Caxias do Sul somou-se aos municípios com casos de mortes de abelhas por intoxicação de inseticida na Serra gaúcha. Após ocorrências em Veranópolis, Cotiporã e Fagundes Varela, a Polícia Civil do maior município da região também investiga dois casos de uso irregular do fipronil, substância que ataca o sistema nervoso das abelhas, levando-as à morte.
Só o apicultor Delmo Trentin, na Terceira Légua, interior de Caxias, perdeu ao menos 3 milhões de abelhas. Trentin perdeu 100 colmeias, em agosto deste ano, e nove, há 15 dias. Cada uma pode abrigar de 35 mil a 80 mil abelhas. Este é o quarto ano consecutivo que ele registra a mortandade em seu apiário, tendo a estimativa de 200 colmeias perdidas ao todo. A comercialização do mel é sua segunda fonte de renda, perdendo apenas para as uvas.
— Quando tu chega no apiário e vê (as abelhas mortas), dá uma tristeza. Já pensei em desistir (da apicultura), mas não sei se é o signo ou o quê, não sou de desistir — diz o apicultor.
O calculo do prejuízo chega a seis dígitos. As colmeias perdidas, só em 2022, representam 5 mil quilos de mel perdido, que é comercializado a R$ 20 o quilo. O resultado da conta é R$ 100 mil.
— Vou levar uns três anos para recuperar. Eu fiz o exame para ver o motivo da morte e no laudo saiu que tinha 2,5 mg/quilo de fipronil nas abelhas. Estão usando puro nas videiras — denuncia Trentin.
Ele e mais dois apicultores de Caxias juntaram-se para o registro de boletim de ocorrência na Polícia Civil. Há, inclusive, ameaças de morte para que os apicultores não levem a história adiante.
Segundo o delegado Edinei Albarello, responsável pelas investigações, há dois boletins sobre mortes de abelhas na 3ª delegacia de polícia. Os casos estão em investigação, mas ainda não há autoria dos crimes.
Quem acompanha os casos na Serra é a Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr). A pasta informa que, só este ano, são 54 investigações de morte de abelhas por intoxicação de fipronil, entretanto, a secretaria esclarece que não tem acesso aos laudos, pois a Seapdr não tem recursos para a realização, ficando a cargo do apicultor. Questionada sobre o que a pasta pretende fazer sobre as milhões de mortes registradas na Serra, a secretaria não respondeu para a reportagem.