No início da tarde deste domingo (10), o aposentado Pedro Batista da Costa, 64 anos, estava em frente à casa de material branca, onde morava a filha dele, Cíntia de Moraes Costa, 36, e os cinco filhos. A mulher morreu no local, que fica na Rua Noel Rosa, no bairro Vitória, em Vacaria, na manhã deste domingo (10). Três filhas dela, Ana Júlia Costa da Silva, 15, Cintia Maria Costa da Silva, 11, e Samara Costa da Silva, três, foram socorridas, mas morreram no hospital.
Outros dois filhos de Cíntia foram encaminhadas para o Hospital Nossa Senhora das Oliveiras, assim como o companheiro dela, Maique Santos da Silva, de 31 anos, que não é o pai das crianças. O homem e uma menina de sete anos permanecem na UTI do hospital. Um menino de nove foi encaminhado para uma UTI pediátrica de Santa Maria. Uma das hipóteses investigadas pela polícia é de que elas tenham sido intoxicadas por gás produzido por um gerador de energia elétrica. A casa onde eles moravam não recebia luz.
Olhando para o horizonte, ainda tentando entender a tragédia que abalou a família, Pedro recordou, com lágrimas nos olhos, que jantou com a filha e netos na noite anterior:
— Ela passou o dia com as crianças na chácara e jantou aqui em casa. Só não vi a mais velha, a Ana Júlia. Parece que foi uma despedida. Eu estou sem chão. Ainda não acredito que as perdi. Era minha menina mais velha. A ficha não caiu. Não acredito.
A tia materna de Cíntia, Maria Clair Barbosa de Moraes, 55, tentava segurar as lágrimas e apoiar o cunhado.
— Ela era alegre, uma boa mãe, cuidava bem dos filhos. Era muito carinhosa e estava sempre com as crianças. Perdemos três anjos, elas eram todas boas meninas. Agora vamos tentar ser fortes e pedir a Deus para os dois pequenos sobreviverem — disse Maria.
Para os familiares, Cíntia contou que suspeitava estar grávida.
— Ela tinha feito um teste de farmácia e deu positivo. Ainda estava confirmando se seria mãe novamente — lamenta a tia.
Familiares contaram que Cíntia estava trabalhando na lavoura e morava há cerca de cinco anos naquela casa. O velório da mãe e das crianças será realizado no Salão São Cristóvão, no bairro Monte Claro, no município dos Campos de Cima da Serra.
Gerador teria sido doado após roubo
Os moradores da rua e de bairros vizinhos também tentam lidar com o choque provocado pela morte das quatro pessoas da mesma família. O movimento em frente à casa da família Costa era intenso neste domingo (10). O pedreiro Pedro Júnior dos Santos Batista, 52 anos, contou que a casa era antigamente o escritório de uma empresa de limpeza urbana, a Codevac:
— A empresa faliu e não existe mais. Eu trabalhei nela e sempre passava por aqui. Depois, por um tempo, era a sede da Guarda Municipal. Depois fecharam e ficou abandonada. E veio a família morar aqui. É uma das maiores tragédias que a cidade já viveu.
Segundo o prefeito de Vacaria, Amadeu Boeira, a área da casa onde a família foi encontrada desacordada pertence ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), e estava ocupada irregularmente. Uma notificação foi entregue para que os moradores desocupassem o local, mas eles preferiram continuar na casa, segundo o chefe do Executivo.
O prefeito informou ainda que a casa da família teria sido reformada há pouco tempo. Conforme Boeira, para a desocupação do local, o município teria feito a doação de uma outra casa no bairro Municipal, mas eles não haviam se mudado para o novo espaço. O prefeito não informou quando a notificação foi entregue aos moradores.
Segundo os vizinhos, o gerador de energia, que funcionava com o uso de gasolina, ficava do lado de fora da casa durante o dia. Ele teria sido doado à família porque a residência não tinha energia elétrica.
— Roubaram o gerador e aí doaram um novo. Eles começaram a colocar para dentro da casa à noite. A lembrança que eu vou guardar para sempre é de um dia, há pouco tempo, que eu passei e os mais velhos estavam ensinando os mais novos. Eles estavam brincando de escola com cadernos que encontravam na reciclagem — relembra Batista.
Entenda o caso
Por volta das 8h30min de domingo (10), Jonas Borges de Oliveira, 32 anos, chegou na casa da namorada, Ana Júlia Costa da Silva, 15, na Rua Noel Rosa, no bairro Vitória, em Vacaria. A adolescente morava com a mãe, Cíntia de Moraes Costa, 36, cinco irmãos e o padrasto, Maique Santos da Silva, 31.
Ele estranhou a demora da família para abrir a porta e conseguiu entrar na casa pela janela, quando encontrou todos desacordados. Ele relatou que sentiu um com forte cheiro. Jonas chamou os socorristas e a Brigada Militar (BM). Quando as equipes chegaram, Cíntia já estava morta.
Os filhos e o companheiro dela foram encaminhados ao Hospital Nossa Senhora da Oliveira (HNSO), em Vacaria. Samara Costa, três, Cintia Maria Costa, 11, e Ana Júlia Costa, 15, morreram domingo na instituição de saúde, conforme o delegado da Polícia Civil Anderson Silveira de Lima.
Vitória Costa, sete, e Elias Costa, nove, além de Maique, que não é o pai das crianças, permaneciam hospitalizados até esta segunda-feira (11). Vitória e Elias foram transferidos para um hospital de Santa Maria. O padrasto seguia em Vacaria.
Na casa, a polícia encontrou um gerador de eletricidade. Esse equipamento, segundo informações preliminares, ficava sempre no lado de fora. Por esse motivo, a investigação aponta para uma possível intoxicação de gás gerado pelo aparelho.