Acompanhando os números do Rio Grande do Sul, a Serra gaúcha vem registrando menos furto de gado. A redução, constatada no ano passado, vem se mantendo ao longo dos primeiros meses de 2023, segundo dados da Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP). Enquanto janeiro deste ano fechou com 21 casos, fevereiro teve 20, março registrou 14 abigeatos e abril somou 12 casos. Somando o total de ocorrências neste ano, a média mensal é de 16 abigeatos. Em 2022, a média mensal era de 23 casos. Já, em 2018, era de 32.
O levantamento contempla os 49 municípios de abrangência do Pioneiro. Em 2018, foram 389 abigeatos (média de 32 registros por mês). No ano seguinte, a polícia registrou 324 casos (média de 27 por mês). Em 2020, foram 298 (média de 24 por mês). Já em 2021, o número voltou a subir, quase retornando ao patamar de 2018: foram 361 casos de abigeato (média de 30 casos por mês). Em 2022, a diminuição voltou a ser percebida, chegando a 287 abigeatos (média de 23 casos). Veja a comparação no quadro abaixo.
Números em Caxias chamam atenção
Ao lado de Jaquirana, Caxias do Sul lidera o ranking de abigeatos no primeiro quadrimestre de 2023. Os dois municípios têm oito crimes cada no período. O secretário da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Smapa) de Caxias do Sul, Rudimar Menegotto, avalia que os números precisam zerar, não apenas diminuir.
— Quando se fala em queda, pode ser considerada boa, mas também não totalmente, porque nós estamos falando em queda, não acabou. Ainda nós temos problemas. O abigeato era feito de caminhão, carregavam várias cabeças e levavam embora da propriedade. Agora, segundo os moradores, está acontecendo, mas com roubos pequenos, em que eles acabam matando, carneando na própria propriedade e levando, às vezes, nem tudo ou a parte que mais interessa — explica Menegotto.
O titular da pasta acredita que o cercamento eletrônico em Caxias do Sul, que deve entrar em operação até o final deste ano, será um aliado no combate ao crime no município.
— A minha esperança é que, com o cercamento eletrônico, haja uma diminuição ainda maior. A gente gostaria que zerasse, que bom que isso acontecesse, mas ainda é muito difícil de dizer que isso vai acontecer — opina o secretário.
Menegotto frisa a importância de registrar na polícia todo os furtos, pois só assim as autoridades terão noção da situação real.
Um produtor de Vila Seca, que prefere não se identificar, conta que já sofreu com o furto de gado duas vezes. Uma em 2018 e outra em abril deste ano.
— Dessa (última) vez, foi uma terneira e uma vaca prenha de cinco meses. Não notei nem uma redução, ali na nossa região continua a "bandidagem".
Avanço importante nos Campos de Cima da Serra
Abigeato sempre foi um grande problema nos municípios dos Campos de Cima da Serra. Entretanto, os números de janeiro a abril deste ano trazem esperança. Bom Jesus, que encerrou 2022 com o segundo maior número de casos em cinco anos — 32 registros, perdendo apenas para as 37 ocorrências de 2021 —, teve, até o momento, cinco furtos. Ou seja, abaixo da média mensal do ano anterior, que oscilava entre 2 a 3 casos.
Cinco casos também é o número registrado em Vacaria. Cambará do Sul, por exemplo, tem dois abigeatos neste ano. Já São Francisco de Paula soma sete.
— Na nossa região deu uma amenizada. Foi um resultado do trabalho da Polícia Civil e da Brigada Militar, junto do Poder Executivo. Uma equipe se mobilizou, porque no ano passado a gente teve números bem preocupantes, mas esse ano a gente conseguiu já dar uma boa amenizada — avalia a prefeita de Bom Jesus, Lucila Maggi Morais Cunha.
Força-tarefa
Os dados seriam efeito de ações de policiamento, pois o governo estadual colocou em operação uma força-tarefa para combater o furto de gado. Desde 2016, a Polícia Civil e a Brigada Militar realizam operações para reduzir o crime, com o uso de sistemas de informação e de inteligência, possibilitando a abertura de mais inquéritos, mais prisões e conhecimento sobre o modo de atuação dos criminosos.
— Os praticantes do abigeato costumavam ter amplo território para trabalhar. Antes das delegacias, faltava conexão entre cada crime isolado. Atualmente, cada equipe enxerga a atuação criminosa como uma rede onde as ações de prevenção se relacionam. As informações da reincidência ajudam a qualificar os inquéritos, conectando mais de um crime aos ladrões de uma mesma organização criminosa, o que resulta em mais prisões e maior tempo de permanência pagando pelos delitos — explicou o diretor do Departamento de Polícia do Interior da Polícia Civil, delegado Anderson Spier, à GZH.
O subcomandante-geral da Brigada Militar, Douglas Soares, destaca que a parceria de outros órgãos, como Polícia Rodoviária Federal (PRF), sindicatos rurais e Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação reforça o combate ao crime. Ações realizadas nas fronteiras com Uruguai e Argentina, além das próprias áreas rurais, resultam nas apreensões de grãos, agrotóxicos e outros produtos, que apesar de não terem relação direta com os furtos de gado, também causam insegurança ao meio rural.
— A atuação na zona rural também contribui com a qualidade de vida de quem vive em centros urbanos — comentou o subcomandante à GZH.