O Conselho Municipal de Saúde (CMS) está preocupado com as constantes faltas de leitos em Caxias do Sul. Até o início da noite desta segunda-feira (30), 49 pacientes da Serra estavam na lista de espera por leitos nos hospitais que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em Caxias do Sul, 25 pessoas estavam nas unidades de pronto-atendimento (UPAs) à espera de vagas nos Hospitais Geral e Pompéia, conforme a própria Secretaria Municipal da Saúde (SMS). Outras 24 ocupavam as UPAs e hospitais de outras cidades da região.
O tempo de espera, segundo o CMS, é de cerca de 10 dias, em alguns casos. O presidente do CMS, Alexandre de Almeida Silva, ressalta que há uma norma técnica e uma recomendação do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers), que estabelece que o paciente pode ficar até 24 horas na UPA, que é um sistema de urgência e emergência. Ele também afirmou que cinco pessoas já morreram em 2023 em razão da demora para conseguir leito, informação que foi rechaçada pela SMS (veja nota abaixo).
O presidente volta a citar Bento Gonçalves como um exemplo a ser seguido para reduzir o número de pacientes na fila de espera em Caxias. Está em andamento no município vizinho a construção de um Complexo Hospitalar, com Centro Clínico de Imagem e Diagnóstico. Para Silva, a construção de um centro de diagnósticos e de um bloco cirúrgico ajudará a reduzir o número de pessoas na fila:
— Muitos pacientes aguardam na UPA por mais de 10 dias por exames clínicos mais complexos, que precisam ser feitos em hospitais. Depois, quando conseguem a vaga, ficam ali dentro do hospital de duas a quatro horas e são liberados. Teve um paciente de 94 anos que ficou esse tempo todo na UPA para fazer um exame no hospital e depois foi liberado — explica Silva.
O presidente do CMS explica que já fez diversos encaminhamentos para a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e para o município sobre a necessidade de planejamento a curto, médio e longo prazos. Ele relata que o CMS recebe pedidos de ajuda de famílias que não suportam presenciar a angústia de ver integrantes da família sofrendo nos hospitais à espera de vagas. Somente em janeiro já foram mais de 50 pedidos de ajuda.
— Muitas vezes, o quadro de saúde do paciente se agrava enquanto o familiar não tem o que fazer para confortar quem espera. A gente vê o paciente agonizando e os familiares desesperados, cobrando ações das técnicas em enfermagem, enfermeiros e médicos — lamenta Silva.
Segundo Silva, um desses pacientes estava à espera de leito desde a última sexta-feira (27). A família, que não quer se identificar, contou que é a segunda vez que ele fica nessa espera, com cuidados paliativos na UPA. O idoso de 73 anos conseguiu leito no Pompéia na manhã desta segunda-feira (30). Conforme a família, o idoso já deveria ter sido encaminhado para o Pompéia, mas o próprio Samu o levou para a UPA, alegando falta de leitos. Ele estaria com o rim comprometido, segundo o relato dos familiares.
Espera longa demais
Com relação às possíveis cinco mortes ocorridas este ano, Silva diz que, quando as pessoas vão para o hospital, o controle é realizado pela instituição de saúde e pela SMS. Por isso, o Conselho não tem como mensurar os óbitos depois de conseguir a vaga:
— Teria que ser feito um estudo pelo Ministério Público ou pelo Cremers para ver o impacto disso. Familiares nos avisam quando a dor diminui um pouco, até meses depois para relatar que o familiar morreu logo depois de ser hospitalizado.
No início da noite, a SMS divulgou nota na qual diz que as circunstâncias de óbitos precisam ser analisadas pela comissão interna e que “é leviano, irresponsável e desrespeitoso para com as famílias atrelar as causas à falta de leitos ou a qualquer outra que não tenha sido devidamente comprovada”.
O CMS pretende se reunir com a Comissão de Saúde da Câmara de Vereadores e com os hospitais Pompéia e Geral. Ele também defende a necessidade de um encontro regional para debater o assunto, uma vez que Caxias do Sul é referência para outras cidades da Serra. A ideia é retomar as contribuições para a manutenção da rede dos hospitais.
Bento terá complexo hospitalar
A secretária de Saúde de Bento Gonçalves, Tatiane Misturine Fiorio, ressalta que o projeto de construção do um complexo hospitalar está em andamento em Bento Gonçalves. Os projetos estão prontos e aprovados pela 5ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS) e serão realizados em duas etapas. Ela explica que será um centro de diagnóstico por imagem completo, que atenderá os pacientes que estiverem internados nos leitos hospitalares e também para pacientes que necessitam de exames eletivos. Ela destaca que, com relação aos leitos, o déficit é histórico, não só em Bento Gonçalves, mas em todo o Estado.
— A construção do complexo hospitalar visa suprir esse déficit para dar atendimento à população. O Centro de Imagem já está com o projeto pronto e a primeira fase já está em processo licitatório. Quando estiver concluído, vai funcionar também como uma central diagnóstica para pacientes eletivos. O paciente que tem uma suspeita de alguma intercorrência ou precisa de algum exame eletivo, vai poder fazer nesse centro de imagem. Assim, dará celeridade ao tratamento, sem precisar ter um agravamento ou sem uma complicação para que porventura necessite de uma internação hospitalar.
Nota da SMS
"As circunstâncias de óbitos ocorridos em estabelecimentos de saúde precisam ser analisadas pela comissão interna de investigação de óbito da instituição, portanto, é leviano, irresponsável e desrespeitoso para com as famílias atrelar as causas à falta de leitos ou a qualquer outra que não tenha sido devidamente comprovada.
Desde o início de janeiro, a CRL já realizou a regulação de 874 pacientes. Dentre os que estavam nas duas UPAs, o tempo médio de espera para regulação foi entre 21 e 23 horas, variando conforme o quadro clínico e qual hospital que presta o atendimento de saúde específico que cada paciente necessita. Diferentemente do afirmado pelo Conselho Municipal de Saúde, casos de maior espera têm sido exceção. A média para aqueles que aguardam mais tempo tem sido de três a quatro dias.
Embora a população de Caxias tenha crescido exponencialmente, como é de conhecimento de todos, desde 2015 o Município não tinha novos leitos de UTI incorporados à rede SUS. Em abril de 2022 a população passou a contar com mais 34 (16 de UTI e 18 de enfermaria), todos custeados pelo Município por R$ 900 mil ao mês. Sem esses leitos, certamente o tempo de espera seria muito maior.
Nesta segunda-feira, são 25 pacientes em UPAs de Caxias do Sul e 24 que estão em outros municípios, justamente porque precisam de vaga em hospitais referência em Caxias do Sul (Pompéia e Geral). A SMS lembra, ainda, que a Central de Regulação de Leitos (CRL) de Caxias faz a triagem de pacientes de Caxias do Sul e de mais 48 municípios da Macrosserra. Por esse motivo, comparar a realidade com Bento Gonçalves, cidade que não possui as mesmas referências de atendimento que Caxias possui, além de não refletir a realidade, leva à desinformação".