O dia ensolarado e frio deste domingo (18) foi apreciado com sentimento de saudade entre os participantes da Feira do Vinho, que terminou em Caxias do Sul. A edição deste ano teve como tema "Curta os Vinhos de Caxias" e reuniu, na Praça Dante Alighieri, no Centro, atrações artísticas, diversidade de vinhos, sucos e espumantes, além de receitas coloniais inspiradas na cultura italiana.
Para Jurema Secco, 60 anos, que levou um dos destaques gastronômicos, a cuca de vinho, eventos como a feira são uma forma de valorizar a cultura italiana. A mulher, que aprendeu a cozinhar quando ainda era criança, usa a criatividade para desenvolver receitas próprias e únicas para cada realização no município. Além da cuca, outros destaques foram quentão, bolachas coloniais e grostoli.
— Ouvimos do pessoal e concordamos. Precisamos de mais eventos como este, porque chega no domingo e as pessoas querem ir na praça, experimentar uma gastronomia italiana e não tem isso aqui em Caxias. Nas cidades vizinhas tem, mas nós não temos. Tem que trazer mais eventos como este para a cidade e mostrar para o público algo da região e da colonização italiana —sugere.
Com os dedinhos já coçando para as próximas edições, a mulher prometeu levar para a Festa da Uva 2024 itens como pão de uva e sonho de vinho. Conforme Jurema, cada receita desenvolvida é uma forma de homenagear comidas de época, como pinhão e uva, além de resgatar gastronomicamente costumes trazidos pelos italianos. Sem precisar de cadernos de receita, as mãos hábeis misturam os ingredientes com o som que nasceu com ela.
— Demoro um bom tempo para fazer as receitas, porque precisa ficar do jeito que eu quero, se não ficar eu faço e desfaço até dar certo. A ideia de fazer o pão de uva veio pensando nas nonnas de antigamente. A minha nonna, quando ia fazer o pão e eu estava na casa dela, ela sempre fazia o pão enroladinho com grãos de uva. É isso que tem que resgatar, não só a cultura italiana, mas a gastronomia também, acho que está se perdendo um pouco isso — avalia Jurema.
Aproveitando o espaço da praça de alimentação na Feira do Vinho, que foi montado debaixo da tenda, duas amigas são exemplos da importância de iniciativas como a mencionada por Jurema. Nascidas na Venezuela, as mulheres encontraram nesta edição uma forma de se conectarem ainda mais com a cultura italiana.
Para Maria Luisa Ramirez Fernandez, 46, o frio caxiense ainda surpreende. Quando desembarcou no município, em 2019, não esperava encontrar a sensação de estar em uma "geladeira de mercado", mas acabou se encantando com o município, a tranquilidade e a limpeza da cidade, que foram essenciais para que decidisse não voltar para o país de origem.
— Acho muito legal a feira, porque é uma oportunidade de aprender a cultura daqui, aprender os tipos de vinhos que têm aqui e os sucos. A gente experimentou os sucos e acabamos comprando porque gostamos muito. A comida também é muito boa e aqui tem música. Estou há quatro anos (na cidade) e a feira é uma atração diferente. Mesmo fazendo frio, a gente gosta muito da cultura italiana e de nos conectarmos com ela — conta Maria.
A amiga Dinora Bello Diaz, 38, concorda com a opinião de Maria e afirma que encontrou em Caxias do Sul a mudança que estava buscando para a própria vida. Além disso, poder experimentar a gastronomia a fez ficar com o coração dividido em dois.
— Cheguei aqui em Caxias por ela (Maria), queria um novo começo para a minha vida e cheguei aqui. Maria disse que fazia frio e eu amo frio. Me mudei, trouxe minha sogra, que morava no México, e ela também amou Caxias e também Gramado. Gostamos muito da feira, porque gosto muito da gastronomia. Posso dizer que meu coração está por outras terras, mas meu estômago está aqui, definitivamente (risos) — afirma Dinora.
Já entre os expositores que levaram sucos para o evento estava a empresa Lovatel. Com vinhos finos e de mesa, produzidos em Caxias de diferentes formas e com as mais variadas uvas, as opções encantaram o paladar das duas amigas.
— Também trouxemos quentão com álcool e sem álcool. Nossos sucos são 100% integrais, sem adição de açúcar ou água. Aqui dentro tem 100% de uva, que é cozida, pasteurizada e engarrafada. A empresa é familiar e é aqui de Caxias mesmo — conta Guilherme Lovatel.
Na tarde deste domingo, o secretário municipal de Turismo, Ricardo Daneluz, esteve na Praça Dante Alighieri, acompanhando a Feira. Ele disse que, em termos gerais, tanto o público quanto os expositores, incluindo o setor de gastronomia, aprovaram o evento.
— O retorno tem sido bem positivo. Entre as novidades que as pessoas citaram estão as atrações musicais e, na parte da alimentação, elas disseram que gostaram pois havia muitas opções como a polenta brustolada, o grostoli, a cuca de vinho e até o pastel de uva.
O secretário não revela como deve ser a feira em 2024. Mas ouviu dos visitantes que a prefeitura deveria utilizar mais os espaços públicos na promoção de eventos.
— Trocamos ideia com todos, e claro, sempre tem ajustes a se fazer, então, nessa semana ainda vamos conversar com o pessoal das vinícolas e da alimentação para ver o que ainda pode melhorar. E conversando com as pessoas que frequentaram o evento, muita gente disse que tinham de ter mais atividades como essa.
Alvará turístico em Caxias do Sul
Na solenidade de abertura da feira, que ocorreu na sexta-feira (16), o secretário do Turismo, Ricardo Daneluz, apresentou, de forma oficial, o projeto de criação do Alvará Turístico do Município. O presidente da Câmara de Vereadores, José Dambrós, recebeu o projeto que será debatido e votado pelo Legislativo.
Tendo por referência ferramenta simular já adotada em Bento Gonçalves, a proposta tem como objetivo ordenar o setor, sem que represente mais burocracia. O pré-requisito exigido para que a empresa se beneficie da solução é que seja inscrita no Cadastro de Prestadores de Serviços Turísticos (Cadastur) do Ministério do Turismo, que inclui pessoas físicas e jurídicas que atuam no setor turístico.
O alvará possibilita mensurar a quantidade de empresas abertas no setor turístico, quantas pessoas trabalham na área e a medição do crescimento para poder definir estratégias de fomento ao ramo, sem custo adicional ao empreendedor.