A aflição de perder um celular e a gratidão em encontrar boas pessoas no caminho. Sentimentos que se cruzaram neste final de semana na Festa da Uva, em Caxias do Sul, e oportunizaram a realização de um sonho.
Foi a simpatia e a honestidade de Maristela Bilberg, 36 anos, que garantiram que a auxiliar de segurança subisse pela primeira vez na vida em um helicóptero. Responsável pelo portão 3 da Festa da Uva, Mari, como é conhecida por todos, encontrou um celular perdido, recolheu e 30 minutos depois atendeu a ligação de quem o procurava.
Era Alexandre Aragon, secretário de Segurança Pública de Porto Alegre que, ao ter o aparelho devolvido, presenteou Mari com um bilhete para um passeio de helicóptero. No entanto, segundo Aragon, a ideia de alçar Mari, literalmente às nuvens, já tinha surgido antes de ela ter encontrado o objeto tão valioso nos dias de hoje.
— Minha esposa queria ir no helicóptero e ninguém me dava a informação correta. Passei por diversos locais até encontrar a Mari. Desci do carro e ela veio sorrindo, foi extremamente simpática, me perguntou se iria voar e disse que era seu sonho. Foi ali que meu celular caiu.
Durante os seis minutos de voo, enquanto aguardava a esposa no heliponto, Aragon percebeu a falta do aparelho. Bastou uma ligação para as histórias se cruzarem novamente.
— Suei frio por tudo que tinha no meu celular e pensei: bom, perdi. Mas ela atendeu, foi de uma integridade imensa, não conhecia a gente, não sabia se éramos verdes ou amarelos. Isso só contribuiu para o que eu já vinha imaginando de dar algo para ela em troca de toda essa simpatia — contou Aragon.
Pela primeira vez no céu
Moradora do bairro Kayser, em Caxias, mãe de três filhos e avó de uma menina de seis meses. Mari trabalha com o tipo de bom humor que é capaz de mudar o dia de quem a encontra. Responsável por controlar a entrada do Portão 3, na Rua Ivo Remo Comanduli, a segurança indica os caminhos, é firme com quem tenta dar um "jeitinho" e entende a forma como tratar visitantes que chegam a uma festa.
— Converso com todo mundo, gosto muito dessa relação de respeito e empatia. Tem que tratar bem porque eles estão vindo em uma festa para se divertir. Tem que ser simpático, se não eles não voltam mais — disse.
Na última edição da Festa da Uva, em 2022, Mari fazia parte do staff. Trabalhar no receptivo do evento fez com que procurasse o curso de segurança para seguir atendendo as pessoas. Ela contou que já encontrou diversos objetos perdidos, inclusive carteira com dinheiro, e sempre os devolveu. No entanto, ser presenteada por isso foi a primeira vez. Antes de ganhar o bilhete que garantiu o voo, se emocionou com o que ouviu de Aragon.
— Me disseram que tinham pensado em me dar em dinheiro, uma gorjeta, mas que imaginavam que eu gastaria com qualquer coisa menos comigo. E realmente, se fosse dinheiro iria comprar os materiais escolares dos meus filhos — contou.
Quando soube, na metade da tarde, que poderia subir no helicóptero, Mari correu informar sua chefe por um áudio do WhatsApp. Autorizada a fazer um intervalo, subiu ao céu e lá do alto viu o Alfredo Jaconi praticamente lotado para o jogo entre Juventude e Internacional, pela última rodada da primeira fase do Gauchão.
— Foi incrível ver o estádio cheio lá de cima, um lugar que já tinha trabalhado lá embaixo. A Casa de Pedra também, foi muito emocionante.