Trafegar pela BR-116, em Caxias do Sul, em horários de pico pode ser um desafio para quem tem horário a cumprir. Quando não precisa se espremer em trechos de pista simples com entroncamentos já saturados, o fluxo da área urbana acaba interrompido por uma série de semáforos posicionados em uma via que deveria ser expressa. O resultado são gargalos em que o tráfego se concentra o suficiente para aumentar consideravelmente o tempo de deslocamento.
Os horários de maior transtorno são entre 7h e 8h a partir dos bairros em direção ao centro, e no fim da tarde no sentido contrário. A autônoma Marilu Zimmer, 52 anos, está entre os motoristas que enfrentam lentidão na rodovia, o único caminho viável entre o loteamento Vêneto, próximo a Santa Corona, onde ela mora, e o centro. Para chegar às 7h30min ao trabalho, ela saía de casa por volta das 7h10min há dois anos. Agora, é preciso sair 6h45min para conseguir cumprir o trajeto a tempo. O principal gargalo, segundo ela, são as lombadas eletrônicas no entroncamento de acesso ao bairro Santos Dumont, ponto conhecido como trevo da Madal.
— A lombada é um redutor de velocidade, mas não resolve nada, porque o pessoal precisa parar para quem sai (do trevo) da Madal — observa.
No fim da tarde, a complicação no trecho entre a Avenida São Leopoldo e Santa Corona ocorre principalmente por veículos que precisam cruzar a pista para acessar o loteamento Pinhal, segundo Marilu.
— Perto das 17h, há muitos veículos que param na pista, no sentido centro-bairro, para entrar no bairro. É um caminho usado por pessoas de outros bairros também. Conheço muita gente que mora no Planalto ou no São Victor Cohab e passam por ali — aponta.
Congestionamentos, porém, não são exclusividade do trecho sul da rodovia federal. Os acessos aos bairros Cruzeiro e Planalto, por exemplo, são gargalos conhecidos dos motoristas. Já no acesso aos bairros Serrano e São Cristóvão, os congestionamentos em direção ao centro são comuns principalmente no início da manhã, e o tempo de deslocamento varia conforme o horário em que o motorista entra na fila.
— Da encruzilhada de Ana Rech até o posto de combustíveis (no São Cristóvão) tem dias que é 15 minutos de congestionamento. Se passar antes das 7h30min, dá 20 minutos — afirma o instalador Gustavo Mazzochi, 28 anos, que trabalha no bairro São Cristóvão e se desloca diariamente a partir da região de Fazenda Souza.
Já o empresário Douglas Klein, 30, circula diariamente entre o bairro Bela Vista, onde mora, e Ana Rech. Com frequência, ele acaba parado no trânsito da rodovia.
— O que percebo é que são as sinaleiras que trancam. Em outras cidades, como Porto Alegre, se dá fluxo para as rodovias. Tenho que pegar meu filho na escola às 17h30min, mas chego todos os dias às 18h30min — relata.
Semáforos contribuem para o problema
Entre o fim de agosto e o início de setembro, a alteração de um semáforo para pedestres no bairro São Cristóvão ajudou, ao menos em parte, a destravar o trânsito. O sinal, que antes fechava em ciclos programados, agora só fica vermelho quando o pedestre aciona um botão.
— Não fazia sentido funcionar de forma ininterrupta. Na madrugada não tem pedestre e tinha desobediência reiterada — avalia o chefe da 5ª Delegacia da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Jonatas Josué Nery.
A melhoria na fluidez do trânsito da BR-116 é um dos pontos que a PRF tem trabalhado com a prefeitura e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Ao órgão de fiscalização, contudo, cabe apenas as sugestões de quem conhece as características e o comportamento do trânsito da rodovia.
— Ela perdeu completamente as características de rodovia rural. A rodovia prevê fluidez e é tudo que não temos hoje. A BR-116 funciona como uma quarta perimetral. Temos debatido algumas melhorias, mas bem distante do que gostaríamos. Paliativos ajudam, mas em um ano vai ter que se falar novamente nesses assuntos — afirma.
Conforme o secretário de trânsito de Caxias, Alfonso Willembring, os semáforos na BR-116 são necessários, apesar do impacto no fluxo. Ele avalia que todo o trecho urbano da rodovia apresenta problemas.
— A região da Madal é um dos gargalos, mas o acesso a Ana Rech é mais grave ainda, e tem o acesso ao Planalto. Toda a região da Universidade de Caxias do Sul (UCS) até a Sinimbu também é muito conturbada — destaca.
Melhorias distantes
Conforme o engenheiro da unidade do Dnit em Vacaria, Daniel Bencke, há conversas e soluções apontadas para pontos de gargalo da BR-116. Até agora, no entanto, nenhum projeto está avançado o suficiente para ser colocado em prática.
— O que tem são projetos do município que eles querem que o Dnit execute, mas por enquanto não tem definição — afirma.
Entre as melhorias já previstas estão a conclusão da duplicação entre os bairros Planalto e Vila Verde, que esbarra na falta de recursos, e viadutos no acesso a Ana Rech e no entroncamento com a Perimetral Norte, em fase de projeto. Também há propostas de intervenções em outros cruzamentos, como na Rua Pedro Olavo Hoffman, na zona sul da cidade. Já o novo acesso ao bairro Planalto não tem prazo para ser licitado apesar de ter os trâmites adiantados. O motivo é a variação dos preços do asfalto, que tem reduzido o interesse de empresas nos certames.
— Temos atuado no sentido de dar andamento a obras já contratadas e trabalhar de outra forma os futuros projetos — revela.
Nova perimetral ainda é sonho
Projeto que poderia desviar a BR-116 da área urbana e aliviar de forma significativa os pontos de gargalo, o contorno rodoviário sul de Caxias ainda é um sonho para a região. Idealizado na década de 2000, o projeto prevê uma via de 27 quilômetros ligando a RS-122, nas proximidades do Campus 8 da Universidade de Caxias do Sul (UCS), até a Rota do Sol, passando pela BR-116.
Em 2010, a proposta chegou a ser gravada no Plano Diretor do município. Após ser encaminhado ao governo federal, o projeto também sofreu uma alteração de traçado, com a adição de uma ligação entre a Rota do Sol e a rodovia federal, em Parada Cristal. O plano já conta com um projeto básico, que prevê viadutos e túneis, mas faltam licenças e o projeto executivo.
Em abril deste ano, o município pediu ao Dnit a realização de um novo estudo do contorno rodoviário. Enquanto isso, a administração municipal tem trabalhando na titulação de áreas pelas quais a perimetral vai passar, para garantir que não sejam ocupadas.
— Onde estamos titulando está desocupado. É isso que nos permite avanços — afirma a secretária de Planejamento, Margarete Bender.