Enquanto máquinas trabalhavam para desobstruir a Estrada Linha Ávila, na localidade de mesmo nome, o microempreendedor Luís Roberto da Silva Brasil se arriscava a salvar o pouco que restou dos seus pertences, em Gramado, nesta terça-feira (21). A propriedade de Brasil foi atingida pelo deslizamento de terra do loteamento Alphaville após o temporal.
A terra que passou ao lado da casa do microempreendedor arrastou uma segunda casa dele e também três carros. Nesta terça-feira de tempo bom, Brasil conseguiu tirar dois carros do barranco e tentar salvar alguns pertences. Ele também aproveitou para tirar objetos da casa, prevendo a chuva desta quarta-feira (22), que pode terminar de derrubar a casa em que mora.
— A gente não vai conseguir tirar tudo, né? Estou tirando uns carros que eu tinha que caíram no barranco. Tudo o que a gente conseguir salvar conta. Eu moro aqui há 35 anos e nunca vi nada parecido. Foi tipo uma bomba. É a mesma coisa que uma bomba. Vê aquele barulho? Um bum, bum, bum — relata Brasil.
O local onde mora o homem é um dos quatro pontos críticos confirmados em visita técnica de engenheiros e geólogos no município.
— Eu vi (a terra deslizando), mas ninguém queria ver. Coisa mais horrível do mundo. Não tem o que segure, não existe nada que segure. Só a mão de Deus mesmo — acrescenta Brasil.
Desespero pela segunda vez
A cozinheira Maria Aparecida dos Santos Haack convive com o mesmo medo de reviver a dor de 21 anos atrás. Em 2002, um deslizamento de terra atingiu a casa em que Maria morava, no bairro Três Pinheiros. Com o esforço do trabalho, a cozinheira conseguiu reerguer uma nova casa, no mesmo terreno, que hoje está entre as centenas que correm o risco de serem soterradas, se houver um desabamento no local.
— A gente reconstruiu tudo de novo e a coisa mais triste é eu me ver de novo nessa situação. E agora, o que que eu faço, meu Deus? O que a gente vai fazer? — fala, em meio às lágrimas.
Maria é uma das moradoras que aguarda uma resposta se pode voltar para casa, no trevo que dá acesso ao bairro Três Pinheiros, entre a ida para o trabalho e o descanso em casa de familiares. Ela é uma das 150 pessoas que foram retiradas de casa no domingo (19) e não tem previsão de retorno à residência.
— Eu estou desesperada aqui. Eu sei que não é só eu, é todo mundo. Mas é triste você ter que passar por tudo isso novamente. Cada tijolo na minha casa tem uma história, a gente levanta cinco da manhã para ter as coisinhas e agora vem e acontece tudo isso. Eu não estou nem acreditando, não consigo trabalhar, não consigo comer — desabafa.
Em nota, a prefeitura informou nesta terça que o relatório de uma empresa contratada e que acompanhou a visita técnica deve ser enviado ao Executivo municipal ainda esta semana, com um parecer e um plano de trabalho.