"Un", "Trrr", "Cica" e outros números no talian chamavam atenção de visitantes e turistas que passavam pelo Centro de Eventos dos Pavilhões da Festa da Uva na sexta-feira (1º). No Espaço das Cidades, quatro estudantes e moradores de Vista Alegre do Prata mostravam como se joga a mora, que surgiu na região do Vêneto, na Itália, e chegou ao Brasil com os imigrantes, há quase 150 anos. A exibição faz parte de um projeto do município, que fica próximo a Guaporé e Nova Prata. Desde 2023, o jogo é levado às escolas locais para que a tradição não desapareça. O sucesso foi imediato: de 15 jogadores, todos experientes, a cidade passou a contar com 50 competidores de mora, incluindo muitos jovens.
— É uma tradição da cultura italiana no Estado e, com o tempo, ela estava se perdendo, como a nossa própria língua do talian. Muitas ramificações históricas e culturais também estão se perdendo. Então, fizemos esse trabalho de resgate com o objetivo de preservar um aspecto muito importante da nossa história, que é o jogo da mora — explica a secretária de Turismo, Cultura e Desporto do município, Valéria Pedron.
Na festa caxiense, turistas curiosos paravam para tirar fotos e aprender mais sobre o jogo. Nas mesas, os jogadores gritavam os números em talian e batiam as mãos fazendo sinais de números. Tudo acontecia de forma muito rápida, impressionando a todos pela agilidade e raciocínio dos competidores. Ali, os visitantes aprendiam que a mora consiste em os jogadores tentarem acertar a soma que será feita com os números apresentados pelos dedos dos competidores (veja no vídeo).
Quem ajudou a levar esta tradição para os jovens foram os próprios moradores da cidade. Entre eles, o agricultor Deonísio Kazmierski, 63 anos, que até é chamado de professor pelos adolescentes. De família polonesa, Kazmierski joga a mora desde criança e fica feliz em ver que a cultura não deve desaparecer:
— Sempre gostei. E lá em Vista Alegre ninguém mais jogava. Começamos a fazer um torneio aqui, outro lá, e já temos mais de 50 jogadores.
Em 2023, um torneio municipal e um regional foi realizado em Vista Alegre do Prata. Em 24 de março, o segundo municipal ocorrerá.
Nova geração
Os antigos lembram que a mora era geralmente jogada nas bodegas e, por isso, mais praticada por homens. Muitas vezes, cada partida valia um copo de bebida. Para a nova geração, como nota Valéria, ela chega como uma atividade esportiva e cultural, jogada por meninos e meninas. Além da diversão, os jogadores precisam utilizar o raciocínio lógico, coordenação motora e iniciam o aprendizado no italiano ou no talian.
— É um trabalho de mãos e mente, que precisam estar em sintonia — conta Valéria, lembrando que o jogo está inserido também em festas comunitárias na cidade.
Na Festa da Uva, os alunos e agora jogadores Joseph Boschi, 15, Stevan Strapassão, 14, Eduarda Spanhol, 13, e Valentina Donin, 13, demonstravam a atividade e até explicavam para turistas curiosos.
— Na escola nós jogávamos no recreio. Depois, começamos a aprender mais com o professor. É muito legal. Nós sempre nos divertimos bastante — diz Joseph, que compete ao lado de Stevan.
Como jogar
- O objetivo principal é que os jogadores acertem a soma dos dedos
- As somas podem ir de dois até 10
- Os jogadores vão apresentando números nos dedos e gritando a soma que querem acertar
- Se os dois jogadores acertarem a mesma soma, ninguém ganha ponto
- Tradicionalmente a pronúncia se dá em italiano ou talian
- A partida termina em 16 pontos, com o juiz contando os pontos