Caxias do Sul irá receber uma planta piloto para a geração de energia a partir de resíduos sólidos. A unidade de teste será instalada na área do aterro sanitário Rincão das Flores e integra o projeto para implantação de uma usina em escala industrial para atender 32 municípios da região.
A planta provisória é uma exigência da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) para a emissão de licenças ambientais da tecnologia, que é inédita no Estado. Dessa forma, os testes permitirão avaliar o impacto da processo de geração de energia no meio ambiente.
A usina terá capacidade de tratamento de cinco toneladas por dia e vai utilizar tecnologias desenvolvidas por pesquisadores da Universidade de Caxias do Sul (UCS). Entre os processos de decomposição estudados estão a pirólise, que decompõe materiais por meio do calor e resulta em combustível líquido e também em uma espécie de biocarvão, que pode ser utilizado na produção de biofertilizantes. Outro tratamento é a biodigestão do chorume (o líquido gerado pelo lixo) que resulta em gás que pode ser utilizado como combustível.
A implantação da unidade de teste integra a fase dois do projeto e será dividida em etapas. A primeira delas é o desenvolvimento do projeto da planta e o encaminhamento do pedido de licença ambiental de instalação, que consiste na autorização da Fepam para a construção da unidade. Os responsáveis pelo projeto já solicitaram em dezembro a licença prévia, que analisa as características ambientais do terreno e determina regras a serem seguidas para diminuir o impacto da construção.
Conforme o professor da UCS e coordenador do projeto, Marcelo Godinho, a ideia é que os custos desta etapa sejam compartilhados entre os municípios participantes. A ideia é que a documentação esteja pronta em quatro meses e seja enviada à Fepam para a obtenção da licença de instalação. A construção da unidade, a segunda etapa, ainda não tem recursos garantidos e nem prazo, já que depende dos trâmites do órgão estadual. A terceira etapa será a obtenção da autorização de operação e o acionamento da unidade de teste em si.
A avaliação do funcionamento da planta piloto dará à Fepam subsídios para o licenciamento ambiental de uma futura usina em escala industrial, que permitirá à região ter uma nova fonte de energia a partir de resíduos que atualmente são descartados. Além de dar um encaminhamento mais ecológico ao lixo, a medida permitirá redução de custos à maior parte dos municípios que atualmente encaminham os resíduos a outras cidades.
— O maior valor não é a máquina, é a licença. Nossa meta é a busca pela licença porque com ela vão surgir interessados (em implantar a usina). A licença será patrimônio dos municípios — destaca Godinho.
Lixo passou por análise
As conversas para a implantação da usina de resíduos sólidos tiveram início em 2019, quando o Conselho Regional de Desenvolvimento da Serra (Corede Serra) e o Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento Sustentável da Serra Gaúcha (Cisga) buscaram a UCS com o objetivo de avaliar formas de dar outros encaminhamentos ao lixo produzido na região. A instituição já realizava pesquisas na área e aceitou desenvolver os estudos necessários.
Com o início da pandemia em 2020, o projeto ficou na fase de discussões e os contratos entre a UCS, as entidades e os 32 municípios participantes foram assinados no início de 2022. Ao longo do ano passado, o processo se debruçou na análise das características do lixo produzido em cada município.
— As cidades mandavam amostras para a UCS proporcional ao número de habitantes — explica Godinho.
Ao longo de todo o processo, integrantes da Fepam e da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, incluída a secretária Marjorie Kauffmann, participaram das conversas. A etapa de implantação da usina de testes é baseada nos resultados colhidos na análise dos resíduos. Os dados, inclusive, serão apresentados oficialmente no próximo dia 23 na Câmara de Indústria e Comércio (CIC) de Garibaldi.
Projeto paralelo avalia concessão
Outra frente de trabalho liderada pelo Cisga e pela prefeitura de Caxias do Sul pretende desenvolver um projeto de uma parceria público-privada para a implantação da usina definitiva. Os estudos serão realizados pela Caixa Econômica Federal (CEF) e devem durar cerca de 12 meses. O objetivo é desenvolver um modelo de parceria que permita operação da usina pela iniciativa privada.
Conforme o secretário de Parcerias de Caxias, Maurício Batista da Silva, a tecnologia desenvolvida na parceria com a UCS e que será testada na planta piloto será considerada nos estudos de modelagem. No entanto, outras formas de geração de energia também serão analisadas.
— É muito importante ter a tecnologia, mesmo que em estágio piloto, operando aqui em Caxias do Sul — afirma.