Ao longo da campanha e depois do resultado do segundo turno, o governador reeleito Eduardo Leite (PSDB) declarou que a educação está entre os principais objetivos do segundo mandato. Em entrevista ao Pioneiro, no fim de setembro, inclusive, ele frisou que "(na primeira gestão) nós arrumamos a casa, com o ajuste das contas, e no segundo governo vamos arrumar a escola". Frase que reiterou em entrevistas e manifestações posteriores. A reiteração da promessa de campanha chega em um momento em que muitas instituições estaduais de Caxias do Sul vivem cenários delicados, com problemas estruturais que se arrastam há anos e com pouca perspectiva de soluções em curto prazo. A sensação é de que a esperança e a paciência da comunidade escolar estão próximas de se esgotar.
Em entrevista ao programa Atualidade da Rádio Gaúcha, após a reeleição, Leite argumentou que será necessário repensar as relações entre a Secretaria de Educação (Seduc) e a Secretaria de Obras, decidindo qual pasta ficará com a execução dos projetos.
— O que a gente vai precisar fazer é uma reestruturação administrativa entre Secretaria de Obras e Secretaria de Educação para termos estrutura técnica que dê mais agilidade na execução de obras. É onde o governo tem tido uma performance ruim. Quando o Estado não tinha dinheiro, esse problema ficou sem se revelar. Quando passamos a ter recursos para investir, percebemos que havia dificuldade para projetos nas escolas — explicou o governador reeleito.
A situação mais emblemática do sucateamento estrutural e que vai exigir bastante atenção do governo estadual está, justamente, em um dos principais símbolos educacionais de Caxias do Sul. O Instituto Cristóvão de Mendoza aguarda há mais de uma década por uma reforma geral. A promessa mais recente era de que em maio a instituição receberia obras emergenciais. Passados mais de cinco meses desse último prazo dado, as melhorias sequer iniciaram. Entre os problemas mais latentes, está a interdição do auditório, fechado desde 2013, a estrutura do ginásio e, mais recentemente, a precariedade de um muro, que exige atenção urgente, pois as pedras podem se soltar em direção à calçada e atingir pedestres.
— Tivemos a visita da secretária Raquel (secretária estadual da Educação, Raquel Teixeira) no dia 24 de outubro e ela trouxe um documento dizendo que tinha havido uma liberação de verbas para o auditório e o ginásio, que é onde começariam as obras, para depois se fazer a parte interna — conta a diretora do Cristóvão, Raquel Rojas Grazziotin, ressaltando que até então, contudo, não houve sinalização do início das melhorias.
Uma verba extraordinária, direcionada ao Instituto no fim do ano passado e aplicada ao longo dos últimos meses, ajudou a atenuar situações bem específicas, como a iluminação externa, com colocação de lâmpadas de LED nos 10 postes que ficam no entorno da escola, pintura de banheiros, revestimento de caixas d'água, reparos na parte hidraúlica, entre outras coisas.
Questionada sobre o futuro das sonhadas obras no Cristóvão e as promessas do governo que assumirá em 2023, Raquel se mostra otimista, embora mantenha cautela em sua fala:
— Por enquanto, tenho esperança. Só espero que seja esse ano (2023) e não em outro — prospecta.
Abaixo, a reportagem listou e atualizou casos emblemáticos de três escolas estaduais caxienses que esperam por obras há anos e que devem listar entre as prioridades do próximo governo.
Retrato do descaso, Cristóvão espera há anos por reforma geral
:: A reforma do Cristóvão de Mendoza é uma promessa desde 2012, quando foi incluída no Plano de Necessidades de Obras. Sem saírem do papel, as intervenções voltaram a ser uma promessa em 2016. Estudantes fizeram a ocupação do prédio durante uma mobilização nacional e a saída deles ficou condicionada ao início de obras, com conclusão em 2017. O acordo foi firmado com auxílio do Ministério Público. No entanto, mais uma vez, nada aconteceu e o prédio continuou se deteriorando. Em 2018, a licitação foi lançada. O processo licitatório acabou suspenso em 2019, antes da conclusão, por causa do decreto de contingenciamento de recursos do governo do Estado.
:: O auditório está interditado desde 2013 por problemas de adequação no Plano de Prevenção e Proteção Contra Incêndios (PPCI).
