Acreditar no Sistema Único de Saúde (SUS), ser parte dele e incentivar a participação de novos profissionais. No Dia do Médico, celebrado nesta quarta-feira (18) o Pioneiro traça um paralelo de duas gerações, que têm em comum a medicina diária e a resiliência de trabalhar com a saúde pública.
Quando começou a atuar em Caxias do Sul, em 1992, Dino de Lorenzi, 59 anos, um dos mais antigos em atuação na cidade, era um dos cinco ginecologistas contratados pelo município. No distrito de Galópolis, atendia em uma casa de madeira na época em que o SUS estava em criação e oferecia apenas exames de pré-natal e preventivos contra o câncer.
Concursado em 1998, exerceu funções de gestão, foi diretor de atenção básica, gerente de UBS e diretor técnico da saúde da mulher, onde esteve à frente, por 17 anos, do Programa Vigimama, que trabalha na prevenção do câncer de mama.
— Fomos vendo ao longo dos anos o fortalecimento do sistema público de saúde. Quando comecei não tinha o Hospital Geral e era tudo muito primário, não havia unidade de atendimento de gestantes de alto risco, por exemplo, o que aumentava as taxas de mortalidade infantil. Se passava por situações bastante críticas — lembrou De Lorenzi.
Sem nunca se filiar a partidos políticos, conviveu com diferentes secretários e diferentes correntes políticas. Para exercer cargos de gestão, se refinou dentro da profissão o que, segundo ele, lhe permitiu um entendimento melhor do SUS, fundamental, até hoje para se manter por mais de três décadas em atuação.
— Depende um pouco da vocação, eu tenho habilidade para fazer gestão, mas passamos por altos e baixos na profissão. Posso estar, hoje, em um cargo de diretor, mas nunca deixo de ser médico — disse.
O doutor Dino é um caso cada vez mais raro de médicos que permanecem por longos períodos na saúde pública. Professor da UCS, também mantém um consultório, onde atende de forma particular e por convênios. Para ele, atrair novos profissionais é um trabalho que necessita organização dos gestores públicos para tornar o sistema interessante:
— Foi o SUS que enfrentou a pandemia, as loucuras políticas e venceu um vírus que não se sabia como se comportava. Temos graves problemas de remuneração, o SUS tem que poder atrair financeiramente os médicos na mesma proporção que o privado. Um grande número de profissionais faz concurso, mas não assume. Hoje, as pessoas preferem ganhar mais e não ter estabilidade, até por conta das propostas de aposentadoria, que são muito distantes — considerou.
“Depois de especializada pretendo voltar para o SUS”
Formada em 2021 pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a clínica geral Juliana Susin, 28, começou a trabalhar na UBS Pioneiro por meio de um contrato emergencial, em janeiro de 2022. Aprovada no concurso, assumiu a vaga em agosto do ano passado, em uma escolha que levou em consideração a estabilidade da rotina:
— Não tenho muito perfil de emergência, gosto de conversar sobre prevenção com os pacientes. Estou estudando para as provas de residência e isso me possibilita mais tempo para os estudos do que fazer plantão, por exemplo — explicou.
As provas para iniciar a residência em dermatologia começam na próxima semana e, caso seja aprovada, o sistema público perderá, pelo menos por um tempo, mais uma médica:
— Quando for aprovada vou ter que abandonar o concurso. Os médicos mais jovens, como a maioria dos meus colegas, não tem procurado muito essa carreira por quererem se especializar. Mas, depois de especializada, pretendo voltar a atuar para o SUS — disse.