Quando desfilar pela primeira vez nesta quinta-feira (15), no alto do carro mais importante do corso da Festa da Uva, Lizandra Mello Chinali realizará o seu maior sonho de infância. Com 14 anos, ela era uma das bailarinas com trajes típicos italianos que se apresentaram atrás do carro do trio da edição de 2012. Começou ali a alimentar o desejo de um dia estar na Rua Sinimbu, mas não mais como figurante, e sim como protagonista.
Lizandra voltou a desfilar no corso de 2014, desta vez à frente do carro de rainha e princesas. No ano anterior, ela também fez parte do grupo de dança que se apresentou na escolha do trio de 2014, durante o intervalo para os jurados para definirem as vencedoras. O ballet, segundo Lizandra, foi importante para que ela desenvolvesse disciplina e soubesse encarar os desafios com leveza e determinação.
— Eu estava em fase de alfabetização e lembro de treinar a leitura nos outdoors das candidatas. Em 2013, quando me apresentei na escolha, fiz uma foto com outras duas colegas de ballet onde brincávamos que éramos o novo trio da Festa da Uva. Naquele momento pensei que um dia eu estaria concorrendo. Esperei o melhor momento da minha vida para me inscrever — relembra ela, que representou o Esporte Clube Juventude, onde também passou por um processo de seleção, em abril.
A religiosidade acompanha a trajetória da atual rainha — a 33ª soberana da história da festa. Na noite do desfile para escolha do trio de 2024, Lizandra carregou um terço de Nossa Senhora das Graças nas mãos e o vestido usado era composto por um manto inspirado em Nossa Senhora de Caravaggio. Devoção que a acompanha durante as atividades de divulgação do evento, que completam seis meses.
— Me agarrei na fé durante o pré-concurso porque também acabam sendo momentos difíceis, de inseguranças, incertezas e sempre estive próxima da igreja para me tranquilizar. Durante uma das atividades do pré-concurso, encontrei uma medalhinha de Nossa Senhora das Graças no chão e me apeguei nela. Nas minhas férias, quando estava ansiosa pelo início desse ano, estive em Garopaba (SC) e lá tem uma igreja com uma imagem de Nossa Senhora das Graças. Me atento muito a esses sinais e tenho certeza que ela me escolheu e carrego ela comigo sempre — conta.
Dedicação em tempo integral
Lizandra, que é designer e atua no ramo da comunicação, também é uma rainha conectada. Compartilha diariamente os bastidores do cargo nas redes sociais — soma quase 12 mil seguidores no Instagram, metade deles conquistados após a escolha, em setembro do ano passado. Devido aos compromissos de rainha, que incluíram visitas a empresas e entidades e viagens para diferentes cidades da Serra, Porto Alegre e até em Brasília (DF), ela precisou se ausentar das atividades profissionais.
— A gente sabe que a festa demanda muita dedicação e eu tinha consciência disso, estava preparada para abrir mão de muitas coisas. O que mais está sendo legal é a população perceber que a festa está chegando, dizendo que vai ver os shows, vai comer uma uva geladinha, isso me tocou bastante nos últimos dias — resumiu.
Lizandra tem, ao seu lado, as princesas, Eduarda Ruzzarin Menezes e Letícia de Carvalho, que ela faz questão de citar sempre que questionada sobre a importância do trabalho de uma soberana.
— Quero que a nossa festa seja lembrada, de fato, pelo retorno da alegria. Celebramos em 2022, mas era uma festa ainda marcada por um momento turbulento. Espero que as pessoas possam viver tudo aquilo que a gente vivia antes da pandemia na festa de 2024, com muita alegria, música e tradição. Eu e as princesas temos uma cumplicidade muito grande, gostaríamos muito de sermos lembradas pelo nosso sorriso, pela nossa simpatia, porque ouvimos muito isso das pessoas — afirma.
"Vamos estar em movimento"
Nas últimas semanas, a rotina do trio tem começado às 4h, quando acordam e partem para o salão fazer cabelo e maquiagem - elas dispõem de um carro exclusivo e um motorista dedicado para essa função. Para os 18 dias da festa, estão prevendo ficar até de madrugada no parque, principalmente aos sábados, nos shows nacionais.
Eduarda, que também é bailarina e desfilou no corso da Festa da Uva quando criança, está ansiosa para ver o carro do trio. Elas participarão ativamente do desfile — não apenas desfilando no carro, mas também protagonizando a parte final, em frente à Catedral Diocesana. Movimentação que se estenderá aos Pavilhões.
— Essa rotina não é ruim, as pessoas ficam com pena da gente, mas é algo que enxergamos como algo muito feliz. Por mais que a gente esteja com o sono atrasado, vamos deixar pra colocar ele em dia somente depois da festa. O turista que for para o parque não vai ver a gente parada em um estande recebendo eles. Vamos estar circulando por todos os lugares, queremos entregar as uvas, estar no no parque de diversões, no saguzaço. Vamos estar em movimento — projeta.
A vida de soberana não é uma novidade para Letícia, que coleciona títulos de Mais Bela Comunitária, em 2012, e de princesa de Galópolis, em 2013.
— O coração fica apertado, ansioso, querendo viver tudo que a Festa da Uva pode nos proporcionar, ao mesmo tempo que queremos que o tempo passe devagar para que a gente aproveite todos os momentos. Tem muita coisa nova sendo pensada, será uma festa muito especial para todos nós — conta.