O paciente relata ao médico sintomas que está sentindo há alguns dias enquanto um software desenvolvido para funcionar como um cérebro, com quantidade ilimitada de dados, analisa as informações e oferece um prognóstico antecipado informando se aquela pessoa pode ter doenças como diabetes, infarto ou acidente vascular cerebral (AVC). Com precisão de 88% na avaliação, a Dara, primeira inteligência artificial (IA) brasileira voltada para a administração pública, é uma das atrações do 33º Congresso das Secretarias Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul (Cosems/RS), que ocorre nesta segunda (30) e terça-feira (31), em Bento Gonçalves.
Com um processo de cerca de um ano de desenvolvimento feito pela empresa Govtech IPM Sistemas, de Santa Catarina, a ferramenta foi lançada em maio deste ano e serve para auxiliar médicos na identificação e prevenção das três doenças. Conforme Ana Mees, engenheira biomédica e estudante de inteligência artificial aplicada no sistema de saúde, com o projeto é possível identificar se um paciente pode ter AVC ou infarto entre seis meses e um ano e meio antes delas se manifestarem. No caso da diabetes, o sistema faz o prognóstico com até três anos de antecipação.
— Esse é um software criado como um verdadeiro cérebro gigante virtual. O cérebro humano tem inúmeros neurônios que se conectam e formam uma rede, fazendo com que a gente tenha pensamentos. Essa mesma estrutura cerebral foi replicada de maneira virtual, que a gente chama de rede neural porque realmente imita a estrutura do cérebro humano. A diferença é que ela não tem limite biológico, é uma estrutura avançada que permite o acesso a milhões de dados, gerando essa análise. É como se existisse um cérebro com diversos médicos juntos focados em um problema específico — conta a engenheira.
Para que seja preciso no prognóstico, o software é treinado para analisar um problema ou situação específica. A partir desse "treinamento" e das informações fornecidas pelo paciente, o programa começa a responder questões sobre a possibilidade daquela pessoa ter uma das doenças.
— O software funciona para evitar que as pessoas desenvolvam doenças mais sérias e tenham tempo de reverter ou evitar quadros graves. É uma ferramenta criada para trabalhar em conjunto com os médicos — explica Ana.
A escolha de desenvolver o software para detectar AVC, diabetes ou infarto ocorre pela relevância das três no Brasil e no mundo. Conforme a engenheira, as doenças afetam diariamente pessoas novas ou causam sequelas que duram a vida toda. Por causa de AVC, por exemplo, 18 pessoas morreram entre os dias 1º e 26 de outubro deste ano somente em Caxias do Sul. No mesmo período foram oito mortes registradas por infarto no município. Os dados são do Portal da Transparência do Registro Civil analisados pela reportagem.
— A ideia é colocar esse software para rodar em massa porque, por exemplo, usando a base de dados do Sistema Único de Saúde (SUS) conseguimos mapear os bairros com aumento de casos de pessoas com AVC, infarto ou diabetes e, a partir disso, o município consegue fazer ações preventivas para evitar que os casos continuem aumentando — revela a engenheira.
Além das análises das doenças, o software também foi programado para mapear os melhores pontos de cidades para a existência de postos de saúde, considerando quantas pessoas moram nas regiões e as necessidades delas. A Dara também auxilia na gestão e no planejamento de educação, em canais de autoatendimento das cidades por meio de uma assistente virtual e, ainda, na organização estratégica de infraestrutura e mobilidade urbana.
Segundo Ana, as análises de dados utilizadas pela Dara respeitam a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) e está pronta para ser comercializada e aplicada nos consultórios, aguardando somente por trâmites legais da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Conforme a engenheira, a abrangência para análise de outras doenças está em processo de estudo e pesquisa para que, desta forma, a inteligência artificial se torne parte de uma nova era da medicina.
33º Congresso das Secretarias Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul
Com o tema central "IntegraSUS: Fortalecendo a integração das redes de atenção do SUS gaúcho" o 33º Congresso das Secretarias Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul (Cosems/RS) tem o objetivo de promover a discussão e o fortalecimento das Redes de Atenção à Saúde (RAS), para ampliar as melhorias na assistência à saúde.
O evento deste ano começa a partir das 8h30min desta segunda-feira (30), no Dall’Onder Grande Hotel, em Bento Gonçalves.