Uma uva voltada para produção de vinhos finos e espumantes, privilegiando a qualidade da fruta. O objetivo de um projeto da prefeitura de Bento Gonçalves junto às propriedades e vinícolas de pequeno porte do município, iniciado em 2021, deu, literalmente, os primeiros frutos. Na última semana, a Casa Zottis, no Vale dos Vinhedos, colheu as culturas que marcaram o começo de mais uma fase nesta iniciativa.
O grande diferencial é a plantação da uva em videiras em espaldeiras. Diferentemente do método tradicional na horizontal, chamado de latada ou pérgola, utilizado por grande parte dos agricultores da região, o cultivo é feito na vertical. Isso possibilita uma série de vantagens para obter um produto capaz de gerar vinhos e espumantes também de qualidade superior.
A primeira propriedade a se inscrever no projeto e iniciar a colheita foi a Casa Zottis, do Vale dos Vinhedos. Com 50 anos de atuação no setor da uva, fabrica vinhos próprios desde 2020 e, conforme a enóloga e sócia-proprietária Daniela Chesini Zottis, aproveitou o novo momento no município para investir em modernização das videiras.
— A propriedade, por ser herdada da família, tinha vinhedos bem antigos, e nós vimos neste projeto uma possibilidade de renovação. Como a vinícola é recente, mas já trabalha com uma linha especial, pensamos em usar a iniciativa para trabalhar uvas elaborar nossos vinhos, com cada vez mais qualidade. Para isso, tiramos uma parte do vinhedo, de uvas para suco, para apostar nas espaldeiras —comenta Daniela.
Segundo a enóloga, o plantio da uva em espaldeiras oferece uma série de vantagens, como maior incidência de sol (sol da manhã e da tarde), diminuição de doenças como o míldio, possibilitada pela ventilação melhorada em relação à latada, menor acúmulo de água na videira e facilitação no manejo e colheita.
O plantio para produção em espaldeiras em propriedades do município se iniciou ainda em agosto de 2022. Atualmente, o projeto conta com 46 agricultores inscritos, com 34 com culturas preparadas.
Ainda sobre o sistema de condução em espaldeiras, o chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Uva e Vinho, Henrique Pessoa dos Santos, faz a ressalva que o método favorece a qualidade da fruta, mas que bons resultados também podem ser obtidos no tradicional.
— Respeitando as condições ideais, a espaldeira tende a favorecer uma uva de melhor qualidade. Contudo, a latada também permite safras boas neste sentido, desde que o manejo e todo o processo sejam feitos de maneira adequada — ressalva o pesquisador.
Prefeitura conduz o projeto
Dar auxílio aos produtores e fortalecer cadeia viticultora do município sãos as principais metas por trás do projeto das espaldeiras. O secretário de Desenvolvimento da Agricultura, Volnei Christofoli, garante que a comunidade recebeu muito bem a iniciativa.
— A demanda surgiu pela importância de incentivar a produção de vinhos finos, que tem valor agregado, aumentando a nossa safra. O projeto está em andamento e será aumentado, justamente porque produtores abraçaram. Houve uma grande procura, principalmente dos pequenos produtores, das vinícolas familiares —avalia o secretário.
A plantação em espaldeiras tem o subsídio de 50% do valor de aquisição das mudas viníferas para o plantio de um hectare por ano em cada propriedade, com até 30 horas/máquinas, e foi desenvolvida em parceria com a Emater, responsável pela ajuda técnica, Embrapa e IRFS-RS.
Vantagens do plantio da uva em espaldeiras:
- Maior incidência de sol
- Diminuição de doenças
- Menor acúmulo de água na videira
- Facilitação no manejo e colheita
- Melhor qualidade da uva