Trabalhadores faziam nesta sexta-feira (24) os últimos ajustes no prédio da Mitra Diocesana, no centro de Caxias do Sul, para o recebimento, no sábado (25), da quinta edição da Hospedagem Solidária. Após duas sedes emergenciais na temporada de 2022, a ação social receberá o acolhimento da Catedral, que cede dois andares do edifício, onde ficava o Cursão, na Rua Os 18 do Forte, para o funcionamento do programa. Nele, pessoas em situação de rua receberão alimentação e um lugar para poder dormir nas noites de inverno. Com o novo espaço, o projeto poderá também oferecer lazer e momentos de espiritualidade para os acolhidos.
— Nós não podemos, mesmo diante das dificuldades, virar as costas para quem vive na rua. Seria uma falta de caridade muito grande e falta de amor e sensibilidade à realidade do ser humano, que está mais fragilizado. Nós não podemos tratar como animais ou como se não fizessem parte da sociedade. Às vezes, a gente não quer ver o lado frágil da sociedade que está ali, ou prefere ignorar. Temos, sim, que olhar e agir para que outros não caiam na mesma situação — afirmou o bispo de Caxias, dom José Gislon.
O atendimento começa no térreo do prédio, onde ficará uma recepção. Ali, os acolhidos informam dados pessoais e são cadastrados. Depois, no terceiro andar, há uma sala em que as pessoas deixam os pertences e recebem itens que chegam a partir de doações, como vestuários. No mesmo andar, em outra sala com três grandes mesas, fica a cozinha e onde serão feitas as refeições, montadas a partir de doações. Voluntários farão o café da manhã e o jantar. A recepção dos acolhidos deve ocorrer entre 19h30min e 20h30min.
— Costumam dizer que fazer caridade atrai mais pobres. Mas, em todos os países do mundo, existem pessoas em situação de rua. Nossa realidade não é diferente. Caxias é uma cidade que superou os 500 mil habitantes, é um polo industrial que atrai muitas pessoas. São pessoas que estão na rua, estão em condições de fragilidade e às vezes em condições sub-humanas. É a solidariedade e a caridade que vai aliviar a dor de quem está passando por privações e provações — reflete o bispo.
No terceiro andar, também há uma sala com televisão para lazer e momentos de reflexão e espiritualidade. Neste sábado (25), inclusive, o grupo será recebido com uma atividade comemorativa de São João. Depois, no quarto piso, há cinco quartos em que os colchões serão colocados para os acolhidos. Por enquanto, o espaço não oferecerá banhos por questões de estrutura. Mas, as pessoas em situação de rua podem conseguir esse auxílio no Centro Pop Rua.
A expectativa é que o prédio da Mitra continue recebendo cerca de 60 pessoas, como ocorreu no salão paroquial do bairro Sagrada Família e na catequese de Nossa Senhora de Lourdes.
— Sabemos que pode chegar até 100, às vezes. Percebemos durante o ano passado, nas noites mais frias, que o número aumentou bastante. Podemos ter um pico de frio e o número aumentar. Sempre temos os colchões reservas, para que as pessoas não fiquem na rua. É igual coração de mãe, sempre tem espaço para mais um quando se faz necessário — conta dom José Gislon.
O prédio da Mitra também se torna moradia dos freis da Fraternidade O Caminho, que auxilia na Hospedagem Solidária e já se mudou para o espaço. O projeto tem ainda ajuda de um grupo que conta com cerca de 300 voluntários e da ONG Médicos do Mundo.
Mais do que uma acolhida
O frei Pietro de São Damião garante que há apenas regras de boa convivência que devem ser seguidas entre os acolhidos. Não há critérios que proíbam pessoas em situação de rua de procurarem ajuda. Atualmente, a estrutura apenas não permite que se fume e não há espaço para abrigar os bichos de estimação dos acolhidos.
Para o frei e os envolvidos no projeto, os voluntários são fundamentais para a Hospedagem Solidária acontecer. Doações e mais pessoas que queiram participar da ação são sempre bem-vindas.
— Nós contamos com os voluntários, que fazem café da manhã, janta, ajudam na limpeza, na organização, vão atrás de providências e doações. Contamos com uma rede de pessoas de coração generoso e solidário que querem ajudar e se tornam nossas mãos e braços — reconhece o frei.
A Hospedagem Solidária aceita doações de cobertores, agasalhos, produtos de higiene, entre outros itens e acessórios. Além disso, os caxienses podem se voluntariar para ajudar no projeto, seja na cozinha ou na organização.
— O que para nós é muito claro: não basta darmos coisas, alimentos, um lugar. O mais importante, como igreja, é dar um local de acolhida, onde eles se sintam amados — destaca o frei Pietro.
A Hospedagem Solidária nasceu da ação da Pastoral das Pessoas de Situação de Rua, que levava alimentos, cobertores e agasalhos para os moradores de rua. O grupo percebeu que isto não era o suficiente, então iniciou o projeto voltado para o acolhimento e, hoje, tem o suporte dos voluntários e da Igreja Católica.
— Quem sai ganhando e quem cresce são os voluntários. Desde a primeira vez que chegam, estabelecemos um vínculo. Não é um trabalho, é uma convivência. E isso tudo faz com que eles tenham força para sair da situação. Não é um assistencialismo. O que a gente quer é que eles encontrem uma força interior — declara a coordenadora do projeto, Tere Mandelli.
Plano é ter um espaço fixo no futuro
O prédio da Mitra será usado até o fim da temporada de 2022, em setembro. Nesta edição, o plano inicial era usar a estrutura do Salão Paroquial de São Vicente. Com reação negativa da comunidade, a Hospedagem Solidária precisou encontrar o novo espaço para a ação continuar neste ano.
— Foi um ato de generosidade e disponibilidade do dom José. Ele estava acompanhando todo o processo de migração e peregrinação nas paróquias. Ele viu o local como ideal, um espaço central onde é mais fácil o acolhimento. Ele, de forma muito calorosa nos acolheu — agradece o frei Pietro.
Para o futuro, a intenção é ter um lugar fixo, para que o projeto seja realizado durante o ano inteiro. Se a oportunidade surgir, a ação que traz o acolhimento poderia se tornar "definitiva".
— Precisaríamos de um espaço mais amplo, onde estaria vinculado num mesmo nível a moradia dos freis e o contexto do acolhimento, do refeitório e de ter todo o espaço em uma realidade diferenciada. Rezamos e pedimos a Deus para que a soma do olhar para uma causa comum dê forças e recursos para pensarmos e termos um outro lugar — explica o bispo dom José Gislon.
Como doar ou ser voluntário
:: Doações de roupas masculinas, meias, chinelos, cobertores, lençóis e também de alimentos não perecíveis podem ser entregues no prédio da Mitra, na Rua Os Dezoito do Forte, 1771, em frente ao Colégio La Salle Carmo.
:: Quem quiser se voluntariar, pode entrar em contato com a Fraternidade O Caminho, no telefone (54) 99981-9190, que possui WhatsApp.