Ponto de acesso tanto para quem entra na cidade pela RS-115, por Três Coroas, quanto para quem utiliza a RS-235, por Nova Petrópolis, o bairro Três Pinheiros, em Gramado, é o ponto com maior risco de desabamento no município desde o temporal de sexta-feira passada (17). Com 440 moradores, aproximadamente, o local teve as 125 casas evacuadas ainda no domingo (19). Na tarde desta quarta-feira (22), o bairro está completamente vazio.
Os números são de um levantamento feito por moradores do bairro e auxiliam a prefeitura nas ações para preservar vidas. Eles foram divulgados pelo representante da localidade, Éder Leandro Rossa. Desde o surgimento de rachaduras na Rua Ladeira das Acácias e de problemas na contenção de uma barreira, na Avenida Perimetral, prefeitura, Defesa Civil, Brigada Militar (BM) e Corpo de Bombeiros monitoram o local com o intuito de tentar entender qual seria a dimensão no caso de um desabamento.
Também na Rua Ladeira das Acácias, os residenciais Ana Carolina e Don Felipe também correm risco de desabamento. A rua fica em cima do bairro Três Pinheiros. Ainda na terça-feira, por volta do meio-dia, cerca de 50 moradores tentaram voltar ao local para pegar pertences e, uma hora depois, a BM interveio para retirar as pessoas devido ao risco.
— Conversamos com eles sobre o risco de estar ali. Tinha um casal que resistia em sair do local, mas conseguimos explicar que ali não dava para ficar. Agora, não tem mais ninguém no Três Pinheiros e vamos colocar tapumes nos dois acessos ao bairro para garantir que ninguém entre. Isso, além do monitoramento dos bombeiros e da BM — destaca o comandante da Brigada, Marcelo Montini.
Além disso, alguns moradores do bairro passam pela RS-115 e, ao se encontrarem, conversam e se abraçam, em clima de solidariedade e lamentação.
— Estamos ajudando quem queria voltar para pegar roupas com o que o município tem de doações. Até cesta básica nós conseguimos. O pessoal acaba pedindo no grupo que criamos (em aplicativo de mensagens) mais informações, até mesmo da situação de segurança das casas — ressalta Rossa.
Bairro de trabalhadores
Segundo um dos moradores, Alessandro de Oliveira Fassbinder, o Três Pinheiros começou a ser povoado nos anos 1970, quando a proximidade ao centro da cidade era um atrativo — uma distância de três quilômetros, sendo boa a localização para quem vinha trabalhar em Gramado.
— Na época ainda tinha muitas indústrias na cidade. Então, muita gente vinha da colônia e de outras cidades para trabalhar na cidade e ficava ali (no Três Pinheiros). Vai fazer 48 anos que meus pais moram ali — conta Fassbinder, que vive no bairro desde que nasceu.
O morador acredita que, atualmente, a maioria trabalhe no setor de turismo e tem moradia própria. Além disso, o bairro conta com transporte coletivo, escola e uma creche (EMEF Pedro Zucolotto). Na sua visão, nos anos 1990, o local era o destino de muitos paranaenses que vinham para a cidade. Já, a partir dos anos 2000, foi a vez de brasileiros vindos do Norte e do Nordeste.
— A gente vê toda a semana gente nova chegando no bairro com mala, cuia, mochila. Essas pessoas estão mais desamparadas porque não têm família perto, elas não têm ninguém que possa ajudar. São pessoas que vieram de fora há pouco tempo, que não tem ninguém aqui, que não se instalaram direito na cidade. Aí, foram para o abrigo para não ficarem desamparadas — comenta o morador, que trabalha como motorista de aplicativo de transporte focado no turismo.
O abrigo a que Fassbinder se refere é o ginásio da Escola Senador Salgado Filho, no bairro Piratini, o qual chegou a abrigar 38 pessoas na noite do último domingo. Na terça-feira, conforme último levantamento feito pela prefeitura, 20 adultos e 11 crianças seguiam no local.
Deslizamento em 2002
O morador ainda recorda que, entre setembro e outubro de 2002, um deslizamento de terra, durante uma obra do anel viário que passa pelo bairro, atingiu 10 casas.
— Foi um desespero, a gente teve que, de madrugada, tirar as pessoas pelas janelas, portas, quebrar telhados para resgatar gente. Cachorro mordido por cobra tem medo de linguiça. Ou seja, o que aconteceu há 21 anos ainda está na memória dos moradores. Temos trauma — desabafa Fassbinder, que está abrigado na casa de uma irmã.