Sem encontrar um doador de medula compatível com a filha Brenda, de apenas três anos, diagnosticada com anemia aplástica severa, a dona de casa Ivanete Machado Vitosoafski, 27 anos, decidiu ter um novo bebê. Ele nascerá com a missão de salvar a irmã e devolver à família de São Marcos uma rotina mais leve. A primeira tentativa após a sugestão dos médicos deu certo: na semana passada, Ivanete e o esposo Juares Pinheiro, 34, descobriram que esperam pelo quarto filho do casal, uma gestação que exigirá um pré-natal em duas cidades e cuidados ainda mais redobrados.
A doença de Brenda, uma espécie de falência da medula, foi descoberta em abril após Ivanete notar o surgimento de manchas roxas pelo corpo da filha, além de febre quando a imunidade da menina reduzia. A anemia aplástica severa, segundo os médicos, é caracterizada por um funcionamento insuficiente da medula óssea e é considerada grave porque causa a substituição do tecido medular normal por tecido gorduroso, impedindo, desta forma, a formação adequada das células sanguíneas. Uma queda brusca, um alimento mal cozido ou um resfriado podem ser fatais para quem sofre com a doença.
Para estabilizar a doença, a menina precisa de um tratamento realizado à base de medicamentos, que custam cerca de R$ 5,7 mil, enquanto espera pela doação de medula óssea, único meio de cura. Os pais e os irmãos de Brenda, Djeniffer, 10, e Erik, 7, não são compatíveis. Uma campanha chegou a ser lançada para encontrar um doador, mas sem sucesso.
Durante uma das diversas consultas da filha mais nova no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, onde é atendida, Ivanete ouviu dos médicos que um novo bebê, filho do casal e, portanto, irmão de Brenda, permitiria que o material coletado do cordão umbilical no parto fosse utilizado para o transplante de medula que a caçula precisa para viver.
— Precisávamos de um doador porque era a única chance de cura da Brenda. Nossa família fez o teste da medula e ninguém era compatível. A doutora conversou comigo e pediu se eu não queria tentar ter um novo nenê para ajudar ela (Brenda). Fiquei um pouco indecisa, minha última gestação foi arriscada. Mas, se fosse da vontade de Deus e para ajudá-la, a gente ia tentar — relembra Ivanete.
Recentemente, e ao mesmo tempo em que cuidava de Brenda no hospital, em Porto Alegre, onde a pequena ficou internada durante três meses, Ivanete começou a sentir os primeiros enjoos. Achou que era algo que tinha comido e não tinha feito bem para o estômago, até porque a rotina da família mudou desde que a criança foi diagnosticada com a doença. Fez dois testes para detectar a gravidez, que deram negativo. No terceiro enjoo, foi levada pelos médicos para fazer um exame de ultrassom, que indicou a gravidez de oito semanas:
— Os médicos ficaram muito contentes porque sabiam que é uma chance de ajudar a Brenda. Sinto uma mistura de alegria, medo, esperança. Só pedimos a Deus para que (o bebê) venha com saúde, ajude a Brenda a ficar bem, ter uma vida melhor e que também seja muito feliz.
Assim que o novo bebê do casal nascer, os médicos vão coletar as células contidas no cordão umbilical logo após o parto e transplantá-las para Brenda imediatamente. Para que tudo ocorra bem, Ivanete precisa completar 36 semanas de gestação. Devido aos cuidados redobrados, a rotina de consultas aumentará nos próximos meses e o pré-natal será acompanhado em São Marcos, nas segundas-feiras, e também às quintas-feiras, em Porto Alegre.
— Os médicos precisam acompanhar o nenê de agora até o dia dele nascer. É toda uma equipe especializada que vai fazer esse procedimento, me orientaram muito bem sobre tudo que vai acontecer — diz.
Desde que descobriram a doença da filha, Ivanete e Juares ficaram sem trabalhar e sobrevivem com a ajuda de amigos e familiares. Pagam aluguel e precisam de recursos para o deslocamento até Porto Alegre. Eles lançaram uma vakinha virtual que arrecada dinheiro para o custeio dessas despesas e também para o medicamento que Brenda precisa tomar.
— Ela está fazendo o mesmo tratamento que fazia no hospital em casa para manter as defesas do sangue estável. Uma vez por semana ela precisa receber transfusão de plaquetas e sangue, pois como a medula não produz (plaquetas), ela precisa repor. Nossa dedicação é para ela, cuidando para não cair, na alimentação, não pegar um resfriado — explica a mãe.
Como ajudar a família
Para arrecadar recursos para manter o tratamento da pequena e ajudar nos gastos com deslocamentos, fraldas e outros recursos básicos, a família criou uma vakinha virtual. As doações também podem ser feitas por PIX:
Chave CPF 027.722.760-74 (Ivanete Machado Vitosoafski)
Chave CPF 019.765.530-08 (Juares Pinheiro)
O que é aplasia aplástica severa:
:: A medula óssea produz todo o sangue que circula no organismo.
:: Ela deixa de fabricar ou produz em menor quantidade seus três componentes básicos: glóbulos brancos (defesa do organismo), vermelhos (responsáveis pelo desempenho físico) e as plaquetas (evita hemorragias).
:: A incidência da doença gira entre dois a seis casos por milhão de habitante por ano no mundo.
:: Os mecanismos que a desencadeiam são pouco conhecidos. Alterações genéticas, ação autoimune (quando o organismo é atacado por ele mesmo) ou alterações modificando o microambiente da medula óssea são algumas das suposições.