Lidar com a morte jamais será uma tarefa fácil. Quando ela é causada por um inesperado acidente de trânsito, a dificuldade do luto se multiplica. É por esse choque de realidade que a família de Ermida Olympia Danieli dos Reis, 84 anos, está passando desde que recebeu a notícia de que a idosa havia sido atropelada e arrastada por um caminhão em Caxias do Sul. A fatalidade ocorreu na tarde desta terça-feira (9), no bairro Desvio Rizzo.
Ermida é descrita pelos familiares como uma pessoa muito alegre e querida por todos. Natural da Linha 40, em Caxias, a idosa morava no bairro há mais de quatro décadas e adorava passar o tempo cuidando de sua horta. Segundo o sobrinho Volnei Brombatti, 56 anos, ela era totalmente independente e dificilmente pedia ajuda para realizar alguma tarefa.
— Ela gostava de fazer a feira aqui do bairro e encontrar as amigas de manhã. Gostava muito de ir na agropecuária comprar as mudinhas de verduras. Adorava flores. Na casa dela tinha muitas flores e folhagens. Quando ela tinha que fazer qualquer coisa, nunca pedia para ninguém. Sempre se virava sozinha, pegava o ônibus e ia fazer as coisas dela no centro. Era uma pessoa muito ativa e independente — lembrou Brombatti.
Extremamente lúcida, Ermida convivia diariamente com a família. Segunda mais velha de quatro irmãs, a idosa passou por quatro casamentos e, recentemente, precisou se despedir de seu companheiro, que morreu após 13 anos de relacionamento. Além das irmãs Maria, 94, Clari, 82, e Terezinha, 72, Ermida também deixa o irmão por parte de pai, Rubens, 55.
Apesar de não ter tido filhos, Ermida era considerada uma mãe pelos sobrinhos. Adorava colher legumes e verduras para entregá-los de presente aos familiares. De acordo com Brombatti, a tia era muito dócil e querida e não discutia com os sobrinhos.
— Ela era só carinho, só presente. Muito querida, alegre, uma pessoa para cima. Ela fez várias cirurgias de coluna, mas nunca se entregou. Até agora ela continuava mexendo na horta e o prazer dela era entregar esses presentes (os legumes e verduras) para a gente. Esse é o legado que fica para nós. Ela me adotou como filho, me chamava de filho. Brincava com a minha mãe e dizia "mãe do céu, eu não sou filho dela e vocês não me contaram essa história?" (risos). A tia adorava quando eu dizia que ela era minha mãezinha, ficava numa felicidade só — contou o sobrinho.
Volnei conta também que, antes de ser atropelada, Ermida almoçou com a irmã Clari, visto que elas haviam combinado de realizar o pagamento do plano de saúde e retirar a aposentadoria. Segundo ele, após sair do banco, Ermida se dirigiria até uma agropecuária, quando foi atravessar a rua e foi atingida pelo caminhão.
— Em um primeiro momento, a gente pensou que ela teria quebrado uma perna, batido a cabeça, um acidente que acontece. Só que quando a gente chegou no plantão e o pessoal do Samu começou a relatar o que ocorreu com ela, foi muito difícil. Fomos criados praticamente como filhos. Ela conviveu a vida toda com a gente, a gente cresceu junto com ela, era nossa segunda mãe. Só caiu a ficha no momento em que o rapaz do Samu nos levou até a maca onde ela estava e a gente reconheceu o corpo — explicou.
Ermida foi sepultada no final da tarde desta quarta-feira (10).
Relembre o caso
Ermida Olympia Danieli dos Reis, 84 anos, morreu após ser atropelada e arrastada por um caminhão baú, na tarde desta terça-feira (9), no bairro Desvio Rizzo, em Caxias do Sul. De acordo com informações repassadas pelo motorista à Brigada Militar (BM), ele saia da Rua José Bresolin para acessar a Rua Cristiano Ramos de Oliveira, quando percebeu que havia atropelado uma pessoa. Segundo relatado à BM, o condutor andou por cerca de 20 metros, parou e viu que a mulher estava embaixo do veículo.
A vítima foi socorrida pelo Samu e encaminhada para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Central, mas morreu antes de chegar à unidade. O motorista não se feriu e foi retirado do local para evitar tumultos. O caminhão foi removido por um guincho e passará por perícia.