Símbolos nazistas em fotos e vídeos, propagandas da época do nazismo na Alemanha e um livro sobre a história de Adolf Hitler foram alguns dos itens encontrados com Fábio Lentino, Rodrigo de Jesus e Saiuri Reolon. Eles também têm tatuagens com imagens que remetem ao neonazismo e usavam objetos e acessórios com os símbolos, como pingente e relógio.
Os dois primeiros, moradores de Caxias do Sul, e o terceiro, de Bento Gonçalves, estão entre os 10 acusados de integrarem uma célula skinhead neonazista — seis deles gaúchos —, presos pela segunda vez na última semana. A primeira prisão dos caxienses ocorreu em março deste ano, enquanto o morador de Bento, em novembro do ano passado. Todos os integrantes haviam sido liberados no dia 7 de abril por uma decisão da Justiça catarinense.
De acordo com o delegado da Polícia Civil Arthur Lopes, titular da Delegacia de Repressão ao Racismo e a Delitos de Intolerância de Santa Catarina, os acusados foram novamente presos porque houve uma troca de juiz e o novo responsável pelo caso fez uma reanálise do processo e foi entendido que eles não deveriam estar soltos.
Em medida cautelar, o desembargador do Tribunal de Justiça (TJ) de Santa Catarina Ernani Guetten de Almeida decretou a prisão preventiva dos homens, afirmando que o grupo tem histórico criminal — alguns deles por envolvimento com porte ilegal de arma de fogo, tentativa de homicídio e homicídio consumado. Além disso, o desembargador menciona não ser possível "esperar a execução de um plano macabro para se reconhecer o perigo que materializam". Todos os integrantes permanecerão presos na Penitenciária de Florianópolis durante o decorrer do processo, sem prazo para serem liberados.
Após o recurso do Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC) emitido no dia 18, o Núcleo de Inteligência e Segurança Institucional (NIS) do TJ, em conjunto com a Polícia Civil, fez a recaptura dos réus, que estavam em Santa Catarina, no Paraná, no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais.
Conforme o processo, ao qual a reportagem teve acesso, o grupo funcionava com hierarquia, onde cada membro tinha uma função. A investigação apontou que Fábio e Rodrigo teriam funções inferiores aos demais, dando suporte a uma ramificação de uma organização mundial, que defende ideais de supremacia branca, racista e xenófoba.
Ainda segundo a polícia e o Ministério Público, o propósito dessa organização e da ramificação criada pelo grupo seria "disseminar o ódio por meio de música de rock, com a temática White Power". Para fazer parte da organização, as pessoas precisariam cometer crimes de ódio, com recurso à violência. No caso de Saiuri, a função dele era de tesoureiro do grupo.
Com Rodrigo, a polícia encontrou o livro de Hitler, um pingente contendo o símbolo da suástica nazista e um relógio com a caveira Totenkopf, que tem o significado de colocar a vida daqueles que a possuem em jogo pelo bem de todo um ideal. Fábio tem a tatuagem do Sol Negro (símbolo nazista) e diversas mídias físicas com o elemento. Saiuri tinha armazenado no celular vídeos e fotos com a suástica, além de veicular símbolos e propagandas do nazismo. Os itens, conforme o processo, eram para divulgar o neonazismo a outras pessoas.
Ainda segundo o processo, os dois integrantes caxienses estavam em uma propriedade em Santa Catarina, mas tinham deixado local um dia antes da operação realizada em novembro de 2022, quando oito integrantes foram presos em flagrante, incluindo o de Bento Gonçalves. Na ocasião, a Polícia Civil deflagrou mandados durante uma reunião da célula que ocorria em São Pedro de Alcântara, na região da Grande Florianópolis.
Conforme as investigações, o grupo já estava sendo monitorado e a célula funcionava no município por ser a primeira colônia alemã do Estado catarinense, instalada em 1829. Durante as reuniões, o grupo tinha como suposto propósito praticar, incitar e cultuar a discriminação e o preconceito de raça, cor, etnia e religião por meio da idolatria ao nazismo. O grupo, que cobrava mensalidade dos integrantes, agia em diferentes Estados e angariava membros que defendessem os mesmos ideais.
Além dos três moradores da Serra, outros três integrantes também são do Rio Grande do Sul: Laureano Vieira Toscani e Julio Cezar de Souza Flores Júnior, ambos de Porto Alegre, e Gustavo Humberto Byk, de Eldorado do Sul. Os demais integrantes presos novamente que são originários de outros Estados são: Rafael Romann e Miguel Angelo Gaspar Pacheco, ambos de Santa Catarina, João Guilherme Correa, do Paraná, e Igor Alves Vilhaça Padilha, de Minas Gerais.
Ainda conforme o processo, os membros tinham um grupo no Telegram para organizar reuniões e trocar mensagens. As investigações suspeitam que o grupo também atue em sites da deepweb e darkweb, onde as chances de identificação e controle são mínimas.
O que diz a defesa dos réus
A advogada de Fábio e Rodrigo, Daiane de Oliveira, enviou uma nota na manhã desta terça-feira (25), informando que "houve a apresentação espontânea dos acusados. Sendo que em razão do sigilo da própria ação, a legalidade e requisitos da prisão preventiva serão devidamente discutidas no bojo da ação penal".
A reportagem não conseguiu o contato da defesa de Saiuri Reolon até a publicação desta matéria, nem dos demais réus.