Não há espectador maior de histórias do que as paredes. Passa o tempo, pessoas vão e vêm, e elas seguem lá, guardando os antigos e pronta para novos acontecimentos. Muito há ser compartilhado. E foram justamente as paredes e a estrutura da antiga Metalúrgica Abramo Eberle (Maesa) que atraíram centenas de caxienses neste domingo (21) ensolarado. A terceira edição da Feira Maesa Cultural e da visita guiada ao prédio da antiga metalúrgica foi a maior desde então: 460 pessoas realizaram a visita guiada no local, segundo a Secretaria Municipal da Cultura de Caxias do Sul.
Gratuita, aberta ao público geral, a visita, que dura 30 minutos, une os que desconhecem tudo que aconteceu dentro do complexo e os que conheceram de perto, trabalhando no local, ou que em algum momento tiveram a oportunidade de conhecer a estrutura. Famílias que aproveitam o domingo para fazer novas memórias, aproveitando a temperatura amena, amigos. Há até quem aproveita a caminhada com o cachorro para conhecer o local.
O engenheiro Vinícius Lazzari, 35 anos, estava empolgado antes da visita com a sua turma começar. Para ele, a ideia de um Mercado Público ser instalado na antiga Maesa agregará muito na cultura, no lazer e na gastronomia caxiense. Ao lado da companheira e professora do município, Patrícia Castilhos, 41, e das pequenas Livia Bazzi, 10, e Eloá Lazzari, quatro, o programa em família deste domingo era visitar a história de Caxias do Sul.
— Eu vim quando ainda funcionava como metalúrgica, fiz uma visita técnica aqui. Alguns lugares já estou recordando. A gente fica feliz que o pessoal está retomando as atividades nele, porque realmente é bem frustrante ver tudo parado, era uma empresa muito movimentada, então agora com essa revitalização vai ficar muito legal — diz Lazzari.
Diferente do marido, Patrícia não conhecia a Maesa por dentro, e concorda com a importância da revitalização:
— Acho que é muito importante a gente retomar esses prédios e revitalizá-los porque é um espaço no meio da cidade, que pode comportar tanta coisa interessante. Cultura, gastronomia, artesanato e vai ser mais uma opção para virmos aos domingos, nos finais de semana e até nos dias de semana — afirma a professora municipal.
Outra família que também aproveitou a visita guiada das 16h foi a do engenheiro Márcio Custódio de Oliveira, 58. Ele fez o passeio com a esposa, a professora Elenir Bessegato, 55 anos, e os filhos Daniel, 15, e Júlia, 19.
— Caxias é uma cidade grande e faltam espaços, ainda mais na área central, sei que aqui tem duas praças. Fazendo um bom projeto acredito que possa render bons frutos aqui — opina Oliveira.
E Elenir acrescenta:
— Deixar destruir um espaço desse é um desperdício até para a própria cultura da cidade — pontua.
Um momento de nostalgia
De praxe, logo que a visita começou, quando foi questionado se havia alguém na turma que trabalhou no local, o engenheiro aposentado, Walter Cruz, 65, levantou a mão. Ele acompanhou atento cada local visitado e tentou mostrar aos filhos a sala onde trabalhou por 28 anos, entretanto, o local não tem autorização de visitação pelos riscos apresentados pela estrutura. Sem entrar no prédio desde 1998, o rosto de Cruz entregava o filme que passava em sua cabeça.
— Pena que não dá para ir lá (na sala), queria mostrar para os meus filhos onde era a sala. Era no prédio administrativo, onde todos os engenheiros e gerentes ficavam ali. Nunca mais tinha voltado aqui, entrado, então é um negócio meio nostálgico, mas muito interessante. Eu achei que as instalações estivessem em pior situação, dá para ver que o pior é o telhado, mas essas estruturas, pela forma que foram feitas, vai passar 200 anos e continuarão de pé — analisa Cruz, com base nas memórias e na técnica.
E finaliza:
— Isso aqui é um espaço sensacional no meio de Caxias do Sul. Que pode ser muito bem aproveitado, claro que a necessidade de investimento é grande, porque o prédio precisa ser muito bem preparado. A gente olha o que está acontecendo ali na frente (a feira na Rua Plácido de Castro), imagina aqui dentro. É um espaço maravilhoso. Nós, cinco gerentes da fábrica, compramos 10 patos, cada um tinha 20% das ações. Nunca mais vi os patos — brinca Cruz.