Um dos setores mais queridos pelo público, a agricultura familiar comemora as vendas durante a Festa da Uva, que segue até o próximo domingo (3), em Caxias do Sul. Ao todo, o espaço localizado no Pavilhão 1 conta com 62 bancas, de Caxias e de outras 32 cidades gaúchas diferentes, comercializando itens como salame, mel, cachaças, cucas, biscoitos, queijos, sucos, cuias, facas artesanais, plantas, flores, entre outros. Dos mais antigos aos estreantes, a avaliação é que expor em uma das principais feiras do país sempre tem gosto de novidade.
Entre elas, o chips de aipim, comercializado pela agricultora Silvia Alexandra dos Santos, de Venâncio Aires, no Vale do Rio Pardo. Produtora há 12 anos, ela sempre trabalhou comercializando a raiz descascada e congelada e entregue em supermercados. Mas, há dois anos, a partir de uma sugestão que veio de dentro de casa, ela começou a trabalhar com o aipim em um formato diferente.
— Meu filho de seis anos gostava muito de salgadinho, mas eu não queria dar por ser industrializado, que faz mal. Foi então que surgiu a ideia de fazer algo natural usando o aipim, que sempre produzimos. Ele aprovou, gostou e a Emater nos ajudou a colocar no mercado, nas feiras. O aipim é descascado, lavado, ralado e frito — explica.
Atualmente, 20% da produção de aipim é destinada para a produção do chips que, segundo ela, faz mais sucesso nas feiras pelo Rio Grande do Sul, como a Expodireto, em Não-Me-Toque, e na Festa Nacional do Chimarrão (Fenachim), em Venâncio Aires. Silvia é responsável por 1,6 hectare de terra que produzem a raiz, mas também compram de outros produtores locais para manter a entrega no mercado e para a produção dos chips.
— É a primeira vez que participo da Festa da Uva e está sendo excelente. Ouvi muitos comentários antes sobre a feira, mas nenhum perto da realidade. Estamos muito contentes com o resultado — comemora.
Outro produto que chama a atenção é o suco produzido a partir da polpa de diferentes frutas cultivadas pelo engenheiro agrônomo Sérgio Luís Terhorst, da Agroindústria Tiaraju, de Tupanciretã, na Região Central do Rio Grande do Sul. São 18 variedades, sendo 10 delas à disposição dos visitantes na Festa da Uva, em sabores tradicionais, como laranja, manga, morango, e outras mais incomuns, como butiá e até de pitaya.
— É o primeiro ano do suco de pitaya e é um sucesso. É diferente e chama a atenção. Mas o campeão de vendas é o suco de butiá, que vende bem em qualquer feira que a gente vai. É uma fruta difícil de processar pela quantidade de fibra e caroço. A produção de polpa é baixa, mas compensa — explica.
A produção é obtida a partir de cinco hectares de pomar com 10 toneladas de fruta colhidas por ano — apenas o abacaxi vem de fora. Após a colheita, a fruta precisa estar madura, depois é higienizada, descascada e colocada em uma máquina que retira a polpa. Por fim, é embalada e congelada — todo o processo é acompanhado pelos órgãos fiscalizadores. Segundo Terhorst, a capacidade é de congelar 32 toneladas em câmara fria. Além da venda nos mercados, ele também abastece escolas, com sucos de laranja com mamão e laranja com cenoura.
— São polpas refrescantes e nutritivas, criadas com a ajuda de uma nutricionista. Trouxe para a Festa da Uva, mas acabou no terceiro dia do evento. O fluxo de pessoas passa por aqui e isso para nós é muito importante. Ela chega aqui e conhece os produtos da agricultura familiar — comenta ele, que também faz a estreia no evento.
Na Festa da Uva, Terhorst trouxe a polpa congelada, diluiu com água mineral, acrescentou adoçante e abasteceu os recipientes para encher os copos ou garrafas a serem entregues aos consumidores. O próximo passo, segundo ele, é comercializar o suco engarrafado, pronto para o consumo. Por isso, está buscando linhas de financiamento para investir no maquinário e ampliar a produção.
"Na segunda-feira, com entrada gratuita, foi fantástico"
O produtor Édson Ricardo Schwendler credita ao mel a chave para uma mudança de vida: depois de anos dedicado ao cultivo do tabaco em Venâncio Aires, ele passou a trabalhar somente com a apicultura.
— Agradeço muito a quem me ajudou nessa mudança. Eu trabalhava de 12 a 13 horas por dia e ficava tão cansado na colheita do tabaco que eu não conseguia dormir. Agora, estou feliz, podendo trabalhar com mais qualidade de vida. Tem dias judiados. Na colheita, em dezembro, a gente chega quase a desmaiar de calor. Mas não tem comparação — conta ele.
Schwendler trabalha, indiretamente, desde 2005 com o mel e fazia a atividade junto à produção de tabaco. O cultivo começou como hobby pela família, mas começou a ganhar força. Ao se dedicar na participação de feiras, percebeu que podia concentrar a atenção somente com a apicultura e deixar a produção do fumo.
— Em 2018, eu tinha 3 mil quilos de mel e não sabia o que fazer. Coloquei na cabeça que iria para a Expointer e vendi 900 quilos. Hoje, estamos produzindo 12 mil quilos por ano e é tudo comercializado. O mel vem pronto da abelha. Cabe ao apicultor não estragar — avalia.
Atualmente, ele possui 250 colmeias, de 25 propriedades, que resultam em duas colheitas por ano: uma na primavera, na chamada florada laranjeira, que produz um um mel mais claro; e outra no outono, de flor de eucalipto, que costuma ser mais escuro e tem um sabor mais acentuado. As duas versões estão disponíveis na Festa da Uva.
— Em 2022, poucos chegavam no Pavilhão 2. A minha expectativa era dobrar as vendas da edição passada, mas parte do meu estoque acabou no primeiro fim de semana. Vamos praticamente triplicar as vendas. Na segunda-feira, com entrada gratuita, foi fantástico. A Festa da Uva é ressaltar a uva, a agricultura, a família e o que é esse setor — afirma.