Com a paralisação dos funcionários da Visate em Caxias do Sul, cerca de 95 mil pessoas foram prejudicadas. Sem os 200 ônibus que percorrem a cidade, os passageiros tiveram de procurar outras maneiras de chegar ao trabalho, escola ou demais compromissos na manhã desta terça-feira. Uma das cenas mais vistas nas paradas de ônibus no começo da manhã eram os olhos concentrados na tela do celular e dedos cruzados para que o valor da corrida pelo aplicativo reduzisse.
Sem os ônibus, o valor das corridas por aplicativo aumentou devido à quantidade de chamados que era bem maior para o horário. Os relatos dos passageiros eram os mesmo por volta das 7h: corridas que custam cerca de R$ 10 a 15 passavam dos R$ 50. A alternativa era esperar, voltar para casa, conseguir carona ou ir a pé. A situação provoca transtornos aos passageiros e aumenta a demanda para os motoristas de transporte por aplicativo e taxistas.
Entre 6h e 9h desta terça, a demanda por corridas dobrou em relação a dias típicos na cidade. O motorista Sedenir Freitas, 46 anos, trabalha há três com transporte por aplicativo. Ele sai de casa por volta das 4h, e nesta terça percebeu logo cedo o aumento do movimento.
— A hora que eu liguei o aplicativo já estava maior a demanda, porque muita gente está indo trabalhar. Às 5h, quando os primeiros ônibus saem, aumentou bastante. Quando aumenta muito a demanda de passageiros, no horário de pico, tem poucos motoristas ainda na rua e aumenta o valor para o passageiro.
Esse cálculo é feito pelo algoritmo da empresa.
— Eu faturei até agora o que eu faturaria o dia inteiro. Tudo por causa das corridas com valores mais altos — destaca Freitas.
Para a motorista Eliane Souza Drosdowskigrafe, 41, o começo da manhã também foi movimentado. Ela começou a trabalhar por volta das 7h30min.
— Em uma hora trabalhando eu já fiz o dobro do costumo fazer nos outros dias. De R$ 35 passei para 68. Aumentou bastante. Estava em uma corrida e já tinha outra esperando longe do ponto onde eu largava, então ficavam esperando e com dinâmica alta, porque não tinha carro suficiente na rua — explica a motorista.
Taxistas também perceberam aumento de corridas
O presidente do Sindicato dos Taxistas de Caxias do Sul, Adail Da Silva, ressalta que o movimento aumentou, especialmente, nos horários de pico.
— Das 6h às 9h, aumentou cerca de 50% os chamados para corridas, principalmente nos bairros com chamado pra ir buscar e pra trazer pro centro. Hoje foi ótimo o movimento e conseguimos atender a população — afirma Silva.
O diretor-financeiro da Cooperativa dos Motoristas de Táxi e da Rádio Táxi, José Carlos Borges Vieira, ressalta que a equipe se surpreendeu com a quantidade de chamados. Segundo ele, o movimento se intensificou por volta das 6h, quando as pessoas precisavam se deslocar, especialmente, para o trabalho.
— Nosso serviço aumentou em torno 30 a 40% e até teve alguns que a gente não teve como atender, porque a demanda foi muito grande. A demanda continua, mas agora com um volume um pouco menor do que essa hora, mas ainda continua — destaca Borges.
Ele acrescenta que perceberam que muitas corridas eram para os hospitais.
— A empresa pode esperar um pouquinho quando o funcionário atrasa um pouco, mas a área da saúde a gente tem sempre uma demanda muito grande quando acontece esse tipo de coisa. É um setor que exige mais o horário porque o paciente não pode esperar.
Os motoristas de táxi também relataram que perceberam aumento da demanda. Os da área Central foram acionados por clientes.
— Aqueles que já têm nosso contato nos acionaram, porque a maior demanda era do bairro para outros locais — ressalta Marcelo Bizotto, 41, que é taxista há 14 anos e atua no ponto da Dr. Montaury com a Júlio de Castilhos.
O relato é o mesmo de Celentino Lenair Souza Gomes, 64, e taxista há 10:
— Até às 9h já fiz 10 corridas a mais do que em um dia normal. Os clientes que tem meu contato me acionaram — ressalta ele que fica no ponto da Rodoviária.
Também havia passageiros fazendo sinais para táxis que circulavam pelos bairros.
— Fiz seis corridas fora do ponto com o pessoal me parando na rua para se deslocar — destaca José Alves, 69, que atua no ponto da Borges de Medeiros com a Júlio de Castilhos.
Vanzeiros transportaram passageiros
O presidente da Univans, Luiz Lima, o Tonicão, ressalta que as empresas de transporte não foram acionadas, mas depois de cumprir os itinerários dos fretamentos, os motoristas ajudaram os passageiros.
— As vans saíram pegando o pessoal nas paradas de ônibus e fizemos o trajeto da Visate, sem ônus nenhum, o pessoal dava o que queria. Levamos cerca de 50% das pessoas que estavam nas paradas e fomos atacados na rua também por quem estava indo a pé. Fizemos o possível para minimizar o sacrifício do trabalhador caxiense.
Lima também coloca as vans e micro-ônibus à disposição da prefeitura.
— É só nos procurar e fazer um acerto. Claro que não vamos suprir todo o serviço da Visate, mas alguma coisa conseguimos ajudar.
Por volta do meio-dia, já não havia mais movimento nas estações de passageiros Imigrante e Floresta. A situação era a mesma na área Central, parte do Santa Catarina, Pio X e Santa Lúcia, onde as paradas estavam vazias.