O risco de uma moradia desabar sobre outras três levou à retirada de uma família de casa na Rua dos Antúrios, na comunidade São Vicente, do bairro Jardelino Ramos, em Caxias do Sul. Outras residências correm risco, segundo a prefeitura, e por isso, a recomendação é que os moradores aceitem sair das moradias e recebam aluguel social. A casa que pode desabar é uma construção de material, de dois andares, que fica na Rua São Vicente 1. Na parte de baixo, as casas ficam na encosta de um barranco.
Há poucos dias, em 24 de novembro, moradores relataram ter ouvido estrondos parecidos com trovões, mas que pareciam vir de baixo da terra, acompanhados de tremores. Naquela madrugada, o Corpo de Bombeiros recebeu quase 30 ligações com a mesma situação no São Vicente e também no bairro Jardim América. Porém. tanto a prefeitura quanto os proprietários das casas que correm risco garantem que a retirada não ocorreu em função dos tremores de terra, mas de um processo que tramita no município desde março deste ano.
Casa demolida e famílias inconformadas
Mesmo que seja apenas uma coincidência, no dia dos tremores a Defesa Civil esteve no bairro e orientou que os moradores deixassem as casas da Rua dos Antúrios. Assustada, uma das moradoras retirou os móveis ainda durante a madrugada. A reportagem não conseguiu contato com a família, mas, segundo o munícipio, os moradores foram auxiliados pela Secretaria Municipal da Habitação e aceitaram deixar a casa e ir para outro local, com auxílio do aluguel social.
Na manhã desta quinta-feira (30), uma patrola estava no local para recolher os entulhos da casa, que já foi demolida. Os demais moradores estão inconformados com a situação, e não querem deixar as moradias. Eles relatam que ouviram e até sentiram um novo tremor no domingo (26), mas que o estrondo não tem relação com as rachaduras da casa que está acima da deles.
Natural de São Francisco de Paula, João Valtoir de Andrade, 64 anos, mora no bairro desde 1969 e está na mesma casa há 27 anos. Entre a residência do aposentado e a da vizinha, que foi demolida, há uma casa de madeira azul, onde mora o irmão dele, Paulo Ricardo, 59.
— Eu não tenho para onde ir, tudo o que construí está aqui. Nossa família vive há anos no bairro — ressalta apontado para a casa, uma construção mista de dois andares.
O morador afirma que não tem medo de seguir na moradia e mostra onde estão as rachaduras da casa vizinha.
— Eu senti o tremor e ouvi o estrondo, mas não tem relação. O bairro não tem estrutura e treme as casas até quando passa o caminhão do lixo. As rachaduras estão há anos na casa, pode olhar bem no vão, tem até limo porque elas estão há anos do mesmo jeito. Já estava rachada. Não vai cair a casa — confia ele.
O aposentado finaliza com um desabafo:
— Sou cardíaco, diabético e tenho recursos no bairro, porque moro bem perto da UBS. Para onde eu vou ir? — questiona ele
Na segunda-feira (4), às 15h, Andrade tem uma reunião com a assistente social da prefeitura para tentar resolver a situação.
"Estou ciente que talvez tenha que deixar minha casa", afirma moradora
A moradora da casa que tem risco de desabar prefere não se identificar. A mulher de 44 anos conta que procurou o município em março deste ano por temer que a casa caísse. Ela afirma que a moradia foi construída há mais de 60 anos, e que vive na residência, que era da mãe dela, desde que nasceu. A mulher ressalta que as notificações chegaram ao mesmo tempo em que os moradores relataram tremores, mas as rachaduras já existiam.
—Eu não senti tremor. Apenas ouvi um estrondo. Em relação às rachaduras, esse é um processo que está tramitando desde de março com ciência de todos moradores. A estrutura da casa não mexeu por causa disso, mas tem o barranco e é preciso um murro de contenção. Os moradores sabem que têm que sair e eu estou ciente que talvez tenha que deixar minha casa.
Ainda segundo ela, o município presta a ajuda necessária, tanto em relação a informações, como na retirada das famílias e transporte dos móveis para outro espaço, além do repasse do aluguel social.
Secretarias da Habitação e de Obras acompanham o caso
Os técnicos da Secretaria da Habitação e de Obras estão acompanhando o caso desde março, sendo que já estiveram no local mais de uma vez para inspecionar as casas. O secretário municipal da Habitação, Wagner Petrini, afirma que quando os moradores sentiram os tremores, a Defesa Civil esteve no bairro, e orientou que todos saíssem das casas, para analisar se havia risco.
— Naquele momento, a Defesa Civil orientou que todos saíssem das casas porque do jeito que está o solo na nossa região com a chuva que ocorreu nos últimos dias poderia desmoronar. Então no primeiro momento teve essa orientação de deixar as casas, que era algo que já seria feito.
Ele também reitera que há necessidade de intervenção da Secretaria de Obras, mas para que as equipes construam um muro de contenção é necessário remover as casas que estão embaixo da residência;
— Uma das casas é a dessa família que saiu com medo que o barranco caísse em cima da casa onde moravam. Esses moradores aceitaram o auxílio moradia, já foi feita a mudança e a casa foi demolida. As outras famílias estão mais resistentes e não querem deixar o local. O nosso setor social vai tentar convencer as famílias a saírem das casas.
Petrini acrescenta:
— Os moradores estão na casa de cima, mas foram auxiliados a ficar de olho se tiver algum evento maior climático, alguma coisa nesse sentido para que saíam da casa.