Funcionários da Visate, em Caxias do Sul, paralisam atividades na manhã desta terça-feira (8). Eles alegam que receberam 30% do salário em novembro. Nenhum ônibus saiu das garagens da empresa, que fica no bairro Esplanada, no início desta manhã. A Visate se manifestou dizendo que se reuniu com a prefeitura nesta semana pra falar sobre os problemas financeiros que a empresa está passando e que vinha negociando com os funcionários. O prefeito de Caxias, Adiló Didomenico, disse que a prefeitura foi pega de surpresa com essa paralisação dos funcionários e que "vai agir com rigor contra a empresa".
Mais de 200 funcionários estão em frente da empresa desde as 4h30min e não há previsão de liberação da passagem dos ônibus.
— Recebemos a notícia ontem (segunda-feira) de que os funcionários não receberiam o pagamento integral e somente 30%. Nos reunimos com a prefeitura para debater, já que a Visate disse que não tem recursos para pagar: ou paga salário ou paga combustível. O prefeito garantiu que vai repassar uma verba federal para a Visate entre hoje (terça) e amanhã (quarta) — diz o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Caxias, Tacimer Kulmann da Silva.
O repasse federal citado por Silva, mais de R$ 6 milhões destinados pelo Ministério do Desenvolvimento Regional, é para subsidiar as gratuidades dos usuários com mais de 65 anos, segundo o prefeito de Caxias do Sul. Ele deu entrevista nessa manhã ao Gaúcha Hoje da Gaúcha Serra (ouça a entrevista completa abaixo):
— Esse dinheiro não veio para pagar salários dos funcionários, isso é responsabilidade da empresa. Esse recurso, que ainda estamos providenciando o trâmite do repasse, assim como muitos outros municípios, é para subsidiar o passe livre dos idosos.
Adiló ainda disse que a prefeitura foi pega de surpresa com a paralisação dos funcionários e que o poder público vai tomar medidas contra a empresa:
— Vamos agir com muito rigor, isso que a empresa fez com a população não vai passar em branco. A comunidade de Caxias ficou na mão nessa manhã, não dá para admitir.
Gustavo Marques dos Santos, diretor da Visate, afirma que a empresa estava negociando com os funcionários:
— A gente lamenta a situação que está o transporte coletivo hoje. Os ônibus não saíram da garagem e isso prejudica um número enorme de pessoas. Jamais queríamos uma situação dessa. Não esperávamos do próprio sindicato uma atitude dessa. Fomos até o limite, até onde a gente conseguiu. Na reunião de segunda, junto com a prefeitura, colocamos que iríamos pagar 30% dos salários e, ao longo da semana, ia ser quitado o restante. Então vinha uma negociação. Não esperávamos essa paralisação que é muito ruim para todos: para a empresa, para o funcionário e para os nossos clientes, que são usuários do transporte coletivo.
Por volta das 9h30min, representantes da Visate e do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Caxias se reuniram na sede da empresa para negociar, porém não houve avanço.
— A empresa diz que, sem ajuda da prefeitura, não tem como pagar; nós, como funcionários, sem pagamento também não vamos trabalhar — advogado do Sindicato, João Batista.
Nas estações Imigrante e Floresta, muitos passageiros que dependem do transporte coletivo foram surpreendidos pela paralisação dos funcionários nesta manhã. Alguns concordam com a mobilização, mas questionam a falta de aviso prévio. Pelo menos 10 pessoas aguardavam por ônibus na frente da estação Imigrante pouco antes das 7h. Lá uma funcionária da Visate avisava aos passageiros que os ônibus não saíram da garagem.
Aline Polli, 36 anos, é professora e aguardava pelo transporte no início da manhã:
— Moro no Bela Vista e fui para a parada de ônibus bem cedo, como sempre faço. Como o ônibus não passou, achei que era algum atraso e chamei um carro pelo aplicativo para vir até a EPI. Vou ter que chamar outro para ir até o Charqueadas para trabalhar.
O metalúrgico Jordan Perucchin, 22, esperava o ônibus na Rua Luiz Michelon, no bairro Cruzeiro, por volta das 7h:
— Não sabia que não tinha ônibus. Vou ter que ir de transporte por aplicativo, o que não é comum. É um transtorno. Eu ainda posso fazer isso, mas muitos não têm condições e vão ter que se deslocar a pé.
Angelita Luiz Santana, 53, estava com a filha Tatiaia, 28, na parada do Imigrante, por volta das 7h30min. Elas saíram de casa às 6h50min, como fazem todos os dias, para trabalhar na área central de Caxias.
— Avisei a empresa que trabalho que não tem ônibus e não tenho como me deslocar porque está muito alto o valor dos transportes por aplicativo. A empresa vai mandar alguém me buscar — conta a axiliar de limpeza.
Enquanto aguardava, Tatiaia ficava conferindo o valor da corrida nos aplicativos:
— Meu chefe me orientou a esperar baixar o valor. Para o trajeto que preciso fazer, está custando, hoje, R$ 49 e 50,20. O normal é R$ 14. É um absurdo porque no dia que mais precisamos o valor está muito alto. Não tem condições. Vai saber até que horas vou esperar para conseguir ir trabalhar.
Ouça a entrevista completa com o prefeito Adiló Didomico: