Os representantes dos hospitais da Serra vão realizar uma reunião online nesta sexta-feira (19). O encontro mensal geralmente é presencial, mas devido a compromissos de alguns dos representantes será por videoconferência. Uma das pautas será o anúncio do Hospital Pompéia de fechar o setor materno infantil em Caxias do Sul. Atualmente, são realizados 150 partos por mês no Pompéia, sendo que 95% deles de pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). O anúncio do encerramento das atividades para pacientes do SUS e para atendimentos privados foi feito pelo hospital na terça-feira (16), com prazo previsto para novembro, mesmo que o contrato da instituição com a prefeitura se encerre em 30 de setembro.
Em entrevista à Radio Gaúcha Serra na manhã desta quinta-feira (18), a secretária de Saúde de Caxias do Sul, Daniele Meneguzzi, declarou que os hospitais de Caxias e da região não tinham como absorver a demanda com o encerramento das atividades no Pompéia, que atende Caxias e mais 48 municípios.
A reportagem contatou cinco hospitais de Caxias e cidades vizinhas que têm setor materno-infantil e dois deles sinalizaram que não pretendem assumir os atendimentos. Outros dois disseram que não vão se manifestar neste momento. Contudo, o Hospital do Círculo afirmou que avalia a possibilidade.
Por meio de nota, a diretora de Operações de Saúde da instituição, Isabel Cristina de Souza, referiu que o hospital já é referência para o atendimento em materno-infantil na cidade e região, que conta com estrutura completa para atender da baixa à alta complexidade. "Sendo o Círculo uma associação que presta serviços em gratuidade através de acordos de cooperação com as secretarias de saúde da região, certamente, estará aberto a analisar possibilidades e apoiar a comunidade na retaguarda de atendimento da especialidade. Entretanto, será necessário avaliar necessidades e demanda existente x (versus) estrutura disponível para não comprometer o atendimento dos clientes no geral", informou em nota.
Tanto o Hospital Tacchini de Bento Gonçalves, quanto o Hospital da Unimed de Caxias do Sul, descartam absorver essa demanda. Por meio da assessoria de imprensa, o presidente da Unimed Nordeste-RS, Ronaldo Mattia, afirmou que a instituição está organizada para atender a demanda das clientes do plano de saúde: "A Unimed Nordeste-RS deseja que o município e Hospital Pompéia cheguem a uma solução que não traga indisponibilidade de atendimentos. O Complexo Hospitalar Unimed tem como atender a demanda de todas as clientes da Unimed que seriam atendidas no Pompéia. Não será necessária ampliação das instalações da Unidade Materno-Infantil do Complexo Hospitalar Unimed Nordeste-RS. Nossa Maternidade, há pouco tempo inaugurada, tem capacidade para acolher e atender as nossas beneficiárias."
O Hospital Tacchini também afirma que não tem intenção de absorver a demanda desse setor do Pompéia e, por nota encaminhada pela assessoria, o superintendente do Tacchini Sistema de Saúde, Hilton Mancio, afirma que com base da análise da defasagem de valores dos serviços ligados ao Centro Obstétrico SUS, a decisão do Pompéia faz todo sentido: "Seguramente a decisão do Pompéia foi tomada pensando na continuidade de uma instituição centenária. Qualquer gestor hospitalar entende essa atitude. Esse foi, provavelmente, o último recurso pensado pelo hospital."
O texto refere ainda que "de janeiro a julho deste ano, o déficit médio mensal dos serviços ligados à maternidade SUS no Hospital Tacchini é de R$ 995.482,71 (incluindo Centro Obstétrico, Unidade de Internação Pediátrica, UTI Neonatal, UTI Pediátrica e Banco de Leite Humano). Isso significa dizer que a estimativa de déficit até o final do ano é de R$ 11.945.792,52. Segundo o Tacchini, os valores somam também as receitas privadas. Ou seja, se fossem considerados apenas os serviços SUS, o déficit seria ainda maior. De acordo com o hospital, no Centro Obstétrico, por exemplo, são 60,6% de atendimentos públicos; ou seja, mesmo com a receita gerada pelos 39,4% de recursos privados, o déficit registrado até o momento é de R$ 252.639,90 por mês em 2022. A nota diz ainda que "apesar de todos os esforços dos hospitais para cobrir a defasagem de 18 anos na tabela de serviços, não temos mais alternativas financeiras para viabilizar serviços. Isso sem levarmos em conta o novo piso da enfermagem, que segue sendo discutido no Superior Tribunal Federal. E assim como a maternidade, temos incontáveis outros exemplos de defasagem da tabela SUS. A remuneração de uma consulta simples é de apenas R$ 10."
A reportagem também contatou o Hospital São Carlos, de Farroupilha, e o Hospital Geral, de Caxias. A superintendente-geral do São Carlos, Janete Toigo D´Agostini, e o diretor do HG, Sandro Junqueira, não quiseram se manifestar sobre o assunto.