— Se eu falar, é como se estivesse te dando a minha senha do banco.
Nós tentamos, mas Jurema Secco, 61 anos, a caxiense criadora do lanche mais famoso da edição deste ano da Festa da Uva, não quis passar a receita do pastel de polenta. Limitou-se a dizer que o preparo leva farinha de milho, farinha de trigo e polvilho. O restante? Ela jura que ninguém sabe, além dela e de uma sobrinha que, como ouvinte, participou de todo o processo de criação. Processo esse que não foi fácil e nem rápido. Antes de colocar à venda o pastel nos Pavilhões, ao menos quatro receitas foram testadas. A dificuldade, segundo Jurema, era dar liga na massa.
Ao contrário do que muitos podem imaginar — principalmente aqueles que não têm talento algum na cozinha — a caxiense não faz a polenta simples, apenas com farinha de milho e água, e espicha para depois moldar o pastel. Ela faz uma massa, sim, mas ela leva ainda farinha de trigo, com glúten, o que faz com que a misture não rache. Sem querer, Jurema ainda entrega que tempera a massa com pitadas de outras especiarias além de sal.
— O que mais deu trabalho foi chegar no ponto da massa, foram muitos testes. Não é a polenta clássica, mas claro que lembra muito — diz.
O recheio do pastel de polenta, vendido no espaço da Jurema nos Pavilhões, é de queijo. Mas ela garante que é possível rechear com outros ingredientes, como carne:
— É que a ideia é que, depois de frito e quentinho, o queijo derreta e lembre ainda mais o jeito que comemos polenta.
O lanche, como também explica a caxiense que aprendeu a fazer pão aos sete anos com a mãe, Nair, precisa ser frito. A versão assada foi testada, mas não deu certo, principalmente pelo queijo, que fica com uma consistência ruim.
Mais de 3,5 mil pasteis foram vendidos
Sem falsa modéstia, Jurema sabia que o pastel de polenta venderia bem durante a Festa da Uva. Mas, assim como trata tudo na vida, não quis colocar grandes expectativas. Mas elas certamente já foram superadas: até a semana passada já tinham sido vendidos ao menos 3,5 mil unidades — fora os de fortaia e uva que também são comercializados no espaço que ela comanda na Festa da Uva (espaço, aliás, que de tão procurado, foi até incluído nas placas de identificação dos lugares nos Pavilhões, como sanitários e fraldário).
Jurema comemora o valor arrecadado até agora com os lanches (cada pastel de polenta custa R$ 15), mas viu mesmo no sucesso de vendas uma oportunidade de, futuramente, abrir um negócio novamente. Isso porque ela já tocou, ao lado do irmão Benito, uma padaria na região do bairro São Ciro, em 2010. Foi nesse período que ela desenvolveu ainda mais as habilidades na cozinha, principalmente produzindo produtos caseiros, como pão, grostolis e bolachas.
— Eu sempre adorei inventar coisas na cozinha. No ano passado, para a Festa das Colheitas, criei o pastel de uva. Aquele também foi difícil em função do recheio: só a uva o deixaria mole e sem consistência, aí inventei um creme com leite condensado e acho que deu certo porque ele está sendo bem vendido aqui também — conta Jurema, que ainda diz que começou a pensar na ideia do pastel de polenta em agosto do ano passado, durante uma viagem a passeio a Minas Gerais:
— Lá tem pastel de angu por todo lado. Lembro que olhei pra ele pela primeira vez e pensei: vou testar um de polenta.
Muitos turistas buscam a criação de Jurema nos Pavilhões, mas ela se diz impressiona com os caxienses encantados com a ideia que tem uma comida típica como protagonista.
— Não sei como ninguém tinha inventado isso antes! Mas eu ficaria rica mesmo se ganhasse R$ 1 a cada vez que ouço alguém comer e logo me perguntar: "mas como eu faço isso em casa, hein?". Mas eu não conto nem por decreto — brinca a cozinheira.