CORREÇÃO: Serafina Corrêa e Vila Flores não registraram mortes de abelhas. A informação incorreta permaneceu publicada das 19h27min 12/12/2022 até as 14h37min de 13/12/2022.
O uso irregular de inseticidas em parreirais de uva na Serra gaúcha atingiu, pelo menos, 250 colmeias em Cotiporã e Veranópolis, matando milhões de abelhas. Os dados foram fornecidos pela Inspetoria Veterinária de Veranópolis e compreendem o período entre agosto e novembro deste ano. Há relatos de situações semelhantes em outros sete municípios da Serra.
Somente em Cotiporã, pelo menos 200 colmeias foram atingidas. Esse número teria provocado a morte de milhões de abelhas — uma colmeia pode abrigar de 35 mil a 80 mil abelhas. Segundo a Secretaria de Agricultura do município, amostras apontam que a mortandade teve origem no uso irregular de inseticidas à base de fipronil (substância de amplo espectro que danifica o sistema nervoso central do inseto) em videiras próximas das colmeias. Quando aplicado de forma incorreta, o produto faz com que o inseto se intoxique, volte para a colmeia e provoque a morte de todas as abelhas. Contudo, o instituto não apontou quais propriedades teriam usado o fipronil de forma irregular.
A partir das amostras, os apicultores registraram boletins de ocorrência. No momento, as polícias Civis de Cotiporã e Veranópolis investigam o caso, mas ressaltam a complexidade da identificar a origem do problema, que pode ser enquadrado como crime ambiental. Além destas cidades, a polícia de Flores da Cunha também investiga. Antônio Prado, Ipê, Monte Belo do Sul, Nova Prata, Nova Roma do Sul e São Valentim do Sul também aguardam confirmação da relação das mortes de abelhas com o fipronil.
— A identificação dos autores é bem complicada, pois há uma grande quantidade de produtores no município e a problemática ocorre em um período curto de tempo. De qualquer forma, estamos apurando — disse o delegado de Flores da Cunha, Rodrigo Duarte.
"Estavam todas mortas. Foi horrível"
Segundo a Emater, a morte das abelhas pode provocar danos para a produção de árvores frutíferas. Isso porque um número reduzido de abelhas resulta em uma menor polinização, o que prejudica o desenvolvimento das plantas. Apesar de ainda não haver um levantamento de prejuízos econômicos, esse é um reflexo negativo que os apicultores também irão enfrentar.
Exemplo disso é o produtor de mel e própolis para exportação Adair Zardo, de Cotiporã, que perdeu cerca de 170 colmeias por conta do inseticida. Ele desabafou sobre o choque ao perceber que havia perdido suas abelhas.
— Quando cheguei no apiário estavam todas mortas. Foi horrível. Nossa, eu nem recolhi nada. Só me sentei no meio do apiário e chorei, de verdade, foi pancada! Deixei tudo lá, voltei para casa e resolvi nem trabalhar mais naquela semana. Já tive que mudar, ter outro planos de outra coisa para fazer, pegar outro serviço. Muitos guris que mandam mel para mim, para exportação, já estavam falando em colocar os filhos na aula de violão, mas isso não vai mais acontecer — desabafou Zardo.
Para resolver os prejuízos causados, é necessário que as abelhas fortaleçam outras colmeias. No caso de Zardo, ele estima que levará em torno de cinco anos para recuperar as 170 colmeias perdidas.
— Vamos ter que fazer uma super limpeza nas caixas, porque ficam resíduos nessas colmeias que morrem, e se uma abelha entrar e se contaminar, outro enxame também vai acabar morrendo — disse.
Segundo o delegado Duarte, os produtores que aplicaram o inseticida de maneira incorreta podem ser enquadrados no Artigo 54 da Lei dos Crimes Ambientais, o que resultaria, em tese, de um a quatro anos de reclusão. Entretanto, caso o produto utilizado seja proibido no Brasil, o caso pode ser entendido como crime de contrabando, de acordo com o artigo 334-A do Código Penal — em casos assim, a pena é dois a cinco anos de reclusão.