoas em situação de vulnerabilidade social, e não quer dizer que sejam com vulnerabilidade econômica. São pessoas que estão às vezes solteiras ou sem filhos, ou que os filhos não têm condições de cuidar e de subsidiar — explica Menegol sobre os critérios.
Nesse primeiro momento são cerca de 34 funcionários, número que deve chegar a 120 até agosto. As funções de cada um são identificadas pelas cores do uniforme: verde para os profissionais de enfermagem, cinza para quem trabalha com higienização, azul para técnicos de enfermagem e cuidadoras e o branco para quem cuida da cozinha.
A manutenção e o custeio no Recanto da Compaixão, que é uma instituição de longa permanência para idosos (Ilpi), é feita com parte da aposentadoria dos residentes que, na maioria dos casos, recebem benefícios de baixo valor financeiro. Assim, o Recanto da Compaixão Frei Salvador Pinzetta começa a funcionar sem convênio ou repasse de recursos públicos, mas já busca credenciamento em prefeituras para garantir viabilidade econômica.