A falta de médico oncologista para atendimento pediátrico no Hospital Geral, em Caxias do Sul, impacta o tratamento de um grupo de pacientes da Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon). Desde a saída da médica responsável, dezenas de crianças precisam viajar da Serra a Porto Alegre para serem atendidos.
De acordo com Cila Ravadeli, o acompanhamento da doença do filho de 18 anos ocorria em Caxias do Sul e Porto Alegre. Aos 16, Nathan Ravadeli Leite foi diagnosticado com um tumor no Sistema Nervoso Central (SNC), passou por cirurgias e há seis meses fez um transplante de medula óssea, procedimento que ocorreu na Capital.
— Liguei para o Hospital Geral no dia 24 de agosto para marcar a consulta e disseram que não teria atendimento na oncopediatria. Somos de Veranópolis e lá a nossa referência é Caxias. Meu filho precisa ir para Porto Alegre fazer as manutenções do transplante, consultas e exames. Tem crianças que precisam de transplante, mas precisam passar pela quimioterapia e o tratamento está demorando por não ter oncologia pediátrica no HG — conta Cila.
A transferência das crianças para que sejam atendidas em Porto Alegre tem causado um transtorno ainda maior na família, que acompanha o tratamento do adolescente há cerca de dois anos e meio.
— Como pode uma criança fazer quimioterapia e ter que pegar estrada de Porto Alegre a Serra? As crianças ficam com plaquetas baixas, tem náuseas e algumas até sangramentos, tudo isso é risco que se corre depois da quimioterapia. Tem vezes que temos que ir e voltar várias vezes na semana porque não conseguimos um leito. O HG nos diz para termos paciência, mas não tem como ter paciência, os tratamentos não podem parar. É falta de respeito com pais e crianças que passam por esse tratamento dolorido. As crianças correm risco de entrar em óbito na estrada por causa dessa situação — lamenta a mãe.
Situação semelhante é vivenciada por Daniela Miglioretto Bolzan, mãe de Felipe Bolzan, 8 anos. A família mora em Nova Prata e o percurso até Caxias, que durava cerca de duas horas, dobrou para chegar até a Capital.
— Para Caxias, que são duas horas, meu filho passa mal e não se alimenta, é muito angustiante a viagem. Imagina precisarmos fazer esse mesmo tratamento em Porto Alegre, que são em média quatro horas de viagem? Hoje o Hospital Geral atende 49 municípios da Serra, imagina todos terem que se deslocar a Porto Alegre para tratamento? Além da distância, tem a dificuldade de conseguir vagas em um centro de saúde maior — diz Daniela.
Felipe foi diagnosticado em julho do ano passado com Leucemia Linfoide Aguda (LLA), tipo de câncer mais frequente na infância. Segundo Daniela, o menino precisa seguir com o tratamento em Caxias até que haja um transplante de medula óssea. Caso Felipe fique sem a quimioterapia o câncer progride novamente.
Com o objetivo de reforçar o pedido pelo retorno do atendimento com médico oncologista no HG, um grupo de mães de pacientes da ala pediátrica marcou um protesto para o próximo sábado (28), a partir das 13h30min, em frente à Unacon.
O que diz o HG
À reportagem, a assessoria de comunicação do Hospital Geral informou que a contratação de dois médicos oncologistas pediátricos está em andamento e ambos devem assumir o cargo a partir do início de novembro. O período vivenciado pelas famílias que precisam ir até Porto Alegre, conforme o HG, ocorreu devido à dificuldade de encontrar médicos desta especialidade.
Ainda conforme a assessoria, durante o período de buscas pelos novos profissionais, médicos de outras especialidades prestaram atendimento aos pacientes da oncologia, que não ficaram desatendidos.
O HG reforça que, a partir da chegada dos dois novos profissionais, a ala da oncologia pediátrica estará operando totalmente. O hospital não informou o dia exato em que os dois médicos passam a atuar no local. Os novos profissionais são de outras cidades do Rio Grande do Sul.