:: O ginásio, por sua vez, está em uso para algumas atividades, porém, com limitações. As tomadas, por exemplo, não funcionam. Banheiros e vestiários estão em situação bastante precária, com restos de materiais e sujeira, conforme a direção. Isto impossibilita, entre outras questões, o retorno de eventos tradicionais ao local, como os Jogos Escolares do Rio Grande do Sul (Jergs).
:: Muro na esquina da Avenida Júlio de Castilhos, com a Rua Professora Maria d'Ávila Pinto, está com risco de queda de parte da estrutura. A raiz de duas árvores está pressionando uma grande pedra, que pode cair em direção à calçada. A direção diz que já levou o caso para o setor responsável, solicitando a retirada das espécies que não são nativas e a reforma do muro.
Buraco em muro completa aniversário no Imigrante
Outro capítulo da novela envolvendo prédios escolares tem o Colégio Imigrante como protagonista. A instituição, localizada no bairro Bela Vista, espera há cerca de três anos por uma obra em um muro que faz a divisa com a Rua Professor Jeronimo Ferreira Porto. A diretora Simone Lorandi Comerlato relata que há cerca de um mês funcionários de uma empresa estiveram no local com madeiras para execução de um tapume. Contudo, não houve nenhuma evolução e a situação segue igual.
— Cada dia que eu vou lá tem uma pedra caindo. Daqui a pouco pode desmoronar, porque em cima do muro tem a quadra e, logo depois, tem o ginásio. É uma coisa muito preocupante — lamenta a diretora.
Simone explica que houve uma licitação para execução da obra. No entanto, a empresa vencedora analisou os custos e justificou que os preços estavam defasados, solicitando, então, o reequilíbrio do valor. Ela diz que esta situação se arrasta desde o ano passado, sem avanços.
— A educação nunca foi prioridade para ninguém (se referindo aos governantes ao longo dos anos). Eu não tenho esperanças, só vendo para crer mesmo e acredito que os professores todos estão na mesma — finaliza Simone.
Na Alexandre Zattera problema é em parte do telhado
A Escola Alexandre Zattera, no bairro Desvio Rizzo, foi tema de inúmeras reportagens nos últimos meses. Isto porque a instituição aguarda desde metade do ano passado por obras no telhado acima do saguão de entrada. A condição chegou a gerar a interdição do local, obrigando os estudantes a acessarem a escola em fila e pela sala dos professores, na lateral do prédio, e não mais pelo pátio.
A interdição do saguão foi retirada pouco antes das eleições, após um engenheiro da Secretaria Estadual da Educação (Seduc) vistoriar o local. Foram colocadas escoras e tapumes para que ninguém mexa nesses pontos. A medida, no entanto, gerou preocupação e não agradou aos pais.
— A situação do telhado em cima, é ainda mais grave, porque está todo solto. Quando vem vento, ficamos com medo. A hora que vir um temporal, pode voar tudo — avalia a diretora Marili Knebel.
Assim como o muro do Colégio Imigrante, o telhado da Alexandre Zattera esbarra na falta de interesse de empresas em executar a obra. A vencedora da licitação e responsável pelo conserto total do telhado desistiu da obra em 14 de junho, alegando aumento dos valores dos materiais de construção. Orçada em R$ 413.281,76, a obra já tem recurso liberado e deve passar por nova licitação. Os recursos usados para o escoramento do telhado, R$ 9,5 mil, foram provenientes da verba extraordinária.
O que diz a Seduc
A reportagem contatou a Secretaria Estadual da Educação (Seduc) para veficar a situação atualizada das pendências estruturais mencionadas na matéria. Abaixo, o retorno da pasta para cada uma das instituições.
:: Escola Alexandre Zattera: a situação do telhado está em fase final de revisão de projetos e o processo licitatório começa em até 15 dias.
:: Instituto Estadual de Educação Cristóvão de Mendoza: a reforma está em fase de projeto e está sendo revisada pela Secretaria de Obras e Habitação (SOP). Prazos não foram informados.
:: Colégio Imigrante: o processo, que tramita na SOP, encontra-se em fase de análise do pedido de reequilíbrio financeiro realizado pela empresa responsável. Assim como a situação do Cristóvão, não houve informação de prazo para início da obra no muro.